33.

139 14 40
                                    

Capítulo 33

Giulia Moraes

Lembro-me de quando já haviam passado muitas horas, eu adormeci no travesseiro molhado do meu choro, já era noite quando pisquei os olhos e vi chover, fazendo voar forte as cortinas. Era só uma garoa, afinal ainda era verão, mas assim que levantei para fechar as janelas e a porta da varanda, ouvi meu celular tocar, e assim que peguei para atendê-lo, já era a décima tentativa do número que até então eu não conhecia. Minha vontade de atender era minúscula, quase inexistente, mas a insistência da pessoa me fez atender impulsivamente.

­"Alô?"

"Oi! Giulinha?", somente com esse apelido, eu reconheceria de longe o insistente do outro lado da linha, mas ele fez questão de falar em português para que não restassem dúvidas.

"Ah... Oi, Bernie", respondi tentando ser o mais simpática possível.

"Você tinha ficado de me dizer como foi tudo, mas já faz muito tempo da hora que você tinha falado que Christopher iria embora e até agora você não me deu sinal de vida, então fiquei preocupado", explicou. "Fiz mal em ligar?"

Eu não sei como tinha chegado nesse ponto, mas só de ouvir o nome de Christopher, eu sentia vontade de chorar. E foi exatamente o que eu fiz, alborotando Bernardo do outro lado da linha. Ele não perguntou muita coisa mais, e em alguns minutos chegou para me fazer companhia.

Como nos meses seguintes. Ele decidiu que não descansaria até que eu conseguisse ser feliz e esquecesse esse sentimento ruim. Me levava para vê-lo surfar três vezes na semana — quando ele estava no mood praia e não no modo aprendiz de executivo da empresa do pai —, junto com Duda, que ia sempre ver a Igor. Me acompanhava em todas as reuniões com os nossos casais de amigos, para que eu não sobrasse e nem me sentisse desamparada por não ter aqui a... Bom, todo mundo sabe quem. Com o tempo, fui conhecendo mais além do Bernardo gentil e bom conselheiro. Ele se mostrou um carioca nato, conquistador, fã de pagode e churrasco com breja no domingo. Tinha lábia natural de surfista brasileiro, além de ser super família e já ter me feito  sentir ainda mais em casa quando me apresentou a eles, que me acolheram como filha.

Desde o primeiro momento havia notado que ele era lindo, mas com o passar dos meses, passou a ser atraente aos meus olhos. E isso não só pelo bronze de seu corpo, causado pelo sol. Mas, por ele inteiro. Ele era um amigo incrível, carinhoso, atencioso, além de todos os dias me fazer matar um pouquinho a saudade de casa, sendo a minha casa aqui. Sempre cozinhava receitas brasileiras comigo e era o melhor companheiro para ver as temporadas passadas de A Grande Família.

Nos beijamos as primeiras vezes apenas como amigos que se atraíam, mas isso passou a ser constante e começamos a namorar sem tanta demora. Não era influência dos nossos outros casais de amigos, mas era bom não sermos o "quase-casal" ou o "casal amizade-colorida" do grupo. Eu aceitei seu carinho, e ele aceitou o que eu pude dar, que nem de longe chegou a ser o que ele sente por mim.

E no fim, eu também tinha aceitado a calmaria de um amor tranquilo. A paz de uma relação estável, que não tinha tantas aventuras, que não fazia o ar faltar e o coração dilacerar no final. Aceitei que esse sentimento de estar com o coração inteiro e manso era o melhor, e nada no mundo merece tirar isso de mim.

***

16 de janeiro de 2022

Estávamos sempre um ano atrás dos nossos amigos. Vimos Tali e Noah noivarem com três anos de relação e Duda e Igor decidirem dar o segundo passo de morar juntos quando tinham quatro anos juntos, fazendo com que Bernardo se animasse em caminhar um pouco mais com a nossa, que para sua tristeza, não era algo que eu planejava.

Best Part • Christopher VélezOnde histórias criam vida. Descubra agora