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Capítulo 12

Giulia Moraes

Meu primeiro thanksgiving nesse país é um evento para mim. Além de ser um feriado novo no meu calendário, já que no Brasil nós não temos, me parece de um significado lindo e importante. É basicamente um dia de agradecimento, de se reunir com a família para celebrar. E vou poder passar essa data com pessoas que têm esse significado para mim, mesmo que não seja a minha família de verdade, é a minha família aqui.

O dia, que, na verdade, tinha começado mais ou menos as onze pra mim, foi passando muito gostoso no clima culinário na casa dos meus vizinhos. E eu sabia que seria assim, porque realmente me sinto muito bem com eles e a gente sempre se diverte juntos por ter a energia muito parecida. Assim que nos sentamos à mesa, que estava linda e com comidas deliciosas, tia Yenny começou com o momento que eu mais ansiava, aquele onde nós diríamos alguns motivos pelos quais somos gratos hoje.

— Eu sou grata pelas nossas conquistas desse ano. E pela minha saúde... Vocês sabem. — ela preferiu ser objetiva porque falar de quando ela esteve doente era difícil, em pensar que talvez ela nem estivesse aqui agora.

Bueno, voy yo. — Christopher disse assumindo a fala ao ver como ficou sua mãe. — Eu sou grato por ter vocês duas aqui. Por ter conhecido Giu e ter minha mãe comigo agora — eu assenti com um sorriso fraco e recebi todos os olhares, me indicando que já era a minha vez de agradecer.

— Isso é novo pra mim. — sorri — Mas, eu sou grata por esse momento. Por me sentir tão bem e estar passando o dia de ação de graças com vocês, que me acolheram aqui. — senti levemente meus olhos encherem de lágrimas, mas era por saudade da minha família e por realmente estar emocionada por estar com essa família equatoriana que eu tinha ganhado.

Terminamos o momento sentimental, que divide o protagonismo da noite com as comidas espalhadas na mesa, e fomos comer. A cada comida que eu provava, pensava comigo mesma que se eu não desse certo como dentista, com certeza, seria sócia de Yenny em um restaurante. Não tardamos muito em terminar a refeição, incluindo a sobremesa, e logo depois nos unirmos, outra vez, em uma força-tarefa na missão louça, Chris e eu decidimos ver um filme, enquanto Yenny preferiu se recolher.

— Em sua homenagem, escolhi Velozes e Furiosos 5 para a gente assistir hoje. Já que ele se passa no Rio. — o moreno falou enquanto ligava a televisão.

— Eu já tinha te dito alguma vez que gostava de Velozes e Furiosos? — perguntei apenas porque ele havia acertado em cheio na escolha do filme.

— Não... Mas, eu gosto e iria te convencer a assistir mesmo que você não gostasse. — ele piscou pra mim e se acomodou no sofá porque já tinha dado play. Observei-o um instante e sorri sozinha, rebobinando sua frase enquanto começava o filme, ainda que nós só estejamos revendo-o, já que ambos o assistimos alguns anos atrás.

Acredito que já estávamos na metade do filme quando me dei conta que eu estou com a cabeça descansada no ombro do meu, então, amigo. Não que antes eu já não tivesse reparado, mas aqui de perto o perfume dele parecia ainda melhor. A correntinha da jóia que eu havia lhe dado ressaltava na sua pele clara e isso o deixava ainda mais irresistível. Me peguei acariciando como à uma porcelana, o rosto do moreno com as costas dos meus dedos, prestando atenção a cada detalhe, em um processo de digitalização, construindo uma memória fotográfica dele e desse momento.

Durante o meu transe acabei não percebendo que Christopher já havia pausado o filme e que agora fechara os olhos enquanto eu lhe faço o carinho na pele. Agora fui eu quem pausou, mas  para ver como reagiria o equatoriano, e assim que meus dedos pararam seu delicado trabalho, os olhos grandes e, hoje, castanhos, se abriram e procuraram os meus, criando a mesma tensão do dia da festa. Era um silêncio terrível, acompanhado da aceleração dos meus batimentos. De repente me senti nervosa e ansiosa, torcendo para que isso acabasse, porque era um castigo torturante demais ficar somente encarando seus lábios tão bem desenhados e carnudinhos, esperando uma aproximação ou criando coragem para matar meu desejo antigo de prová-los.

Quase tão necessitado quanto eu, Christopher firmou suas mãos no meu rosto e me levou até ele. Antes de fechar os olhos ouvi sua respiração forte e senti o vapor quente de sua boca quando ela se abriu para encontrar a minha. Toda aquela ansiedade — quase pressa — por esse momento, havia se esvaído no momento em que nossas bocas se encaixaram e eu, finalmente, pude sentir o gosto de seu beijo. Sentia a língua do moreno invadir a minha boca, e por vezes também me permiti repeti-lo com ele. Era uma dança perfeita. E se eu tivesse que definir o ritmo, seria valsa. Porque era lenta, o que a deixava ainda mais proveitosa e saborosa. Deixei que nossos corpos delimitassem o nosso tempo, e só nos largamos quando nos faltou o ar. E ainda assim, seguíamos na valsa, saindo um do outro sem pressa e deixando beijinhos curtos antes de nos afastarmos completamente.

Meu rosto ainda estava nas mãos de Chris e ele me olhava sem piscar. Como se tivesse me admirando. Isso me fez sorrir espontaneamente, e eu recebi o mesmo sorriso como retribuição.

— Como soube que eu retribuiria seu beijo? — perguntei curiosa, quebrando o silêncio há algum tempo instaurado.

— Bem... — ele sorriu — Você não é tão boa quanto pensa escondendo o jogo.

— Ah, não? — começo a rir.

— Lógico que não! — ele disse franzindo a testa, fingindo estar bravo. — Inclusive, quando está mais altinha, você costuma falar bastante suas verdades. — começo a rebobinar todos os meus momentos bebendo algo para saber que dia Christopher poderia ter visto bêbada e ter me ouvido falar algo que me comprometesse.

— O que foi que eu te disse no corredor? — relembro o momento e pergunto com a mão na boca, assustada antecipadamente. Christopher começou a gargalhar e beijou minha mão antes de voltar a falar.

— "Eu não me culpo mais por ter te achado atraente e interessante e lindo e uma cópia fiel do Bieber" — O moreno fala imitando meu tom de voz e minhas expressões de bêbada, um pouco fora de mim. Foi a minha vez de gargalhar da maneira como ele me encenou e também de pura vergonha.

— Meu Deus, não acredito que te confessei meu maior segredo! E o mais culposo! — abaixo o olhar enquanto entro no seu jogo, falando com um toque de ironia.

— Sabia que desde esse dia nunca mais tive autoestima baixa? — eu ri alto e o sorriso dele acompanhou a minha risada — Eu estou falando sério! Fiquei me achando por saber que você me achava lindo, atraente E INTERESSANTE! — enfatiza.

— Você é muito bobo.

— Não. Eu sou lindo, atraente e interessante. Foi você mesma quem disse. — volto a gargalhar.

— E a cópia do Bieber! — completo sua frase e nós seguimos sorrindo.

— Enfim, você é bem ruim com mistérios, pequena. Foi bem fácil saber que você está caidinha por mim. — brincou.

— E você jura que soube disfarçar algo, não é? — falo vingativa, disposta a mostrar que ele também não estava escondendo o jogo.

— É? Pois me diga quando eu te dei uma brecha dessas. — ele me desafiou.

— No seu aniversário. Quando eu falei que ia embora e você falou: Ai, achei que nós iriamos embora JUNTOS! — repito sua atitude e o imito, enfatizando o fato de que ele havia lamentado que nós não voltaríamos juntos.

— Isso não justifica nada, mocinha. Poderia ser somente porque nós chegamos juntos. — O equatoriano tenta argumentar.

— Ah, é? E você pegando na minha mão? Sua pele ficando arrepiada quando fui colocar em você o colar? Você nervoso quando meu beijo foi fora do lugar? — a risada contagiante dele invade o lugar e eu continuo — Você deixou bem na cara que estava afim de mim.

— Ok! Ok... — ele levanta as mãos como sinal de rendição — Eu também não sou do suspense, confesso. — eu assenti e ele seguiu — E também não sou de passar vontade, por isso fique calada que eu vou lhe beijar. — antes que eu conseguisse sorrir desse último comentário, sua boca já estava sobre a minha de novo. Não consegui me conter e sorri entre o beijo, antes dele ter se intensificado um pouco mais. Christopher foi deitando-se sobre mim durante o beijo e nós ficamos assim por, no mínimo, mais uns vinte minutos. Nós merecíamos, depois da espera mutua por isso.

E como tinha valido a pena... Seu beijo era um sonho feito realidade.

Agora eu tinha mais um motivo para agradecer e lembrar bem desse meu primeiro thanksgiving nos Estados Unidos.

Best Part • Christopher VélezOnde histórias criam vida. Descubra agora