BABY, ME CHAME DE MESTRE

-26- OS ESTRANHOS

Gaston Glock nasceu em 1929, em Viena, Áustria; em 1958 se casou com Helga Clock, talvez um casamento pomposo ou simplesmente algo mais tradicional e voltado para seus familiares e amigos. Durante a década de 60, Gaston abriu uma empresa familiar, voltada para a produção de hastes de cortinas e facas para militares austríacos, o primeiro indicio do que viria alguns anos depois. Quando completou 52 anos de idade passou a trabalhar com armas de fogo, dando início então ao império de armamentos e cutelaria chamado Glock Ges.m.b.H.

Dr. Phillip Walker, um cirurgião renomado que atendia naquela cidade chuvosa e fria, voltava para casa em uma noite, sua esposa e filhos estavam em uma viagem pela Suécia por algum motivo familiar. Observava o céu nublado enquanto sentia o vento gélido bater contra seu rosto e fazer seu sobretudo voar. Gostava de caminhar até sua casa após um dia de trabalho, se sentia em paz consigo mesmo. Ao chegar naquela enorme casa tudo parecia tão tranquilo como sempre, exceto por um pequeno detalhe, haviam vidros quebrados na janela do seu quarto.

Alguns relógios, joias e um pouco de dinheiro haviam simplesmente desaparecido, e com eles uma Glock 17, a qual havia comprado para sua autodefesa a alguns meses atrás. A alguns quilômetros dali um cara de olhos verdes e outro de olhos castanhos pilotavam uma moto em alta velocidade, gritando pelo ar, comemorando as conquistas daquela tarde. Alguns meses depois eles deixariam a cidade e aplicariam golpes e furtos em várias outras pessoas, seu foco eram sempre pessoas ricas. Passaram a fazer reféns desde que haviam roubado aquela arma daquele doutor daquela cidade chuvosa, mas jamais haviam machucado ninguém, embora já tivessem chegado perto disso em várias situações intensas de adrenalina.

Então naquela noite de natal, aproveitando que a vizinhança estaria vazia, Olhos Verdes e Olhos Castanhos planejavam a sua "ceia", tinham a intenção de passar em pelo menos dez casas, sendo nove vazias e uma com reféns, para que depois desse último roubo pudessem se jogar sobre a moto e desaparecerem dali rapidamente, tirando férias dos seus crimes por alguns meses. Eles não eram necessariamente pessoas ruins, mas só não acreditavam que tinham as mesmas chances de vida para ficarem ricos como Dr. Phillip ou qualquer outro que tivessem furtado.

A rua estava silenciosa, a maioria das pessoas estavam longe dali ou simplesmente perdidas em seus sonhos após se deliciarem com taças e mais taças de champagne. Olhos Verdes e Olhos Castanhos escolherem a casa número 36 para começarem os seus trabalhos, logo estavam na 39, 42... E então avistaram aquela casa, cujas luzes estavam apagadas, de janelas de vidro, o carro parado na porta, e o silencio pairando pelo local.

Eles já estavam com a mochila cheia de dinheiro e joias, o suficiente para manterem por anos uma vida boa, porém, havia algo naquela casa que lhes chamavam atenção, provavelmente a adrenalina envolvida no risco de haverem pessoas ali, dormindo após alguma festa de natal. Minunciosamente quebraram a janela da cozinha, deslizaram sobre a pia, quase flutuando, tocaram o chão, e então estavam dentro da casa, prontos para levarem tudo aquilo que lhes interessassem. Porém, um barulho no andar de cima se tornou o primeiro empecilho para as intenções dos dois homens que invadiam aquela casa naquela noite.

Eu era o empecilho.

Um homem alto tampava minha boca e me encarava com seus olhos verdes, pelo buraco na balaclava eu também podia ver sua boca, revelando um bigode loiro, usava uma roupa completamente preta, e me apertava com força contra a parede, segurando aquela pistola contra meu pescoço e me olhando fixamente.

– Nós não queremos machucar ninguém. Vamos só levar o dinheiro e as joias e caímos fora. Beleza? – Sua voz grossa sussurrou frente à minha face.

Concordei com a cabeça.

– Onde fica o cofre?

– Aqui não há cofre. – Respondi, normalmente. Não estava com medo, já havia me livrado de um corpo e transado com um assassino, um assalto parecia algo tão amador naquele momento em minha vida. De certa forma era até tedioso.