-9- UMA TARDE PARA RECORDAR

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Um vento gélido batia fortemente contra o meu rosto me causando uma sensação que tanto gostava quando andava no carro com meu irmão a caminho de nossa antiga escola. Minha mão flutuava na janela, como se nadasse nas correntes de ar, enquanto eu observava as árvores que passavam por nós, balançando suas folhas devido ao vento que ali fazia.

– Você irá se resfriar se continuar fazendo isso. – Pude sentir a mão fria de Sebastian tocando a minhas enquanto sua voz soava dentro do carro.

– Eu gosto. – Não precisei me esforçar muito para sorrir simpaticamente para ele e observar sua face alegre que se iluminava ao ver minha ilusória animação com seu ideal de tarde perfeita.

Naquela manhã acordei contente e esperançoso, Sebastian, pela primeira vez, desde que havia chegado em sua casa, permitiria que eu saísse e pudesse ver o mundo lá fora outra vez. Não havia estado nem mesmo uma semana preso ali, mas ele aparentava desesperadamente querer que me habituasse logo e facilitasse as coisas, o que significava deixar ele me tratar do jeito que tanta queria, isso é: jantares, presentes, e sexo, obviamente.

Ele permitiu que eu acordasse mais tarde, e quando abri meus olhos Sebastian me encarava, dando imediatamente um sorriso de "bom dia". Logo estávamos tomando banho juntos e depois descente as escadas apenas de roupões para fazermos nosso café–da–manhã. Tudo soava tão superficial para mim, era como receber um abraço de um leão que pretendia me devorar: ser amável comigo não significava que eu não seria mais sua refeição. Quando nos vestimos ele me colocou um moletom com capuz, provavelmente para evitar que alguém me reconhecesse.

Mas Sebastian exalava uma energia completamente diferente, parecia animado e esperançoso, como se acreditasse que geleias de amoras e uma cesta de pães pudessem fazer com que eu simplesmente esquecesse que havia uma vida esperando por mim e que ele era apenas um psicopata que se recusava a aceitar isso. Então não, um piquenique ao ar livre não faria com que me esquecesse. Porém, isso também não significava que eu pretendia complicar as coisas.

Havia uma grande chance em minhas mãos, eu finalmente estaria fora daquela casa, sem correntes ou algemas me segurando. No caminho haveriam pessoas que poderiam facilmente perceberem sinais de que as coisas não estivessem tudo bem comigo. Sebastian não poderia me controlar como imaginava que iria, e eu estava disposto a buscar uma maneira de me esgueirar dos seus braços dessa vez. Obviamente eu não poderia sair gritando desesperadamente assim que chegássemos na rua ou em um lugar que visse alguém, tinha uma absurda necessidade profunda de ser meticuloso no momento que escolhesse, para aquela não ser apenas mais uma tentativa falha qualquer de escapar.

Meus planos sofreram extremas mudanças às 10:45 da manhã, quando estávamos terminando de arrumar tudo para colocarmos no carro e Sebastian fez questão de me mostrar que levaria muito mais do que uma cesta de piquenique conosco.

– Espero não ter que usá-la. – Disse quando terminou de carregar uma pequena pistola prateada e desliza-la para dentro da parte frontal de sua calça jeans preta.

{...}

– Me desculpe por hoje de manhã. Não queria deixar subentendido que eu pretendia usar a arma contra você. Jamais teria coragem de fazer algo assim. – Sebastian tocou meu rosto, fazendo com que eu o virasse para ele.

– Tudo bem.

– Não está. Só fui pensar nisso depois que já havia falado, era melhor você nem ter visto eu a trazendo comigo. Sempre ando com ela. Por minha segurança, entende? E agora pela sua também.

– Entendo. Meu pai também tinha uma em nossa casa. – Olhei novamente para as árvores ao nosso redor.

– É... Seu pai... – Foi como sentir uma pequena pontada de irritação na voz de Sebastian. Mas optei por não perguntar o porquê.

BABY, ME CHAME DE MESTREOnde histórias criam vida. Descubra agora