Nossos móveis eram retirados daquele enorme caminhão de mudanças e esparramados pelo quintal, aqueles homens que via pela primeira vez se espalhavam pelos cômodos, colocando os itens em seus devidos lugares, de acordo com as ordens da minha mãe. Observava toda aquela movimentação pela porta e janela do meu novo quarto, e pensava comigo mesmo o quanto sentia falta da minha antiga cidade, minha antiga casa, meu antigo quarto, que agora tinha sido deixado para trás.
Semanas atrás, eu e Adrian, havíamos sido surpreendidos pela felicidade contagiante de nossa mãe que invadia qualquer buraco minúsculo existente na casa, devido a uma promoção no trabalho, tudo parecia correr bem até que notamos seu humor mudar de felicidade extrema para nervosismo. Logo notamos que havia algo amais a ser dito, e foi assim que nós e nossa mobília fomos transportados para aquele lugar.
Um bairro de classe média, onde você não veria pessoas transportando seus jet–skis pelas ruas, indo em direção a suas casas de praia; mas também não ouviria alguém dizendo que há necessidades de cortar gastos aquele mês. Uma vizinhança de casas praticamente iguais, e um conflito silencioso de quem tem a grama mais verde e bem cortada. Questionamos nossa mãe sobre o local quando ela disse que havia encontrado a casa perfeita, mas aparentemente seu novo salário conseguiria lidar tranquilamente com a nossa nova vida.
Pela minha janela podia ver parte daquela vizinhança calma, até demais, uma criança brincava num quintal vizinho com um homem adulto, dois caras carregavam nosso sofá, andando por cima daquele caminho de concreto que ligava a calçada a casa. Grama verde, e algumas flores. Dei mais uma olhada naquilo que seria meu novo quarto, aquele grande espaço branco com caixas espalhadas pelo chão. Não estava animado com a ideia de lidar com elas, e pensava na possibilidade de passar a vida ali naquele lugar com as minhas coisas guardadas em caixas de papelão.
Nomeei cada uma delas com uma caneta preta enquanto as enchias com objetos e roupas, o que facilitaria abrir apenas aquelas que fossem necessárias. Poderia encostar elas nos cantos das paredes, e deixar meus móveis no meio do quarto, assim não correria o risco de me deparar com elas pelo chão quando levantasse a noite para ir tomar água.
– Já pode começar a desencaixotar tudo. Temos muitas coisas para fazer ainda. Adrian já está desencaixotando suas coisas? – Minha mãe andava e gritava pelos corredores, levando consigo as minhas chances de evitar lidar com a acumulada quantidade de caixas de papelão naquele quarto.
– Droga... – Sussurrei.
Me sentei no chão e comecei aquela tarefa tediosa e cansativa...
Horas depois estávamos nós três sentados na mesa da cozinha comendo pizza que havíamos pedido de um lugar da lista telefônica, ainda haviam várias caixas fechadas, inclusive minhas. Mas nosso animo já tinha se esgotado, pelo menos o meu e do meu irmão, minha mãe se mantinha animada a todo tempo, era óbvio o quanto ela estava feliz por estar ali. E eu estava feliz por ela, depois de todas as problemáticas que teve que enfrentar por minha causa, me sentia na obrigação de fazer com que tudo se saísse bem dessa vez.
Novamente em meu quarto eu me preparava para ir tomar, finalmente, um banho, quando uma mulher simpática e animada bate em minha porta.
– Invadindo seu espaço... – Minha mãe disse sorrindo entrando em meu quarto.
– Oi, mãe. – Lhe sorri de volta.
– Então... gostou da nova casa? – Ela com certeza não perguntou isso ao meu irmão.
– Sim, é bem bonita.
– Amanhã você vai começar na escola nova, e eu sei que por estarmos um pouco atrasados no ano letivo, e os outros meninos estarem enturmados, as coisas podem ser difíceis no começo, mas...
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BABY, ME CHAME DE MESTRE
RomanceAlec Sutcliff é um típico garoto do ensino médio, tomado por inseguranças e traumas advindos do passado, que acabará de se mudar para uma nova cidade. Durante uma noite, voltando de um encontro com seus novos amigos, Alec é abordado por um desconhec...