Hooooieeee!!!Então... Feliz Natal pra vocês, pessoas maravilhosas! Tenham uma ótima semana, boas festas e vejo vocês de novo amanhã com mais dois capítulos! Teria postado mais cedo, mas fui obrigado a ser dona de casa.
Aqui está umas ceninas tristes e pesadinhas pra se sentirem bem... bem mal. Mazenfim...
Boa leitura.
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[Narrado pelo autor]
No laboratório...
Mickael: — NÃO! Não faça massagem cardíaca! — gritou para Thay.
Thay: — Mas o coração dele está parando! — Marcus chegou e entrou rapidamente no laboratório.
Marcus: — O que está acontecendo com ele??? — questionou assim que notou os aparelhos apitando enquanto Anco ficava cada vez mais pálido. Mickael estava se movendo rapidamente para todos os lados, preparando e misturando substâncias.
Mickael: — Outra parada cardíaca. Não podemos mais fazer massagem cardíaca porque, de alguma forma, os ossos dele estão se degradando rapidamente.
Marcus: — O quê?! — ele correu para um dos aparelhos, que mostrava Anco por dentro em tempo real. Não foi difícil perceber que faltavam três costelas em Anco, e duas delas estavam literalmente derretendo. — Mas que porra... está acontecendo?
Otávio repentinamente se materializou próximo ao Mickael, ao lado de Ynatta e Troy, e ela ainda estava com a roupa de tutora, assim como Otávio.
Troy: — Anco??? — ele correu até o homem em coma. — O que... — olhou para Mickael.
Mickael: — Não dá...
O Dr. Mickael depositou a seringa numa mesa e suspirou enquanto olhava para o chão. Deu um soco na mesa e se curvou, incapacitado de continuar.
Mickael: — Não dá... — sua voz ficou trêmula e ele estava prestes a entregar seu posto. — Não podemos salvá-lo. Ele já está morto. Me perdoe, Troy, mas não podemos continuar.
Marcus: — O quê? Não...
Troy: — O que está dizendo, seu imbecil?! Vai desistir assim?! — o delegado voou pra cima do amigo e agarrou o colarinho de seu jaleco, quase o erguendo no ar.
Mickael: — T-Troy...
Troy: — Não! Você está aqui pra salvar ele! O que pensa que está fazendo entregando a bandeira?! — sua voz também ficou trêmula. — Eu venho trabalhando que nem um filho da puta pra resolver isso e eu quero que você faça o mesmo. Aquele desgraçado deitado ali é importante pra nós! Você não vai desistir!
Mickael: — Eu também tenho trabalhado dias sem descanso. Ele está derretendo por dentro, Troy. Não posso salvá-lo se nem sei com o que estamos lidando. Não é algo deste mundo... essa porra está além da nossa compreensão.
Troy agarrou o pescoço de Mickael e ligeiramente o afastou do chão. Mickael, sufocando aos poucos, tentava pronunciar uma palavra, mas não conseguia. Sentia a mão de Troy suando, e suas células adentrando seu corpo, invadindo seu sistema nervoso e anestesiando seus músculos.
Otávio: — Troy...
O Delegado tirou um canivete no bolso e abriu um corte nas costas de sua mão. O sangue não saiu de imediato, mas alguns segundos se passaram e... o sangue saiu como tentáculos de sua mão e se esgueirou ao redor do pescoço de Mickael. Marcus ainda estava processando tantas informações, e estava estático encarando Anco morrendo. Ynatta sabia que ela seria inútil naquele meio. Troy já a machucou antes, e ele é muito mais poderoso que ela, apesar de ela ser considerada uma das mais fortes e mais habilidosas da Colônia. Mas Troy é extremamente resistente, e seu sangue é capaz de ferir até mesmo Gabriel, que tem uma resistência absurda. Troy não é um Diract normal. Suas habilidades transcendem o que eles consideram normal no meio sobrenatural. Só um deus pode parar um tão forte quanto um deus.
Mickael: — T-T-Tro... Troy... n-não... — tentou dizer, mas engasgando. Os olhos de Troy ficaram completamente vermelhos. A pele de Mickael absorveu o sangue, e aquilo estava o mudando por dentro.
Troy: — Se você não quer mais fazer isso... eu vou te forçar... ou você morre.
Ynatta: — Troy, você vai matá-lo! Pare com isso! — gritou de longe. Ela não cometeria o mesmo erro de novo. Jamais se aproximará da fúria do amigo. Otávio suspirou. — Já acabou, Troy. Ele vai morrer de qualquer jeito, não tem mais nada que Mickael possa fazer. Acabou.
Troy: — Não. Não é assim que acaba! Não vai ser assim... — sua voz fraquejou. Sentia cada célula dentro do corpo de Mickael dominando os pontos vitais. Suas células dominaram o sistema nervoso da vítima e desativaram suas habilidades, o deixando inútil e imóvel. Seu cérebro foi dominado rapidamente. Se o Delegado quisesse matá-lo, levaria menos de segundos para acontecer, e sem deixar vestígio algum além de intoxicação do sangue e falência múltipla dos órgãos.
Otávio: — Já chega, Troy. Solte-o, ou eu vou te machucar.
Troy: — Vá pra casa, pirralho. Você não entende...
Otávio se aproximou e tocou o ombro de Troy, que instantaneamente rosnou e deu um espasmo.
Otávio: — Não vai ser essa arrogância que vai ajudar Anco. Não dá pra salvá-lo. O melhor médico da Terra não consegue, quem dirá você o obrigando a trabalhar em dobro. Em menos de uma hora Anco morrerá. Use o tempo que você tem pra assumir o que você sente e pra se despedir dele. Não culpe os seus amigos por isso... não depois de tudo o que vocês passaram juntos em Canamediam. Vocês são sobreviventes também.
Troy: — Anco... a alma dele é a coisa mais admirável que esse mundo de merda teve a oportunidade de conhecer. Se o perdermos, estaremos condenados. Pra mim ele é mais do que especial. Esse insuportável está ligado a mim e eu sei disso. Ela me disse... ela me enche a porra do saco com essa merda de amor!!! — apertou com mais força o pescoço de Mickael. As células de Troy abriram fissuras em vários pontos do corpo dele, e começaram a expulsar o sangue de seu próprio corpo.
Otávio: — Afrodite está certa. Você está apaixonado, e isso é óbvio. Você demonstra dessa forma esquisita cheia de xingamentos, mas eu sei que você ama ele. Vocês estão conectados e eu sei que você odeia isso, mas Mickael também não tem culpa por isso. Minha avó só tentou abrir seus olhos. Vocês estão aqui um pelo outro, mas... chegou a hora dele.
Troy: — Eu não vou cair no papinho da sua avó ridícula sobre essa porra de amor. Pra que merda a gente está conectado, se ele vai morrer?! — Otávio suspirou.
Otávio: — Se você matá-lo, eu vou ser obrigado a te matar também.
Troy: — Tente... Pirralho.
Rapidamente Ynatta agarrou o braço de Thay e Marcus e os puxou para bem longe dos dois. Marcus ainda nem processou o início da discussão, mas foi interrompido. Se sentia mal, enjoado, e queria só... desaparecer e esquecer quem ele é completamente só pra não sentir o que estava sentindo. Ele não estava preparado pra perder mais alguém. Já perdeu pessoas muito importantes, inclusive pessoas de sua própria família que morreram para protegê-lo. Seus sentimentos viajaram a pontos profundos de sua alma que ele ocultou tão, mas tão fundo... e isso tudo iria ativar-lhe gatilhos, mas ainda bem que Ynatta o interrompeu.
Thay: — O que tá rolando? — o ignoraram. Ficaram olhando de longe.
