Capítulo 4
Christopher Vélez
Conforme os dias passavam, eu e Ana nos distanciávamos mais. Das vezes que ela ainda me levou para assistir a série que ela tanto gostava, terminávamos discutindo porque me parecia enfadonho e eu acabava dormindo antes da metade — o que para Ana era quase como um crime hediondo, além de ser falta de respeito a ela e seu convite —.
E foi exatamente por isso que ela decidiu mudar o lugar onde nós tentaríamos nos divertir juntos, já que, na maioria das vezes, nós costumávamos não gostar das mesmas coisas e lugares. Conseguimos entrar em um consenso e o lugar que acordamos era o Mynt Lounge, porque os dois já tinham ido, e apesar de não ter sido o primeiro da lista de Ana, dentre os que ela tinha listado era o que eu mais conhecia e gostava. A nossa noite estava sendo divertida, apesar de eu ter que lidar com os pequenos chiliques da minha, então, namorada. Algumas vezes ela reclamava da quantidade de pessoas, outra pelo calor, pela qualidade dos drinks e muito mais, coisa que eu decidi relevar em nome da minha paz e diversão, porque realmente me parecia maravilhosa a noite e a programação diferente.
Como uma grata surpresa, acabei encontrando Giulia enquanto tinha ido buscar água para Ana, e a partir daí só vieram ainda mais surpresas, e não tão agradáveis como a primeira.
— É um prazer te conhecer, Ana. — Giulia sorria simpática como se não se importasse com a expressão nada convidativa de Ana. — Mas, se você me dá licença, eu preciso encontrar as minhas amigas. — ela parece querer fugir, como se conhecesse Ana e soubesse que a situação tende a piorar caso o diálogo continue. A brasileira começou a se afastar sem esperar a resposta de Ana, mas a loira parecia disposta a implorar pela atenção dela.
— Está fugindo, Giulia? — Disse em alta voz para que Giulia parasse seus passos. — Ou você não consegue esconder na minha frente o quanto é afim do meu namorado? — Era burrice achar que se eu não intervisse, Ana não armaria um circo. Eu devia realmente tê-lo feito assim que ela se aproximou. Giulia, que até agora estava de costas, virou-se em direção a Ana, agora com uma expressão um pouco mais intimidante e ao mesmo tempo questionadora, por estar com uma das sobrancelhas arqueada. Ela refez o caminho até onde Ana estava e na voz mais tranquila que era capaz de reproduzir, retomou sua fala na conversa.
— Sabe, Ana... Eu não imaginava que você era tão insegura. Na verdade, eu imaginava que você fosse bastante cheia de si e confiasse no próprio taco. — A morena disparou sem dificuldade em dosar as palavras — Inclusive, eu nem sei o que te levou a achar que eu estaria nutrindo sentimentos diferentes dos de amizade por Christopher, afinal nós acabamos de nos conhecer pessoalmente. — Eu admiro a capacidade que Giulia tem de se manter serena em situações desse tipo. Eu imagino que por dentro ela pode estar nervosa e virada do avesso, mas sempre que pode, ela não transparece suas verdadeiras emoções — o que nesse caso lhe ajuda muitíssimo —.
— Eu confio! — Ana exclamou com um dos tons mais agudos de sua voz — Eu não confio EM VOCÊ! Ou você acha que eu não sei como vocês estão próximos? E que ele vive indo no seu apartamento e te convidando pra sair com a MINHA sogra? — A conversa estava tomando uma proporção um pouco maior do que o esperado, já temos alguns espectadores e os ânimos estão começando a se alterar, por isso eu, finalmente, decido intervir.
— Já basta, Ana. Vamos embora. — digo colocando-me no pequeno espaço que havia entre as duas, virando-me de frente para a loira.
— Eu lamento muito que você não "confie em mim"... — ela faz o sinal de aspas — E que se incomode com a minha presença na vida do seu namorado. Eu imagino que você deveria ter conversado sobre o que te incomoda com ele, mas já que você decidiu contar para mim, e para todas essas pessoas, eu te digo que tomarei as medidas necessárias, você não precisa se preocupar. — era quase que inacreditável alguém se manter tão calma durante uma pseudo-briga. Que autocontrole!
Giu, estou impressionado!
