-2- UM ESTRANHO ATRÁS DA PORTA

2.2K 155 37
                                    

Uma enorme luz branca me cegava todas vezes que eu tentava abrir meus olhos, era tão incandescente e dominante que me perguntava se havia por um acaso vindo a óbito enquanto dormia em meu quarto. Me perguntei se era aquela imagem que todos viam após seu último suspiro em vida, e se agora estava tendo o privilégio de finalmente vê-la. A luz foi se tornando menor à medida que eu piscava, ela não parecia mais tão poderosa assim, passou de uma enorme bola de luz para algo que devia ter o tamanho de um simples melão. Aquela não era uma luz celestial, era uma mísera lâmpada.

Me levantei num sobressalto, olhando em minha volta, e então tive a absoluta certeza que realmente não estava em algum tipo de paraíso divino, mas sim em um quarto qualquer. Não, não era um quarto qualquer. Um quarto qualquer possuí cama, escrivaninha, talvez uma estante de livros, um guarda–roupa, um grande tapete no chão, janelas, e talvez oito gatos da sorte com mãozinhas em movimento frenético.

Aquele lugar não tinha nada disso, apenas uma pequena mesa com duas cadeiras, todas pretas, um vaso de flores branco no meio dela, com três rosas vermelhas; as paredes não eram pintadas, eram de concreto, e pareciam ser extremamente firmes, em uma delas havia um duto de ventilação; uma porta preta enorme de ferro que parecia fixamente trancada; e uma outra porta azul em frente a ela, que aparentava ser mais frágil; um colchão coberto com um lençol branco, abaixo de mim, no qual eu estava sentado, e um travesseiro de mesma cor em sua ponta. Mas nada ali me chamou mais atenção que as grossas correntes que haviam em volta de minha perna direita, selada com um cadeado. A minha primeira reação ao vê-las foi tentar me livrar delas, algo completamente inútil, mesmo com toda a força que coloquei em minhas estupidas mãos.

Me lembro de quando era criança e vi um filme de idade média com meu irmão em seu quarto, e me recordo de ter visto pela primeira vez um local chamado "calabouço", sendo basicamente o lugar mais baixo de um castelo, usado normalmente para guardar coisas, ou aprisionar pessoas. Essas pessoas apareciam presas em uma grande e grossa corrente preta, e tentavam constantemente se libertar delas, um trabalho praticamente impossível. E assim elas ficavam lá presas até sua morte, naquele ambiente escuro e empoeirado, enquanto sua carne definhava, restando apenas cabelos e ossos.

Aquilo não era realmente o tipo de pensamento que devia estar tendo naquela situação. Mas era quase inevitável não pensar o pior. Comecei a rebobinar minhas lembranças, tentando encontrar elementos que me dessem respostas.

Como havia parado ali?

Feito um sopro em minha mente as lembranças foram surgindo... A música tocando baixa em meus fones, o homem logo atrás de mim, o cheiro, seu corpo pesado sobre o meu, sua camisa, seus óculos caindo no chão quando ele se jogou sobre mim, o barulho da nossa queda no chão, meus braços tentando me tirar daquela situação, minhas pernas se movimentando rapidamente, mas sendo paralisadas pelas dele, e então... a escuridão.

A minha segunda reação foi correr até as portas e tentar abri-las, a porta azul se abriu com facilidade era um simples banheiro sem janela, apenas com outro duto de ventilação, a outra porta, grande e preta, parecia que não se mexeria nem mesmo se eu a atropelasse com um carro em alta velocidade, se mantinha firme em seu lugar, não se movendo se quer um centímetro com toda a minha força sendo colocada nela. Observei o duto de ventilação no quarto mais uma vez, o tamanho da corrente permitiria que eu chegasse até ele. Peguei a mesa que havia no quarto, derrubando as flores e o jarro de plástico no chão, a apoiei abaixo do duto de ventilação e subi sobre ela, não conseguia alcançar direito o duto. Peguei uma das duas pequenas cadeiras que havia ali também e a coloquei em cima da mesa, aumentando sua altura. Subi.

Dentro do duto havia uma completa escuridão, tirando qualquer possibilidade de conseguir ver algo ali. Mas ele ainda poderia ser útil para mim, minha visão não passaria pelo seu corpo oco, mas minha voz com certeza sim. Comecei a gritar o mais alto possível dentro dele.

BABY, ME CHAME DE MESTREOnde histórias criam vida. Descubra agora