Otávio agarrou o punho de Troy com força. No mesmo momento a pele de Troy ficou cinza... o fluxo do sangue foi interrompido e sua mão abriu, deixando com que Mickael caísse imóvel no chão, com o jaleco manchado por seu próprio sangue. Os olhos dele voltaram à cor normal, córneas brancas e íris pretas.
Troy: — Me mate... se puder... pirralho...
As veias de seu braço saltaram e se tornaram pretas. O laboratório inteiro começou a tremer, como se estivesse acontecendo um terremoto de baixa escala ali dentro. Só ali dentro. As coisas começaram a cair, mas isso era o menos importante. Troy gritou e se ajoelhou. A dor em seu braço era tanta, que fez um tiro parecer só uma picada de mosquito. Foi dor o suficiente para render o homem mais durão do estado. Otávio estava com os músculos do rosto enrijecidos, mas ainda assim parecia pleno. Sua expressão não mudou da natural.
Otávio: — Você ameaça a vida de pessoas que não tem nada a ver com os seus problemas. Não é nossa culpa se você não assumiu seus sentimentos antes e aproveitou o que foi oferecido a você. Se você quer morrer com ele, faça do seu jeito. — soltou o braço do Delegado e empurrou seu peito com o pé, o forçando a deitar no chão. O laboratório parou de tremer. — Eu te considero minha família também, você me criou e é um pai pra mim. Eu não vou te matar... não agora. Só foque no que é importante.
Otávio direcionou a mão direita para Mickael. Seu corpo tremeu, e pelas fissuras e rachaduras em sua pele saiu o sangue de Troy que invadiu seu corpo. Todo o sangue de Troy flutuou para fora de Mickael e veio como uma esfera escarlate à mão de Otávio, onde ficou circundando seus dedos. A expressão neutra e assustadora de Otávio evitava que pudessem prever seus movimentos e tentassem lê-lo. Ele tinha pleno controle de seus sentimentos.
Troy: — Você não entende...
Otávio: — Não. Mas eu entendo que você não deve culpar os outros. Se acha que eles não podem, então faça você, mas não coloque a vida dos seus amigos em risco. Eles já sofreram uma vez, e eu não vou deixar que sofram mais. Minha missão é proteger a Colônia, e nós somos a Colônia.
Troy se levantou e iria contra Otávio, mas em um movimento, o garoto arremessou todo aquele sangue contra Troy como navalhas, que bateram no peito do Delegado e adentraram seu corpo, voltando ao habitat natural. Troy foi arremessado para trás, atropelando mesinhas e se chocando contra a parede de metal com toda força. Os papéis de exames voavam pelo laboratório, e o que o pequeno tremor não derrubou, agora também estava no chão.
Otávio: — Eu tenho o seu DNA, e com isso suas habilidades. Usar isso contra mim vai ser inútil, você sabe.
Mickael: — Obrigado... Tavinho... — tentou dizer baixo, mas sua garganta ardia e tinha gosto de sangue. Otávio o ajudou a se levantar e o sentou em uma cadeira. Mickael não conseguia andar direito. Estava muito fraco pra fazer qualquer coisa. Troy sugou toda sua energia.
Otávio: — Troy, vá pra casa esfriar a cabeça.
Troy: — Vá se foder... — se levantou com as mãos no peito. Logo sua pele cicatrizou. — Vão todos vocês se foder com essa merda de mundo fodido do caralho. Eu vou achar uma forma de ajudá-lo... mesmo que eu morra. — ele riu de uma forma forçada e chacoalhou a arma. Otávio nem se preocupou muito. Uma arma de fogo daquele tipo não machucaria ninguém naquela sala, e até Troy sabia disso. O contrário do sangue dele, que machucaria até o Rei Lycator facilmente. — Vai geral aqui morrer mesmo. Eu quero é que se foda.
O Delegado foi até Anco e deu uma última olhada nele... Apenas sorriu de canto, deu as costas aos outros, guardou sua arma e foi embora em passos rápidos.