— E agora, eu realmente preciso ir procurar as minhas amigas. Tenham uma boa noite. — Giulia parecia um pouco mais incisiva em sua última frase e saiu pelo meio da pequena plateia que havia se formado para assistir a discussão, dessa vez não dando margem às replicas de Ana e me lançando um último olhar de decepção.
— Quem ela pensa que é para sair sem me deixar responder? As conversas só terminam quando eu digo que terminou! — ela seguia erguendo a voz, atraindo os olhares das pessoas que ainda estavam por perto.
— Chega, Ana! — foi a minha vez de erguer a voz. — Você já conseguiu chamar a atenção das pessoas, se era o que você queria. Agora já podemos ir embora. — No fundo, eu estava morto de vergonha. Nunca havia passado por nada nem parecido. Saí guiando Ana para fora e nós entramos no primeiro táxi que eu vi, ainda sem cruzar o meu olhar com o dela. Ficamos em silêncio até chegar a casa onde ela morava com os pais e decidi acompanha-la até o quarto porque ainda precisávamos conversar sobre hoje.
— Garota metida! — ela murmurou enquanto jogava a bolsa na cama — Você viu como ela é dissimulada e fingida? Estava fingindo estar sempre feliz e tranquila pra se sair de vítima! Estúpida! — sem a menor noção de que os próprios pais podem acordar, ela seguia falando alto. — E eu a detestei. Ela não é nada do que me disse, e isso porque ela se faz de boazinha pra você. E eu espero que a partir de hoje você acabe com essa amizade boba de vocês e nunca mais fale com ela!
— Ana, já deu por hoje! PARA! — eu disse expressando a vergonha e raiva que carreguei desde o início da conversa das duas. — Você quem foi estúpida com ela! Você foi mal educada e inconveniente, a deixou envergonhada durante todo aquele teatro que você montou! — Vi os olhos de Ana se arregalarem logo após as minhas palavras — Aliás, a noite inteira você me fez realmente repensar se era uma boa ideia não ter ido sozinho. E isso é o que você sempre faz. Porque você sempre reclama de tudo, quer controlar tudo. Até a minha vida, as pessoas que eu tenho por perto. Qual que é o seu problema?
A verdade é que hoje tinha sido apenas a gota que esborrou o copo da minha paciência. Eu vinha guardando todas essas palavras há muito tempo, porque sempre tentava transmiti-las de uma maneira mais sutil a Ana, que fazia questão de dizer que entendeu e que ficaria tudo bem, mas no dia seguinte estava tudo igual. Nessas horas eu só lembrava da minha mãe, que sempre me perguntava se eu realmente queria estar nessa relação, se já não tinha passado do tempo e agora Ana não era mais pra mim, que tinha caído na rotina... Só que agora eu estava no meu limite. Eu preciso colocar tudo pra fora, e do jeito que está aqui dentro. Sem tirar e nem pôr nenhuma palavra ou expressão.
— Bryant, é melhor você se acalmar! Quem está brava aqui sou eu! Porque foi você quem trouxe essa garota para as nossas vidas.
— Quando você vai entender que o problema não é Giulia ou qualquer outra pessoa, e sim você? — exclamo — Você quem me tira do sério com essa mania de superioridade e essa bolha de relacionamento intocável, que não te permite ver aquilo que VOCÊ faz que me irrita. É SÓ VOCÊ!
— Você só está falando isso porque sua mãe fica te envenenando contra mim! — foi a vez de ela exclamar algo.
— Esse namoro só existe porque eu nunca dei ouvido a minha mãe. E porque deixei ir até onde fosse insuportável. — eu disse já sem elevar o tom de voz. — E agora está insuportável.
— Eu acho melhor essa conversa terminar outra hora, nós estamos muito alterados e eu temo por como possa terminar isso. — ela também abaixa a voz.
— Você sempre faz isso. — sorri irônico — Você sempre foge. Porque no fundo, você sabe como isso vai acabar.
— O motorista do meu pai vai te levar. — A loira disse séria, fugindo daquilo que eu tinha dito. — Mas, não se preocupe. Essa conversa não acabou.
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Best Part • Christopher Vélez
FanfictionDizem que os melhores amores são aqueles que nascem de uma amizade, mas nunca disseram se esses amores resistem às provas de fogo. Provas que muitas vezes colocava o amor em cheque em prol da realização pessoal, como se entre sonhar e amar não houve...