__Tem certeza que a cadeira está confortável, Abi?__Os amigos do escritório rodeiam minha mesa cheios de cuidados.
__Tenho sim, Tata. Está tudo bem.
__ Ainda sente muita dor? Se precisar tomar algum comprimido, posso pegar água para você...__ Alex oferece.
__ Ei, Abi. Já sabe o resultado das investigações?__ Maurício diminui a voz em tom conspiratório.__ Foram os pais de Kayke que armaram tudo para chantagea-lo.
__ Mas essa.__ Me desligo um pouco dos vários comentários ao meu redor pensando como tudo isso deve ainda estar afetando Kayke.
__ Porque o senhor Hugo sabotou um projeto da própria empresa?__ O rapaz da xerox questiona.
__ Está muito desinformado, Fred! Não estamos nos referindo ao senhor Hugo Avellar. Não sabia que Kayke é adotado?__ Um dos publicitários explica.
__ Preciosa! De volta tão cedo?__ Rico acaba de chegar. Se aproxima e senta na beira de minha mesa.__ Como se sente?__ Segura meu queixo.
__ Estou me recuperando bem, Rico. Obrigada.
__ Sabia que esse escritório não foi o mesmo sem você?
De um momento para o outro, a aglomeração formada envolta de minha mesa se abre assim como o mar vermelho. Kayke caminha entre os funcionários. As mãos nos bolsos e o olhar fixo em mim. O pessoal começa a dispersar rapidamente.
Droga.
Fuzila Rico com os olhos. O fotógrafo desliza devagar pela mesa, sustentando seu olhar. Mas levanta e pede licença. Logo, toda sua atenção se volta para mim.
__ O que faz aqui?__ Apoia as mãos na mesa.
__ Estou retomando aos poucos a rotina. Tenho muita coisa pendente.__ Sustento seu olhar.
__Quem te liberou para trabalhar, Abigail?__ Kayke fecha os olhos demonstrando impaciência.
__ Eu me liberei.__ Ergo mais o queixo.__ Já estou me sentindo melhor. A não ser que me demita ou me expulse do escritório, não irei embora, Kayke.
Ele cerra os olhos. Abre a boca uma, duas vezes. Olha para os lados. Todos disfarçam em alguma atividade, mas estão atentos a cada palavra nossa.
__ Me siga até minha sala, agora.__ Fala praticamente com os lábios fechados...
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Fecho a porta atrás de mim. Dou alguns passos até o meio do escritório. Kayke está em sua posição costumeira, encostado na mesa. Olho para trás, o vidro que dá visão a todo o escritório está com as cortinas fechadas.
Droga outra vez.
__ Não aprendeu nada durante esse tempo em que trabalha comigo?__ Cruza os braços. __ Sabe que odeio ser desafiado na frente de meus funcionários.
__ Não te desafiei, Kayke. Apenas expliquei o que perguntou. __ Ele passa a mão nos cabelos algumas vezes.
__ Mas que merda, Abigail! Por que é tão teimosa?__ Fala entredentes.__ Você tomou um tiro! Era para estar em casa se recuperando!
__ Mas já estou melhor! Foi apenas de raspão. Prometo não fazer muito esforço. Se quiser posso ficar apenas meio expediente.
__ Não quero que faça nada!__ Aumenta o tom de voz. Isso me assusta. Dou um passo para trás.__ Meus olhos se enchem de lágrimas.
Kayke me encara. Logo se dá conta do que fez. Solta o ar de uma só vez. Faz um muxoxo e se aproxima. Dou mais dois passos para trás.
__ Me perdoe.__ Solta os braços parecendo indefeso.__ Não devia ter gritado com você. Não tem culpa de nada. Muito pelo contrário.
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Ela é cringe.
Storie d'amoreComédia romântica que narra as desventuras de Abigail Machado, jovem inteligente, de bom coração, criativa e esforçada, porém com certa propensão a pequenos incidentes. Abi, como amigos e parentes costumam chamar, se desdobra para ajudar a mãe a toc...