Marcus: — Doxja, mostre ao Troy a saída. Não deixe que ele entre aqui de novo.
Doxja: — Entendido, Majestade. Proibição armazenada. Marcando fisionomia do indivíduo... por qual motivo, Majestade?
Marcus: — Representa perigo pras pessoas. Ele é muito forte e instável. Pode machucar a mim e aos outros presentes.
Doxja: — Armazenando dados. Proibição aceita. Delegado Troy expulso. — as luzes fora do laboratório ficaram vermelhas até que Troy saísse da câmara.
Marcus: — Perdão por isso, mas eu não quero ele aqui. É por nossa proteção. Aparentemente ele tem arma contra nós.
Ynatta: — Eu entendo. É difícil de controlá-lo às vezes. Só há duas pessoas que sabem como lidar com ele.
Thay: — Ele é gostoso. — Marcus e Ynatta olharam pra ele com as sobrancelhas franzidas. — O que foi?
Marcus revirou os olhos e o ignorou. Foi até Mickael e se ajoelhou à frente dele para ver seus ferimentos. Suas mãos tremiam e seus lábios estavam muito pálidos. Ele apontou para o freezer no canto e Otávio foi até lá pegar uma garrafinha de água e entregou a Marcus, que a deu para Mickael.
Mickael: — Ele quase me matou... — ele riu. — Vocês viram? Que adrenalina. — Otávio riu. — Me perdoe por não conseguir, Majestade... me perdoe, eu sinto muito. — seus olhos se encheram de lágrimas.
Marcus: — Me deixem sozinho com ele, por favor? — Otávio assentiu. Os três saíram do laboratório e voltaram pro salão, onde Sílvia e Malía conversavam e verificavam as notícias no telão.
Mickael: — Eu decepcionei vocês... eu decepcionei meus amigos...
Marcus: — Você não me decepcionou. — tocou o joelho do Doutor. — Você é um cara incrível, sério. Foi um prazer enorme ter te conhecido, e obrigado pela ajuda. Sabíamos desde o começo que não seria fácil e que isso poderia acontecer. Tivemos esperança, mas... — ambos olharam para Anco. Ele estava magro e... pálido. — Só não era pra acontecer. Deixe Anco descansar. Ele merece muito. Ele nos salvou muitas vezes, lutou por nosso povo, nos protegeu por anos aqui e nunca deixou de ser fiel. Ele sempre foi um soldado modelo para muitos outros. Todo um reino se inspirará nele, assim como Ravick. Da mesma forma que eu quero me inspirar em você.
Mickael: — ... — olhou para baixo e suspirou. Se lembrou de tudo o que perdeu durante sua vida. — Eu sou um Diract de longevidade... mas todos os dias eu só desejo morrer, não queira se inspirar em alguém que quer a própria morte. — lágrimas misturadas com sangue escorreram por seus olhos. Ele tentou enxugá-las, mas foi inútil tentar. — Meu maior sonho ultimamente tem sido descansar. Eu não aguento mais esse mundo, que a gente precisa aprender a perder as coisas mais importantes pra nós. Eu não quero aprender a sentir dor!
Marcus: — Eu te entendo. Se acostumar a não ter as pessoas importantes conosco é como...
Mickael: — Se esquecer delas. — Marcus assentiu.
Marcus: — Eu entrei na sua cabeça. Eu vi suas memórias e... por quê? — riu baixo, com um pouco de nervosismo. — Como você consegue agir normalmente depois de... de ter cavado o túmulo dos seus amigos com as próprias mãos... literalmente!
Mickael: — Eu... não sei. Eu convivi com isso por mais de quatorze anos. Todos os dias eu vejo sangue nas minhas mãos e vejo meus amigos na escuridão. Eu não tenho mais alma. Eu não tenho parte de mim aqui. Tudo o que eu tinha foi enterrado com eles. — Marcus se aproximou e segurou as mãos do recente amigo. A amizade que ele mais se conectou na Terra, e a que se desenvolveu mais rápido, em tão pouco tempo. Aquele médico era tão diferente das outras pessoas... o causava sensações boas de sentir.
