Abigail Machado...
Sabe aquela sensação de corpo moído, como se tivesse tomado uma surra? Tenho a impressão de que até meus fios de cabelos doem. A cabeça lateja, parece estar enorme. Bem que merecia uma surra por ter bebido tanto. O que me deu para fazer isso?! Nunca gostei de abusar. Sei que preciso me levantar, mas mal consigo abrir os olhos. O que andei bebendo? As lembranças da despedida de solteira de Theodora vão chegando aos poucos em pequenos flashes.
Espreguiço-me e abro os olhos devagar. O ambiente está a meia luz, por isso não sei se é dia ou noite. Deslizo as mãos pelos lençóis macios. Inspiro o aroma gostoso que exala dos travesseiros. O cheiro me lembra alguém, mas no momento não consigo identificar. Espera! Esse não é meu quarto. Também não é o quarto da Theo, nem de Chico. Nunca estive nesse lugar! Droga! Deus, não permita que eu tenha feito alguma besteira ontem! Esfrego os olhos na tentativa de organizar as ideias.
Círculo o olhar pelo cômodo. O único indício de que outra pessoa esteve aqui é um relógio de pulso masculino que repousa na mesinha de cabeceira. Franzo a testa. Puxo os joelhos para cima e os abraço me encolhendo. O perfume dos lençóis atingem minhas narinas novamente. De repente tenho um estalo. Lembro-me de falar para Kayke de que o achava cheiroso. Sim! É o seu perfume! E o relógio é dele! Já o vi usando. Arregalo os olhos. Não! O que aconteceu?!
Toco-me por baixo do edredom. Uso apenas um roupão felpudo. Nada mais! Na borda da peça, em alto relevo, um K bordado. Mais um flashe da noite passada me atinge. A voz de Kayke sussurrada em meu ouvido dizendo que me levaria com ele. Lembro-me de querer contestar, mas me faltou forças.
Levo as mãos às têmporas. Minha cabeça ainda dói, mas preciso enfrentar as consequências das besteiras que andei fazendo. Como Theodora e Chico me deixaram sair da festa com Kayke Avellar? Eles sabem que nós nos detestamos! Na certa andaram bebendo também. Porque ele me trouxe para esse lugar? Sera que é sua casa?! Levanto-me lentamente e sigo para o banheiro. A suíte é bem luxuosa. Depois de tomar uma ducha rápida, caminho de volta ao quarto. Não vejo minhas roupas em lugar algum, então aperto com força o cinto do roupão e tomo coragem para sair do quarto e enfrentar a verdade lá fora...
Saio em um corredor iluminado. Os pés descalços pisam o chão claro e gelado. Algumas portas estão fechadas. No fim, noto que estou no andar superior do apartamento. Uma escada de corrimão de vidro me leva a uma grande sala de estar. Tudo é muito clean no ambiente. Sofás e almofadas claras. Paredes brancas. Outra parede toda de vidro. E no lado oposto, uma mesa de madeira faz contraste com o restante dos móveis.
Na metade da escada, noto ao meu lado direito, uma cozinha americana. Ouço movimentos vindo de lá. Desço os últimos degraus e surpreendo Kayke preparando algo bem à vontade na ilha da cozinha. Ele ergue os olhos e para o que estava fazendo. Pela primeira vez não sei o que dizer. Então, apenas sento na banqueta à sua frente.
__ Finalmente.__ Solta um de seus sorrisinhos debochados.
__ Bom dia.__ Sinto-me constrangida. Desvio de seus olhos.
__ Acho que está mais para boa tarde.__ Outro sorriso debochado.
Está na cara que se diverte com a situação.
__ Não imaginei que tinha dormido tanto.__ No relógio da cozinha marca uma da tarde.__ Sinto muito.
__ Sem problemas. __ Volta a temperar uma peça de carne.
__ Kayke...__ Remexo-me na banqueta tentando encontrar palavras para entrar no assunto.
__ Sim, Abigail.__ Não me olha. Continua concentrado na tarefa.
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Ela é cringe.
RomanceComédia romântica que narra as desventuras de Abigail Machado, jovem inteligente, de bom coração, criativa e esforçada, porém com certa propensão a pequenos incidentes. Abi, como amigos e parentes costumam chamar, se desdobra para ajudar a mãe a toc...