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Capítulo 47

Giulia Moraes

O fato de que Christopher estava enciumado não significava que eu tinha que cutuca-lo nesse ponto, eu sabia que seria pior porque o conhecia e que ele dificilmente faria a linha ciumento e que odiava quando não conseguia evitar sentir isso. E eu também sabia que parte desse sentimento, da sua incerteza e insegurança, era minha culpa, por não ter definido o que nós temos para reatarmos a nossa relação, com todas as letras.

Eu não bateria de frente por causa do que ele sentisse com relação a Bernardo em nenhuma hipótese, com exceção apenas para um momento de histeria dele, caso acontecesse, mas sei que as possibilidades disso são mínimas, porque ele realmente não é desse tipo. Por tudo isso, preferi manejar a situação com bom humor, carinho e tranquilidade, para passar a segurança que ele precisa, e me pareceu ter sido, realmente, a melhor escolha.

Naquela tarde, voltar para o trabalho ficou mais difícil por causa dos nossos beijos intermináveis e porque parecia que nós tínhamos voltado aos dezenove anos, estávamos abobados, rindo a toa e nos chamando de "namorado" e "namorada" em todas as oportunidades que tivemos. Inclusive, quando repassamos a notícia, uma felicidade geral tomou conta dos nossos grupos de amigos, a comoção foi muito real. E, apesar de ter colocado o rótulo necessário na relação, as coisas não mudaram tanto, comparado ao que já estávamos vivendo, já estávamos juntos mesmo sem assumir isso.

A nossa rotina era muito agitada para ambos, mas sempre arrumávamos um jeito de nos ver no meio do caos que sempre estávamos metidos, era quase regra a troca de mensagens nas pausas do dia, as palavras de carinho... Estava sendo uma delícia, apesar de ser algo diferente do que vivemos antes. E não tinha que ser igual, se tudo mudou, era óbvio que o ritmo do nosso namoro também mudaria. E essa dinâmica nova foi o nosso exercício de paciência e cumplicidade nesse primeiro mês.

Hoje completa um mês da nossa volta e por ser um marco importante e por ter sido um mês de readaptação e aprendizado um com o outro, decidi surpreender o meu gibi loiro, o meu namorado. Sei que ele e os meninos já estão a nada, como ele costuma dizer, de lançar mais músicas e logo começarem a visitar os países da latino-américa, então nesses últimos momentos estão no estúdio quase que as vinte e quatro horas do dia, revisando cada detalhe, cuidando para que tudo saia perfeito, sendo assim, eu decidi visita-lo, finalmente conhecer melhor os rapazes, acompanhar um pouco seu trabalho, quem sabe até distrai-lo um pouquinho...

Saí mais cedo do consultório e cheguei ao endereço sendo recebida pelo próprio equatoriano, que abriu um sorriso lindo ao me ver mas também pediu que eu fizesse silêncio colocando seu dedo sob a boca, em seguida selou rapidamente os meus lábios e então eu entrei ao local, e assim que vi que eles estavam durante uma gravação entendi o motivo do silêncio absoluto aqui do outro lado. Enquanto ele voltou para junto do computador, para continuar acompanhando em tempo real a voz de Zabdiel sendo gravada, eu me sentei no sofá, ao lado de Erick e Richard.

Era uma magia que acontecia na música, e agora vendo o processo, confesso que aprecio ainda mais essa arte. São tantos detalhezinhos e repetições, para que tudo se encaixe bem... Não era algo para qualquer um, realmente. Há muita paixão nisso. Assim que o boricua saiu da sala acústica, pudemos ouvir já um pouco de como estava ficando a canção no geral, e por mais que eu não entendesse bulhufas de música, via que os meninos sorriam orgulhosos e confirmava que estava mesmo ficando muito boa.

— Resolveu nos visitar hoje? — o cubano perguntou sorridente, enquanto escutávamos previamente a música.

— Vim fazer uma surpresa. Simples, mas não deixa de ser uma... — admiti.

Best Part • Christopher VélezOnde histórias criam vida. Descubra agora