2. Colégio Militar

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      Terminei de me secar e vesti minha roupa de dormir. Mamãe sempre me encoraja a comprar conjuntos de seda, mas eu me sentia mais confortável com algodão e, pelo menos nas roupas de dormir, ela me deixava escolher o que eu queria. Não que eu fosse vestir tudo o que me propunham, minhas roupas tinham que ter um estilo meu também, isso eu sempre tive desde pequena, mas nada disso conseguiu me fazer fugir dos fofos e exuberantes vestidos de princesa quando criança, porque eu bem que gostava deles.

Subi na minha enorme cama com dossel, certas coisa na minha casa eu achava um exagero, mas eu já tinha me acostumado com boa parte de toda essa riqueza, afinal, eu tinha crescido com isso. Fechei os olhos para buscar o sono, mas como na noite passada, meu pensamento seguiu para um certo rapaz de sorriso zombeteiro, que sumiu silenciosamente enquanto eu tocava ontem, e não apareceu hoje. Para a minha tristeza ou felicidade, eu ainda não tinha me decidido se gostava da sua presença lá, me distraía muito. A Senhora Dickinson tinha me dito que ele era um menino reservado, o que me fez reconsiderar sobre sua idade pela palavra que ela usou ao se referir à ele. Cobri bem meu rosto para obrigar o sono a vir e os pensamentos irem embora.

       Me levantei com preguiça de ir pro colégio, eu quase sempre estou com preguiça de ir pro colégio, mas nunca reclamalo e nunca demonstro mal humor, foi o que aprendi para lidar com as obrigações sempre sorrindo. Minha roupa estava bem passada e dobrada no pequeno sofá de couro no canto do quarto, eu gostava da roupa azul marinho do colégio militar, saia de prega, sapato preto, boiana e blusa com o brasão do colégio. Tudo tinha que ser bem passado e impecavelmente limpo.

Papai estudou lá, e acho que foi o que o fez me colocar lá também, eu poderia contrariar e escolher outro, mas ele só me deu três opções: Colégio só para meninas, colégio integral ou o militar. Óbvio, eu escolhi o militar. Era bem legal estudar lá, eramos bem disciplinados e tínhamos muitas atividades, o que me livrou de outras fora do colégio, por um tempo. Tomei banho, me vesti e prendi o cabelo em um coque, não era permitido ir com eles soltos, nem com brincos grandes ou muita maquiagem – na verdade nenhuma maquiagem, talvez só um pó ou corretivo para tirar marcas de sono. Peguei minha mochila e desci para o café da manhã.

— Bom dia, Papai. Mamãe. – lhes beijei o rosto. O café da manhã era o meu momento preferido, porque era o único momento em que estávamos os três juntos, no almoço papai estava no trabalho e mamãe sempre em casa, escolas e outros lugares fazendo seus trabalhos beneficentes.

Depois que se casaram, papai não quis mais que mamãe trabalhasse para outras pessoas, então ela se juntou à outras socialites em causas beneficentes. Ela e papai chegavam tarde em casa, ou quando chegavam cedo, iam fazer outras coisas, e eu almoçava e jantava com a presença da nossa governanta que sempre me fez companhia e que até certa idade foi minha babá. Acontecia de jantarmos juntos, mas eram raras as vezes.

— Como vai a aula de piano, minha querida? – mamãe olhava com entusiasmo para mim. Seu rosto muito bem maquiado, por ela mesma, papai também a fez fazer muitos cursos quando nova, maquiagem foi uma de suas escolhas. 

— Está indo muito bem, mãe.

— E a Senhora Dickinson, como está?

— Está bem, pai. —;o observei bebericar seu café, papai sempre fora um homem muito bonito, vestia os melhores ternos, todos feitos sob medidas. Nunca fora muito rigoroso comigo, só meio exigente com minhas atividades e os lugares onde eu ia, mas ele nem precisava, eu nunca fazia nada fora das regas. Ele só não dava muita atenção suficiente para mim e para mamãe ao decorrer dos dias, mas se preocupava, porque nos dava tudo de que precisávamos; todas as outras coisas materiais pelo menos.

— Você está emagrecendo, princesa? – ele perguntou me medindo da ponta da mesa.

— Ela está crescendo, querido, seu corpo só está esticando. – mamãe respondeu e eu acenti. Não sentia que eu estava crescendo, mas não era educado desmentir nossos pais.

Seu Sorriso é Meu Ponto Fraco (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora