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Capítulo 22

Giulia Moraes

Voltei para casa depois de mais algumas horas com as meninas. Elas realmente me alegraram nesse tempo, logo depois da pauta "Christopher". Até porque Tali fez questão de se manter pensando positivo e fez com que a conversa sobre esse assunto acabasse tão rápido quanto havia começado. Mas, o fato é que agora eu estava ainda mais certa de que algo está acontecendo.

Que o meu namorado está me escondendo algo.

E essa sensação é a pior. É aterradora. Gera insegurança. E eu odeio me sentir insegura, pisando em ovos, dando tiros no escuro. Não é isso que eu aprovo numa relação. Eu não acho saudável. Porém, em contrapartida, eu simplesmente não conseguia "não sentir" isso. Nem o positivismo exacerbado da minha amiga me fazia tirar essa ideia fixa da cabeça.

Decidi que não tem maneira melhor de acabar com os fantasmas que não seja lidando com eles. Deixei uma mensagem para Christopher perguntando como estava e se estava em casa, porque talvez se o visse agora, veria que tudo não tinha passado de um surto meu. Que ele está tranquilo e nunca fingiu agir naturalmente. Tomei um banho quente e enquanto espalhava pelo corpo uma generosa quantidade do hidratante que o meu namorado mais gosta, revisava o celular esperando sua confirmação, para que eu deixasse a porta destrancada e ele passasse a noite aqui, abraçado comigo, levando para bem longe essa paranoia minha.

Deitei segurando o celular, por um tempo que eu não contei, e até cheguei a cochilar com o celular em mãos. Já haviam passado horas, mas não era tarde o suficiente e eu ainda podia para ligar para a minha sogra perguntando por Chris, porque era, no mínimo, estranho que ele demorasse tanto a me responder.

— Giu? — perguntou assim que atendeu.

— Yenny, sou eu... Boa noite — cocei os olhos — Christopher está em casa? Já dormiu?

— Christopher? Eu achei que ele estivesse aí — confessou — Desde que cheguei não o vejo. Apenas vi que ele deixou as malas da viagem no quarto.

Foi o suficiente para que eu ficasse ainda mais paranoica. E não o bastante, agora eu estava preocupada, porque isso não costumava acontecer.

— E ele te falou aonde foi? — perguntei temendo a resposta.

— Não, querida. Ele não me disse nada. Inclusive, agora estou preocupada, porque não é de seu feitio fazer isso. Christopher sempre avisa aonde vai e que horas chega.

— Sim... Ele costuma me avisar por mensagens por onde anda também — completei um pouco triste pela situação — Bem, de qualquer modo, muito obrigada Yenny. E, por favor, me desculpe por deixa-la preocupada.

— Não se preocupe. E se ele lhe falar algo enquanto ainda estiver acordada, por favor, me avise — eu concordei e soltei o celular. Impotente. O que eu poderia fazer? Esperar? Eu não conseguiria.

Dormi. Deixei que as minhas pálpebras pesadas descansassem. Mas, com o celular bem ao meu lado, e com um volume bem alto, para que eu ouvisse qualquer mensagem que chegasse do moreno.

Era madrugada, pisquei os olhos e peguei o celular apenas para confirmar a hora. Nada de Christopher. Sua mensagem de boa noite faltou pela primeira vez. Lamentei em pensamento e deixei mais uma mensagem, só que dessa vez sem esperar resposta porque o sono e o cansaço tinham me vencido.

Sem despertador e de férias, não acordei cedo. Já passava das dez quando estava tomando café da manhã. E eu imagino que o meu eu sarcástico esteja eufórico pelos updates do sumiço do meu namorado.

Vinte e quatro horas sem vê-lo e zero mensagens.

Crítico. Principalmente quando nem a mãe dele me pôde informar onde ele estava na noite passada. Havíamos voltado para Miami a apenas vinte e quatro horas e já estávamos nesse ritmo. Só que eu não ficaria triste e enlouquecendo dentro do meu quarto, pensando e implorando mentalmente por um sinal de vida de Christopher. Outra vez acionei as odontolocas, disposta a ter um dia de praia com tudo que Miami tem a me oferecer.

