BABY, ME CHAME DE MESTRE

-29- 1973, EM ESTOCOLMO

Em uma tarde qualquer, na Suécia, Kristin Enmark segurava um telefone próximo a seu ouvido, conversando com um policial que estava do outro lado, negociando em nome daqueles dois homens que haviam escolhido aquele banco para um dos seus assaltos a mão armada, e observando aquela metralhadora de Jan-Erik Olsson, um dos assaltantes. Kristin não se sentia nervoso ou amedrontado. Pelo contrário. Kristin se sentia calmo o suficiente para lidar até mesmo de forma amigável com aqueles que lhe mantinham como refém, e a cada dia que passava naquele banco, junto aos seus sequestradores, tanto Kristin quanto as outras vítimas criavam laços uns com os outros.

Havia lido sobre esse acontecimento em uma aula de história na sexta série, lembro-me de que naquela mesma tarde Kate Macllen quebrou seu estojo de sombras na cabeça de Thomas Miller, por ele puxar suas tranças. Dois meses depois eles começaram a namorar e passavam 23 horas do seu dia se beijando.

Olhava para fora da janela, observando as flores no quintal de Margareth, que balançavam com o vento. Depois que eu e Sebastian havíamos voltados para a antiga casa, após a relutância de Elizabeth que fez nossa mudança atrasar por dias, Margareth fez questão de nos visitar e perguntar se tudo estava bem após o assalto. Sebastian tinha mentido para ela que eu não estava em casa durante o acontecimento, então tudo estava perfeitamente bem. Ou parecia bem.

Algumas semanas tinham se passado desde a noite em que tinha lhe dito que o amava. Sebastian parecia ainda mais feliz ao meu lado, e eu lutava contra aquela horrível sensação que tinha nascido e consumido minha alma. Simplesmente não podia me esquecer que havia dito aquilo a Sebastian, e pior era ter plena consciência de havia sido sincero com ele.

Mas por que exatamente? Como eu poderia me apaixonar por alguém como ele? É óbvio que se eu tivesse lhe conhecido de forma externa provavelmente o acharia o cara dos sonhos, possivelmente nem ao menos me permitiria tentar, por saber que não teria chance alguma com alguém do nível dele. Porém, tive a chance de conhecer Sebastian profundamente, de modo a ser apresentado ao seu outro lado, esse lado possessivo, agressivo, violento e até mesmo assassino.

O observava andar pela casa, usando apenas uma boxer, seu corpo alto e forte, seu sorriso encantador e apaixonante, ele se aproximando de mim, me erguendo do chão e me dando um beijo intenso e longo em meus lábios. Transávamos constantemente, no quarto, no banheiro, na cozinha, e até mesmo na mesa de jantar Sebastian já havia me colocado de quatro e me penetrado até me encher com seu néctar.

Questionava comigo mesmo várias situações recorrentes em minha vida com Sebastian, como por exemplo o real motivo para eu não tentar mais fugir. Havia parado de tentar por receio dele fazer algum mal a alguém ou simplesmente pelo fato de que uma parte de mim queria estar ali? Talvez no começo realmente tenha sido receio, mas depois se tornou mais que isso, aquela vida que Sebastian me proporcionará era a vida que eu tinha, era estranho pensar em outra vida que não fosse aquela.

Me sentia um pouco exagerado, por ter me apaixonado tão rápido por ele. Mas a verdade é que eu sempre clamei pelo amor dos outros. Era tudo que eu sempre ansiei, substituir o amor que eu não sentia por mim pelo amor que alguém poderia me dar. Se eu me odiasse ao menos alguém no mundo estaria ali ao meu lado dizendo constantemente que me amava profundamente e para sempre. Primeiro meu pai teve esse papel, depois Alexsander, e então Sebastian.

Aceitamos o amor que acreditamos merecer. Aquela frase dita por Elizabeth ficou presente em minha mente desde o momento que eu havia a escutado, dançando em meu cérebro, e me deixando desnorteado constantemente, principalmente na presença de Sebastian.

- Você está tão pensativo essa noite. Está tudo bem? - Sebastian costumava me perguntar.

- Estou. Minha mente as vezes se perde em devaneios.