Marcus: — Quando eu tinha onze anos de idade... eu vi meu irmão mais velho morrer na minha frente. Estávamos em uma guerra entre reinos, onde Kroath, minha cidade natal, iria ser dominada por outro povo. Meu irmão, Kazameh Sutabooh, me protegeu até seu último suspiro. Eu o vi ser destroçado... me banharam com o sangue dele, e usaram sua carne para alimentar feras. Eu era tão fraco, tão frágil... tão... fraco.
Ao se recordar de um passado tão distante, Marcus tocou o próprio peito e sentiu a dor retornando. E isso não é bom para alguém como ele. Sentir tudo aquilo de novo... sofrer ao se lembrar... derramou suas lágrimas, mas nem se importou em enxugá-las.
Marcus: — Eu ainda posso sentir o gosto do sangue dele... escuto as risadas dos nossos inimigos... enquanto espirravam o sangue do cara mais importante da minha vida na minha cara, me forçando a saborear a derrota do meu reino... foi horrível. Enquanto eu era refém, eu desejei morrer a cada minuto. Foi quando eu acessei um poder em mim que era nocivo a tudo ao meu redor. Eu mesmo dizimei todo um reino pra vingar meu irmão. E eu era só uma criança. — seu queixo tremia, mas não pelas dezenas de ar-condicionados no laboratório, mas sim pela ansiedade ao se recordar de um período tão difícil. — O ataque ao meu reino foi conhecido como Massacre de Davi-Navi. Foi algo tão cruel, que fomos proibidos de tratar do assunto. O povo ergueu uma estátua de Kazameh, mas foram proibidos de falar sobre ele e sobre o Massacre. Foi horrível fingir que o maior herói de Cetos nunca existiu. Até hoje meu irmão caçula não sabe da existência dele, e me dói muito que ninguém da nova geração o reconheça. Meu pai nunca foi um monstro... ele se tornou depois do Massacre. Mudou o nome da nossa família apenas para Abooh e abandonou quem ele era. Eu me lembro de poder abraçá-lo e brincar com a barba dele, mas depois... sentimentos são para pessoas fracas, ele dizia.
Mickael: — Eu sinto muito. Eu sei sua dor. — Sem se importarem com o sangue, ambos se abraçaram com força enquanto se consolavam nos ombros um do outro. — Sua história... nunca vi algo tão cruel em toda minha vida. É algo que está além da compreensão deste mundo.
Marcus: — Até hoje eu não entendo muito e evito relembrar. Meu relacionamento com minha família nunca foi bom, e eu até entendo. Meu irmão caçula, Turok... eu acho que sempre fui muito exigente com ele. Eu esperava encontrar um novo Kazameh, mas isso é impossível. Eu estava depositando um peso muito alto em alguém que não merecia. Esse é um dos motivos que me fez decidir largar tudo e ficar aqui, rejeitando qualquer contato com Kroath. Criei uma família e me tornei um Savih muito feliz. Eu tenho uma esposa maravilhosa, uma filha maravilhosa, um filho incrível... meu sobrinhos são admiráveis, e minha vida aqui foi fácil e pude descansar. Mas agora tudo está voltando mais forte do que nunca, e eu estou cansado de novo. Eu só queria desaparecer também. Mas eu amo minha família, e vou continuar lutando por eles até o dia da minha morte.
Mickael: — Caramba, eu te admiro pra cacete cara. Sério. É o cara mais forte que eu já vi, e digo isso com tranquilidade. E olha que eu escutei só uma história sua, e eu sei que há muitas outras. Eu quero ouvi-las também.
Marcus: — Igualmente. — dentre tantas lágrimas, ambos conseguiram sorrir um pouco. Mickael gemeu de dor e Marcus percebeu que ele também não merecia mais dor. — P-posso ajudar com isso...?
