Uma semana se passou desde o velório da Sra. Dickinson e as vezes eu ainda me pegava vestindo a roupa para ir pra aula de piano. Ele foi trazido para nossa casa e agora está na enorme sala. Toda vez que olho para ele ou que me sento de frente a ele, uma bola tampa a minha garganta e sinto vontade de chorar. Eu sabia que todo mundo iria embora um dia, que ninguém é imortal, um dia também chegaria a minha vez, mas doía saber que o mundo perdeu uma pessoa tão incrível quanto ela.
Eu não perdi só uma professora, eu perdi uma grande pessoa que tive oportunidade de passar muito tempo em sua companhia. Meus pais e muitas outras famílias perderam uma grande amiga e seus irmãos perderam a irmã caçula. E claro, eu não podia deixar de falar de Augusto, que perdeu sua mãe. Quando ele me contou que ela queria muito ser chamada assim e que ele conseguiu semente no último fio de vida dela, eu o abracei forte para consolá-lo, mas eu chorava mais do que ele. Sabia o peso do que aquela confisão devia ter sobre ele, só imaginava o quanto ele devia estar sofrendo por isso e por ter perdido a única mãe que ele teve na vida. A mãe que o acolheu mesmo ele tendo idade para se virar sozinho, a mãe que lhe deu um lar e lhe deu carinho.
Ela fazia ele se sentir um filho legítimo, cuidando dele até mesmo depois de já ter ido, lhe deixando com a pose de tudo. Mas eu conhecia meu Augusto, ele iria preferir ter ela de volta a ter tudo aquilo, ele realmente não queria saber de toda a sua herança, ele ainda estava vivendo o luto. Algumas vezes eu fui lá depois da aula, quis que ele saísse de casa e fosse dar uma volta comigo, só para ele sair de casa, mas ele se recusava. O advogado da família tentava convencer ele a não doar tudo, mas ele não o respondia, todo dia eu conversava com ele sobre isso.
Eu temia que ele ficasse sem nada ao ponto de morar na rua, temia que ele virasse um mendigo. Cada vez que eu conversava com ele, deitados em sua cama ou no sofá da sala de sua casa, ele ficava quieto, então eu sentia que talvez ele pudesse estar cedendo aos poucos. Eu não queria desistir disso, achava linda a sua ideia de ajudar todo mundo, pessoas que vivem do jeito que ele viveu quase a vida toda, mas agora ele não precisava mais viver assim, ele merece tudo isso, e pode continuar ajudando muitas instituições como a Sra. Dickinson já vinha fazendo, mas sem ficar sem nada, como ele pretendia.
— Tive uma ideia, você podia estudar, fazer os anos todo até o ensino médio e depois escolher uma faculdade. Você gosta tanto de ir a academia, pode fazer de Educação Física. — era uma sexta-feira e estávamos vendo filme no quarto dele, eu estava deitada em seu braço e ele estava fazendo círculos no meu com o dedo. Ele estava sempre distraído, fingindo que estava assistindo a TV comigo, mas estava sempre com a cabeça em outras coisas.
— E entrar no jardim de infância com 21 anos? Passo.
— Você pode contratar um professor particular, pode estudar em casa, muitos famosos fazem isso e pegam o diploma de conclusão.
— Eu não sou famoso e não quero gastar com isso tendo tantas pessoas passando fome e morando na rua. – ele sempre dizia isso, e meu coração até doía, ele estava certo quanto a isso. Mas ele também podia ser a próxima pessoa a passar fome e morar na rua.
— O que você pretende fazer? — eu estava ligeiramente irritada, não por ele pensar em erradicar a fome no país, mas por ele não estar pensando em sí próprio também.
— Eu sempre posso dar um jeito. – ele disse, sem pensar nem por um segundo, ele tinha resposta pra tudo que eu dizia. E a maioria não o levava a lugar algum, me deixando no escuro ao tentar ajudá-lo.
— Tenho que ir pra casa. — eu fiz menção de levantar mas ele me puxou de volta, me abraçando apertado contra seu corpo e jogando uma perna em cima de mim.
— Fica comigo, por favor. Já disse que você não precisa se preocupar comigo, você está fazendo suas provas finais e precisa se concentrar nisso.
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Seu Sorriso é Meu Ponto Fraco (CONCLUÍDO)
Romance👠Joana é de uma família rica, sempre obedeceu as ordens do pai e estuda em um colégio militar, mas sua paixão mesmo é a música, a mesma faz aula de piano com uma senhorinha encantadora. É sério, vocês vão amá-la. 🕶Augusto é um cara sem escrúpulos...