24. Mamãe... (Augusto)

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     Não tinha mais o que fazer. Foi o que o médico me disse, eu quis socar a cara dele, queria dizer para ele se levantar e fazer a por#@ de alguma coisa para salvá-la. Ele falou que ela poderia ir a qualquer hora e que eu podia ficar ao lado dela quanto tempo eu quisesse. Me senti um pouco confortado quando Joana se chocou contra meu corpo e me abraçou, eu a abracei com mais força, esquecendo que pudesse machucá-la sem querer. Mesmo assim a dor não passou, a dor era dilacerante, eu só tinha sentido ela uma vez. Foi quando descobri que um amigo que cresceu comigo no orfanato se perdeu na vida e foi morto em um confronto.

Foi nessa época que eu entrei para o clube da luta, eu poderia ter ido junto com ele se não fosse pela Sra. Dickinson... pela minha nova mãe. Eu apertei a pobre mão de Joana ao pensar isso, queria que ela saísse do meu lado temendo acabar machucando ela de verdade. Outra parte de mim só queria deitar em seu colo como um bebê e ser embalado enquanto ela acariciava meu cabelo e me diria palavras reconfortantes. Eu quis gritar ao ver a pessoa que salvou a minha vida deitada, entre a vida e a morte e eu não podia fazer absolutamente nada.

Me deixaram sozinho com a minha dor e eu me deixei senti-la com toda a força que senti meu coração sangrar, me puni em pensamento por não ter dado mais atenção a ela, por não ter passado mais tempo com ela, por ter sido rebelde no começo, não querendo socializar com ninguém. Eu sentia vergonha por ser um adotado, por ser um sem educação e sem modos. Mas ela me ensinou tudo, pagou aulas para mim, para me ajudar, me incentivou a ser uma boa pessoa, assim como ela era. Eu queria ter metade da sua bondade, queria ser essa pessoa que ela era, mas eu nunca chegaria a metade disso. Eu chorei mais e mais, sentindo que não ia parar nunca, sentindo que precisava daquele clube da luta a cada minuto que passava, sentindo raiva por não ser eu no lugar dela.

Passou-se provavelmente 1 hora comigo alí, conversando com ela, pedindo para ela voltar, que eu tinha muito o que dizer e muito mais a agradecer. Comecei a ficar sem ar, sentindo que eu não a agradeci o suficiente, eu precisava de mais tempo, por favor, Deus, me dê mais tempo. Eu orei, como Joana havia me ensinado um dia desses, ela disse que se a gente desejasse algo, era só pedir, que Ele nos ouviria. Enquanto eu orava, de pé, o bipe da máquina aumentou a frequência, abri os olhos e vi os da Sra. Dickinson abrir seus olhos também, ela ficou um tempo tentando entender, assimilar... até que sorriu e disse com a voz super baixa:

— Meu filho. — eu abaixei mais perto, para ouvi-la dizer de novo. Eu tinha uma mãe! Obrigado, meu Pai! Eu pensei, agradecendo aquela divindade.

— Eu tenho muito o que agradecer...mamãe. — foi um pouco estranho dizer essa palavra, mas eu queria mais do que nunca repeti-la para ela, para ela ficar feliz e voltar para casa, para ouvir todo dia de mim. Minha mãe adotiva tentou abrir um sorriso, que mal pareceu um, então o bip da máquina ficou direto e ela já tinha fechado os olhos de novo, eu vi a linha reta e não podia acreditar no que estava vendo.

— Não, mamãe, por favor, não me deixa! – eu falava desesperado enquanto fazia pressão com as duas mãos no peito esquelético dela, havíamos aprendido isso no orfanato. Ouvi a porta se abrir rápido e os médicos e enfermeiras tentavam me puxar, várias mãos tentaram me tirar, mas me agarrei ao ferro da cama dela. — É a minha mãe, não me deixa mamãe! Por favor, não me deixe também.

— Vem, filho. — um homem de preto consegiu me puxar, era o pai de Joana, eu soube só depois, na hora eu só não queria sair de lá, mas deixei que ele me levasse, eu estava sem forças.

Do lado de fora da sala, eu senti braços finos agarrar minha cintura, mas eu não conseguia retribuir o abraço de Joana. Eu estava perdido, me sentia impotente e uma pessoa horrível. Ela voltou para me ouvir chamá-la de mãe, e então achou que agora podia ir descansar em outro plano. Me senti horrível por não ter chamado ela assim antes, ela desejava muito isso e eu estava preso ao passado, me martirizando, achando que não era digno de outro mãe.

Seu Sorriso é Meu Ponto Fraco (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora