-EPÍLOGO-

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Um grupo de crianças brincava com uma mangueira no jardim da casa da frente, tentando molhar umas às outras; o carteiro passou rapidamente de bicicleta, sem deixar qualquer carta para trás; uma grande nuvem escura se aproximava da vizinhança, repousando sobre nossas cabeças pronta para entornar aquela imensidão de água que trazia consigo.

– Vamos? – Meu irmão perguntou ao entrar em meu quarto.

– Vamos.

Descemos a escadaria em direção a garagem, Pongo nos seguia, tanto minha mãe quanto Adrian não gostaram da ideia de eu leva-lo para morar conosco, por acreditarem que ele funcionava como uma lembrança de uma parte ruim da minha vida. A verdade é que eles odiavam a ideia de eu ainda ter um presente de Sebastian. Mas nada foi pior para eles que a casa que Sebastian havia deixado para mim, a mesma que tínhamos morado juntos por tantos meses. Em um testamento ele alegou que todos os seus bens deveriam ser deixados para mim, incluindo três outros imóveis, carro, dinheiro e investimentos. Foi uma grande surpresa para mim. Aparentemente na mesma semana que declarei o meu amor por ele, o testamento foi feito. Acredito que ele sempre pensou na possibilidade de morrer por minha causa. Então de um dia para o outro me tornei um herdeiro.

Adrian e minha mãe vinham isso como uma provocação, uma maneira dele se manter em minha vida mesmo após ter se matado. Mas a verdade é que eu poderia queimar tudo aquilo que fosse de Sebastian, e ele sempre estaria ali em meus pensamentos, como uma lembrança problemática e complexa que me levava de volta para a realidade que vivenciamos juntos.

Naquela noite que ele me deixou, caminhei descalço até a casa de Margareth, apertei sua campanha e ela me atendeu sorridente, parecia estar com visitas, que riam alegremente em sua sala de estar.

– Angel! – Seu sorriso se desmanchou após ela ver minhas lagrimas e meus pés e minhas roupas sujos de sangue, o sangue daquele que ainda estava deitado na banheira de mármore daquela casa. – Meu Deus! O que aconteceu? – Me puxou para dentro, me colocou sentado em seu sofá. Na sua sala haviam em torno de oito pessoas que me encaravam incrédulas e preocupadas.

– Me chamo Alec Sutcliff. Você poderia ligar para minha mãe, por favor?

Então logo o quintal de Margareth estava repleto de curiosos e policiais.

– Você ainda tem ido naquela casa? – Dra. Russel me perguntou, enquanto eu beliscava seu divã. Minha mãe fez questão que eu continuasse a ser atendido por ela, mesmo que morássemos longe agora. Sendo assim meu irmão ficou com a responsabilidade de dirigir duas vezes na semana para me levar, o que eu gostava muito, por ter a chance de poder rever Emma e Patrick.

– Sim.

– Sem seu irmão e sua mãe terem conhecimento a respeito disso, imagino.

– Sim. Eles não sabem sobre minhas idas lá. Minha mãe diz que isso só irá me causar ainda mais mal, mas... ainda não consigo dizer adeus. Além disso, aquela casa é minha agora.

– Então você não pretende vende-la como sua mãe sugeriu?

– Não posso fazer isso, ainda é como se fosse a prova de que tudo aquilo realmente tenha acontecido.

Sorrateiramente costumava fugir durante a noite do meu quarto, enquanto pensavam que eu estava dormindo profundamente em minha cama. Chamava algum motorista de algum aplicativo na esquina da rua, utilizando a grande quantidade de dinheiro que Sebastian havia me deixado em seu testamento, e então ia até aquela casa branca. Destrancava sua grande porta e andava pelos cômodos, relembrando das coisas que vivi ali. Como quando assistia filmes com Sebastian naquele sofá da sala; quando Pongo roubou um dos meus sapatos e tive que correr atrás dele escadaria abaixo enquanto Sebastian ria arrumando sua gravata; quando jantávamos naquela enorme mesa; quando dormíamos sobre aqueles lençóis da cama, minha cabeça sobre seu peito nu, enquanto ele acariciava minha cabeça. E então eu deitava sobre aquela cama que um dia foi de nós dois, e apertava seu travesseiro contra meu corpo, sentindo falta de sua presença ao meu lado. Ou então revirava suas roupas e perfumes, sentindo seu aroma.

BABY, ME CHAME DE MESTREOnde histórias criam vida. Descubra agora