Mickael: — Vão demorar a cicatrizar, mas tudo bem. Mais ou menos cicatrizes não farão diferença.
Ambos suspiraram. Mickael notou o olhar fixo de Marcus para seus olhos, e no momento em que fitou-o em retorno, não conseguiu mais afastar-se. Os olhos do Rei Lycator são lindos de uma forma difícil de descrever. São como duas estrelas azuis cintilantes que hipnotizavam qualquer um inferior a ele... e provavelmente até os superiores a ele. Lycator é jovem e muito bonito. O azul de seus olhos mantiveram Mickael em silêncio enquanto tudo ao redor também se calava. Marcus se ajoelhou, tocou o queixo do novo amigo e olhou para seus lábios manchados de vermelho. Ambos se inclinaram para frente. Os lábios de ambos se tocaram por um breve momento, mas ambos recuaram um pouco. Marcus queria curá-lo, mas Mickael não sabia que era pra isso. Nem Marcus tinha completa certeza se estava fazendo aquilo exatamente para curar o rapaz, ou se...
Após recuar por um momento, Mickael tocou o rosto de Marcus, e sua mão macia e calma causou um calafrio pela nuca do Rei. Ambos olharam-se nos olhos e os fecharam, entregando-se a um beijo mais intenso. Mickael sentiu seu corpo formigar, como se formigas realmente estivessem cobrindo-o inteiro, e com Marcus não foi diferente. Usou sua língua contra a boca de Mickael, e sentiu o médico fazer o mesmo. Ambas as língua se tocaram, com um leve gosto ferroso, e foi difícil evitar uma excitação ainda maior. Marcus agarrou as coxas de Mickael e mordeu-lhe o lábio de baixo. Voltaram ao beijo e Mickael invadiu a boca do Rei com sua língua agitada. Marcus interrompeu o beijo e, ainda de olhos fechados, tocou o nariz nas bochechas do rapaz, acariciando-lhe com o próprio rosto. Os ferimentos de Mickael começaram o processo de cicatrização, anestesiando rapidamente a dor aguda que ele sentia.
Ainda acariciando o rosto do médico com seu nariz e com seus lábios, Marcus tentou evitar voltar a beijá-lo, mas a vontade era muito grande. Mickael segurou-lhe o queixo e o fez parar um pouco... e então beijou-lhe mais uma vez, com mais suavidade, e Marcus não resistiu em entregar-se mais uma vez, curando mais os ferimentos de Mickael. Foi melhor do que ambos esperavam que fosse. Mickael abriu um sorriso, que foi retribuído rapidamente. Marcus mordiscou os lábios.
Mickael: — Uau... — Marcus riu. — Uau... Uau, uau...
Marcus: — Ham... — ele se afastou. Ambos coraram completamente e desviaram o olhar. Marcus mordeu o lábio inferior com força enquanto encarava o chão completamente corado. Mickael fez o mesmo.
Mickael: — Isso foi... inesperadamente bom. — ele olhou para as próprias mãos e se assustou. — O-o que... como isso... — ele olhou para Marcus curioso. — Foi...
Marcus: — Sim, fui eu. A saliva da família real de Kroath tem a capacidade de acelerar o metabolismo em uma escala inacreditável. As células podem se regenerar, curando ferimentos mais rápido. — o médico ali ficou boquiaberto olhando para o próprio braço lisinho, sem corte algum.
Mickael: — Isso é esplêndido! Quantas... quantas vidas você já deve ter salvado, Majestade... — Marcus deu de ombros e manteve o sorrisão.
Marcus: — Muitas. Mas por favor, mantenha isso em segredo. Eu poderia apagar sua memória agora, mas... eu não quero fazer isso. Eu quero confiar em você. — Mickael assentiu e se manteve quieto por alguns segundos, apenas pensando e tentando entender o motivo de ser um segredo, mas logo entendeu.
Mickael: — Esse tipo de poder levaria a uma guerra facilmente.