Ao menos para uma praia, eu estava animada. E havia me organizado bem rápido, para quem acordou tarde. Antes do meio dia já estávamos chegando a praia, e até então, estava grata por não ter tido que comentar que Christopher não me dá noticias desde ontem. No caminho compramos algumas cervejas e mais filtro solar, apenas garantindo que não teríamos uma insolação por causa do sol forte e o calor intenso da cidade.

Havíamos ido de táxi, então sem sorteio para decidir quem não beberia para dirigir. Ou seja, eu estava totalmente livre para me afogar não só na água salgada do mar...

Duda estava lendo, Tali tirando fotos e eu olhando as ondas e os surfistas, mas talvez deitasse um pouco em breve para manter o bronzeado.

— Aquele surfista é bem a sua vibe, Duda — cutuquei minha amiga, recebendo uma tapa leve na mão por atrapalhar sua leitura.

— Eu estava numa cena importante! — bradou sem olhar para o rapaz que eu havia dito. Fechei o livro marcando a página com o dedo e apontei para o surfista com a cabeça, fazendo com que minha amiga, finalmente, olhasse para o tal — Uau — começou a se abanar — De repente ficou mais quente, né? Preciso ir me refrescar um pouco.

— Eu sabia que você não perderia tempo! — falei de longe, porque no mesmo instante que falou, minha amiga levantou e foi em direção ao mar. Talita e eu começamos a rir de sua facilidade com isso. Ela, com toda certeza, conseguiria beijar o surfista gatinho. De repente, acabei lembrando de Christopher. Havia pedido tanto a Deus que não deixasse que as meninas tocassem no assunto, e eu mesma me lembrei dele. Pensei em como ele ficaria com a pele ainda mais rosada se viesse para cá. Ao mesmo tempo, me perguntava o que estava acontecendo e porque ele havia sumido sem me deixar nenhuma mensagem sequer. Percebendo como de repente meu semblante havia mudado, Talita abaixou um pouco os óculos para me analisar.

— Está tudo bem, Giu?

— Tirando o fato de que há mais de vinte quatro horas não tenho notícias do meu namorado, tudo ótimo — desabafei recebendo um olhar preocupado de Tali.

— Ele não falou nem a tia Yenny por onde andou?

— Não. Nem uma mensagem sequer.

— Amiga, ele vai ter uma boa explicação pra tudo isso... Eu tenho certeza — tentou me tranquilizar. E, mesmo que não adiante muito, eu valorizo muito isso. Tentei deixar esse assunto para depois, para a hora da academia, quem sabe? E comecei a falar sobre como Duda já estava realmente próxima do surfista.

Horas depois a ondulada já havia enturmado o moço e ele era mesmo a vibe de Duda. Engraçadinho e com alma de praia, que nem ela. Chamava Igor, e ele falou muito bem do Brasil, porque tem familiares no país e esse foi mais um ponto para minha simpatia por ele. Já havíamos marcado para o dia seguinte uma reunião no apartamento de Duda, porque com certeza, ele havia entrado para o nosso grupo de amigos.

O sol começou a baixar e nós decidimos ir embora. Não bebi tanto então, não consegui nem chegar perto da minha personalidade bêbada. Tomei um banho e não disposta a faltar academia, me vesti e subi os andares até lá de escada, aquecendo um pouco.

No fundo, eu tinha a expectativa de que Chris apareceria para a aula que fazemos juntos, mesmo que eu já não insistisse nas mensagens. Comecei a série de exercícios sem ele, mas atenta a porta do local, aguardando-o.

Vinte minutos atrasado.

Era inútil a espera. Ele não viria.

Coloquei mais alta a música no fone e foquei no meu objetivo, que era treinar.

Ou descontar minha frustração e raiva no exercício.

Best Part • Christopher VélezOnde histórias criam vida. Descubra agora