-12- DOCE

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Eu havia me tornado tão apático a tudo em minha volta, por acreditar que se eu parasse de sentir as coisas talvez elas não me impactassem tanto assim, que isso me deu a capacidade de aturar minha convivência com Sebastian mesmo sabendo que ele não passava de um psicopata sádico e cruel. Cheguei a essa conclusão quando lhe vi segurando uma faca na cozinha enquanto cortava carne em um domingo à noite. Dois dias atrás, para ser mais exato.

Estava sem camisa e descalços, e usava uma calça jeans preta, eu estava parado no balcão, o olhando se movimentar pela cozinha, como se dominasse qualquer objeto que estivesse ali, principalmente facas. Sebastian era extremamente ágil com facas, poderia cortar qualquer coisa que quisesse usando um cutelo. Durante um corte, ou uma pitada de tempero, ele me beijava. Não que eu o correspondesse à altura, apenas seguia uma função desejada. Observava o sangue da carne em suas mãos, trazendo lembranças da noite com Jenny. Lembranças essas que eu tentava excluir de minha mente.

Se ele me beijava, eu o beijava de volta, se ele parava de me beijar eu também parava; se ele me contasse algo engraçado eu ria, mesmo sem achar graça; se fosse para chorar eu chorava; se fosse para gemer, eu gemia. Tinha me tornado um boneco de ventrículo por completo, e Sebastian controlava minhas cordas, fazendo com que eu realizasse seus desejos carnais e amorosos, seguindo seus movimentos, e dizendo "sim" e "não" quando fosse necessário.

Caminhei até Sebastian, lhe dando um leve beijo nos lábios e depois retirando seu blazer, e o colocando no encosto da cadeira na qual ele iria se sentar. Em seguida lhe servi com seu vinho, e coloquei a comida de forma adequada e desenhada em seu prato, e então me servi também, sentando logo em seguida.

– Você vem fazendo um ótimo trabalho aqui em casa. – Tomou um gole do vinho.

– É um prazer imensurável ouvir isso. – Sorri como um boneco de plástico.

Ele riu como se estivesse com problemas de aceitar meu atual comportamento.

– É incrível que você aparentemente possuir dois lados, um que adora atenção, e outro apático e cínico. Já conheci ambos, acho que está na hora de você dar vida a uma nova personalidade. Talvez alguém mais... real.

– Não está gostando da forma como eu venho lhe tratando, querido? – Lhe dei outro sorriso com os dentes cerrados, tomando uma taça de vinho sem álcool.

– Da mesma forma que o seu comportamento anterior não durou por muito tempo, esse aqui provavelmente também não irá. Então eu tenho paciência. – Sorriu amigavelmente para mim, erguendo sua taça no ar. – Um brinde a você, por ter feito esse esplendido jantar.

– Um brinde. – Ergui minha taça e depois engoli um gole de vinho, que desceu sem gosto em minha garganta.

Sentia que poderia pirar em algum momento, ter uma nova crise, chorar e gritar desesperadamente. Era complexo fingir que não sentia nada. Quando Sebastian saia para o trabalho eu costumava chorar, pensando em minha mãe, meu irmão, meu pai, que mesmo eu sabendo que não me esperaria em casa me causava uma saudade interminável; meus amigos, e é claro... Jenny. Pensava em sua família sem respostas, seu marido esperando a doce esposa em casa, seus planos de se casar e ter filhos algum dia, e o quanto tudo havia sido destruído pelas mãos de Sebastian. E pelas minhas. Sentia uma pontada de culpa imensurável.

– Deixe a louça que eu lavo. Pode ir tomar seu banho. – Falei, me levantando da mesa.

– Está bem. Te vejo no quarto. – Me deu outro beijo, segurando meu rosto entre suas grandes mãos. – Você está muito cheiroso, me dá vontade de lhe devorar. – Soltou risadinhas e saiu da sala de jantar. Seu andar me incomodava, assim como sua respiração e existência.

BABY, ME CHAME DE MESTREOnde histórias criam vida. Descubra agora