Marcus: — Exato. É um segredo da minha família. Nem mesmo nosso povo sabe sobre isso, é apenas uma lenda. Nós podemos controlar, mas se descobrirem... haveria uma guerra por esse recurso. No entanto não é apenas a cura. Se não usada por nós, se torna um veneno que pode levar à loucura.
Mickael: — É... — ele riu. — dá pra entender. Não se preocupe, seu segredo está guardado comigo, eu prometo... mas... então... esse beijo foi... só pra me curar? — Ambos coraram e olharam pro chão.
Marcus: — Claro. Achou que seria pra quê? Pfff... nah! Pfff... — Mickael mordeu o lábio de baixo ao notar que Marcus fez o mesmo.
Mickael: — Valeu. Apesar disso, foi bom. — Marcus corou outra vez. Raramente ele se sente tão tímido assim, mas algo em Mickael ativava um efeito em seu corpo que nem ele conseguia entender por hora.
Marcus se levantou e voltou para perto de Anco. Mickael o acompanhou e ambos suspiraram ao lado do corpo. O pulso estava bem fraco, e seu tórax estava menor e com falhas na estrutura pela falta de costelas. Sua pele estava pálida. Seu corpo já estava morto. Aquilo só estava o fazendo sofrer ainda mais.
Marcus: — Descanse, irmão. Eu jamais esquecerei você. Você representa fidelidade e honra pra mim, e eu te amo muito mais do que amo a mim mesmo. Eu sou grato por cada vez que você esteve ao meu lado e me ajudou a ser o homem que sou hoje. Agradeço também por ter cuidado dos meus filhos e dos filhos do Turok. Estamos todos orgulhosos de você. Este descanso é merecido, Anco. Fique bem, seja lá para onde sua alma vai dirigir desenfreadamente. Espero que eu te encontre na próxima vida.
Lycator tocou a própria testa com suavidade, com o dedo indicador e o dedo do meio juntos. Ao descer os dedos pelo tronco do nariz, uma fina linha luminosa na cor laranja ficou pra trás. Da ponta do nariz, ele esticou a linha que iluminou a ponta de seus dedos e a apontou para a testa de Anco. Um Duramanoshy perfeito.
Marcus: — Vou descobrir o que aconteceu, eu prometo. Eu te amo, meu amigo. — ao fechar os olhos com força, suas lágrimas pingaram... então como último ato, tocou a ponta luminosa dos dedos na testa de anco, o iluminando com a luz de todo o amor que sentia. Logo a luz apagou, e Marcus sabia o que devia fazer. Se deslocou para os aparelhos e... os desligou manualmente. Desligou todos com as próprias mãos, sem usar o comando de Doxja pra isso. Esse ato foi doloroso ao extremo para ele. Ele estava suportando aquilo como Atlas segurando o globo nas costas. Era demais pra ele, e ele sabia disso, mas conseguiu, de alguma forma, se manter de pé.
Mickael: — Eu sinto muito... — tocou o ombro do amigo com os olhos completamente marejados e vermelhos. Marcus respirou profundamente e sua voz saiu bem tremida.
Marcus: — E-eu sei que sente...
Mickael o abraçou mais uma vez, mas... Marcus não teve forças para retribuir o apoio. Só chorou. Foi o choro silencioso mais doloroso que Mickael presenciou. Já viu pessoas gritando, chorando aos berros, esperniando, desmaiando pela dor da perda e do luto, mas Marcus estava em puro silêncio. Só se escutava seus soluços. Mais uma vez estava se prendendo. Guardar tudo da forma que ele fazia, uma hora o faria explodir.•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
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ABOOH : Amores Sobre-Humanos
Romance[+18] O que você faria se descobrisse que não pertence ao lugar onde morou por toda sua vida? E se soubesse que o futuro de sua verdadeira casa está sendo ameaçado junto com toda sua família e você precisa fazer algo para salvar um de seus lares? Q...