-3- QUANDO A CAMPAINHA TOCA

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O quarto estava completamente escuro, havia desligado todas as luzes e me afundado em meio a escuridão. Passei a noite em claro, era como se o tempo não passasse ali. Ficava me questionando o que estava acontecendo em minha casa naquele momento, quantas vezes minha mãe e meu irmão já haviam ligado em meu celular, provavelmente entrado em contato com Vick e Bruno e descoberto que faziam horas que eu tinha os deixados, dizendo que iria para casa.

Questionava-me se eles já haviam ligado para a polícia ou se estavam andando de carro pela cidade para encontrar algum vestígio meu em algum beco escuro. Meu irmão provavelmente estava telefonando nos hospitais locais, Vick e Bruno possivelmente estavam se informando.

– "Ou talvez ninguém tenha notado que você desaparecera..." – Uma voz sussurrou, distante, no canto escuro do quarto. Aquela mesma voz que se fez tão presente quando ele não voltou mais para casa.

A ignorei, como sempre tentava fazer, e me joguei no colchão, olhando para o teto.

Me sentia ansioso, sendo assim, não conseguia dormir. Me perdi em meus próprios pensamentos...

Minha fuga em algumas horas. Quem era ele? Qual era seu nome? O que ele fazia quando não estava sequestrando pessoas? Por que havia me escolhido? Me observava antes ou eu fui apenas um alvo fácil no lugar e na hora errada? Quais eram suas intenções em relação a mim? Ele...

Um barulho na porta interrompeu meus pensamentos. Era ele novamente. A luz foi acesa. Não me recordo quanto tempo fiquei ali envolto pelos meus devaneios.

Aquele homem parou na porta, usava uma roupa parecida com a do dia anterior, provavelmente era a roupa que usava no trabalho. Mas essa não tinha manchas de sangue. Estava com seus óculos e seu relógio. Seu cheiro invadiu o quarto, era um perfume intenso e doce que me deixou um pouco desnorteado. Sempre fui aficionado pelo aroma das pessoas, principalmente quando eram tão intensos.

– Hm... Acordado. – Paralisado na porta, como um gato paciente que tinha todo o tempo do mundo para decidir entrar ou não. – Vejo que não limpou o quarto como eu mandei.

Caminhou em minha direção, com suas chaves em mãos, se aproximando da minha perna. A afastei de perto dele.

– Não seja teimoso. – Segurou minha perna e colocou a chave no cadeado, me libertando finalmente daquelas correntes grossas. – Vamos. Coloque seus sapatos. – Acho que foi apenas naquele momento que notei que estava de meias.

Levei alguns segundos para seguir sua ordem, por algum motivo sua presença me deixava lento. Ele olhou para mim, como se esperasse alguma ação, então finalmente me levantei, era bom não sentir aquela corrente pesando em minha perna, após ter ficado preso a ela por tantas horas.

Ele segurou em minha mão, me puxando por aquele pequeno corredor, que levava até uma escada. Subiu primeiro e me esperou na superfície, quando sai me deparei com a escuridão da noite. Não tinha mais noção de que horas eram, olhava em volta tentando me localizar, com um pouco de dificuldade devido à falta de algo emitindo luz no local. O muro de sua casa parecia alto, seria bastante complicado tentar pular por cima dele, porém, eu poderia escalar a grande árvore que havia em seu quintal e me jogar na casa do vizinho, gritando desesperadamente e acordando toda a vizinhança.

Não poderia perder a chance que estava tendo de poder ficar livre das correntes e do quarto subterrâneo, mas também não poderia me deixar levar pelo pânico e tentar uma fuga idiota que apenas culminaria em minha volta para seu "calabouço". Existia uma grande necessidade naquele momento de ter cautela.

Ele segurou minha mão esquerda e continuou me puxando em direção a grande casa em nossa frente, que aparentava ser predominantemente pintada de branco. A porta dos fundos estava aberta, virei meu olhar para baixo tentando ver as horas em seu relógio.

BABY, ME CHAME DE MESTREOnde histórias criam vida. Descubra agora