CAPÍTULO 95: Presos No Escuro.

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[Narrado pelo autor]
 
 
 

Marcus não se sentia bem, mas permaneceu próximo a Anco até seu coração parar de bater, o que não demorou muito a acontecer. Interromper a oxigenação pelos tubos deveria ter sido uma coisa rápida para causar a morte dele, mas parecia ter demorado uma eternidade. Marcus se curvou sobre ele e chorou, deixando com que suas lágrimas caíssem em cima do corpo pálido. Como a saliva, as lágrimas também possuem certas habilidades, mas eram habilidades inúteis naquele momento. Mickael deixou-o com seu luto, afinal não tinha o que fazer.
 
Marcus: — Se quiser... pode ir descansar... — disse a Mickael, suspirando e sem forças para chorar mais.
 
Mickael: — Não, vou ficar. Você ainda precisa de mim. — Marcus não negou o que ouviu. Apenas sentou-se em sua cadeira e olhou o quadro de anotações de Mickael.
 
Passou longas horas encarando o mesmo lugar, tentando encontrar algo que chamasse sua atenção. Por que diabos ele teria cinábrio no corpo? Para onde o levaram? Que tipo de magia usaram? Ou é um veneno desconhecido? Eles não fazem ideia do que aconteceu.
 
Marcus: — Vamos fazer a autópsia.
 
Mickael: — O-o quê??? Tem certeza? — ele assentiu rapidamente.
 
Marcus: — Será difícil, mas desistir está fora de questão. Vai me ajudar?
 
Mickael: — Se quiser, claro. Poderei aprender mais sobre sua raça, e quem sabe tratar de vocês caso fiquem doentes.
 
Marcus: — Ótimo. — se levantou e foi em direção à porta. Mickael o acompanhou.
 
Ao saírem do laboratório, viram Sílvia, Jane, Martha, Mari, Thay e Otávio conversando.
 
Otávio: — Você está... — rapidamente segurou os braços de Mickael. Seu jaleco estava manchado com sangue em diversos lugares, mas ele não tinha um arranhão sequer. — curado...
 
Mickael: — Recebi ajudinha. — eles olharam para Marcus. Sílvia e Martha ignoraram por hora.
 
Sílvia: — E aí? O que deu a confusão? O Delegado saiu furioso.
 
Marcus: — Anco se foi.
 
Todos se calaram. Thay, Sílvia e Otávio apenas suspiraram e olharam pro chão. Já sabiam que isso aconteceria. O estado de Anco era muito grave, e desde que trouxeram ele, o quadro não melhorou uma única porcentagem até hoje. Ele foi só piorando. Martha rapidamente foi abraçar o marido, que retribuiu o abraço rapidamente. Logo Mari e Jane também o abraçaram.
 
Jane: — Meus pêsames. Ele era importante para todos nós, e morreu da forma que ele tanto queria... com honra. — Marcus sorriu de canto.
 
Otávio: — Vou embora. Preciso dar a notícia pro meu pai... pro Philip, não o Marcelo. Marcelo não tá sabendo de nada disso. Vou pedir um tempo pra ti, Micki. Você vai precisar descansar.
 
Mickael: — Obrigado, Tavinho. — foi até o garoto e apertou sua bochecha esquerda, o fazendo abrir um sorriso.
 
Otávio: — Preciso dar a notícia ao Troy também, e evitar que ele faça alguma besteira.
 
Sílvia: — O que aconteceu com o Delegado?
 
Marcus: — Troy não pisa mais aqui.
 
Malía: — Ué, mas por quê? — sua voz estava calma e suave, como se fosse a mais tranquila dentre todos ali. — Ele é um bom amigo e protege nossos filhos.
 
Marcus: — Ele é muito poderoso. Ele quase matou o Mickael como se ele fosse um inseto. Troy não tem controle das próprias emoções e... pelo que eu vi que ele pode fazer, ele é capaz de nos ferir. — Otávio suspirou e concordou.
 
Mari: — Mas o que ele fez? Você está bem, Dr. Mickael?
 
Mickael: — Sim, eu estou, Maria, obrigado por se importar.
 
Todos sentaram-se nas cadeiras de cristal ao redor da grande mesa translúcida, exceto Otávio.
 
Otávio: — Troy tem controle absoluto de cada célula de seu próprio corpo.
 
Jane: — Biocinese?
 
Otávio: — Quase, mas não. Ele gosta de usar para controlar as pessoas que ele quer, passando um pouco do próprio sangue na nuca do infeliz que ele quer torturar. As células adentram os poros como parasitas e dominam o sistema nervoso da vítima, fazendo ela obedecê-lo forçadamente. Ele pode dominar seus sentidos através disso, enxergar pelos seus olhos, ouvir o que você ouve, sentir o que você sente... ele domina seu corpo com uma gota de sangue.
 
Sílvia: — Mas, nossa, também parece um pouco com hemocinese, mas... ele é mesmo tão forte? — Otávio suspirou e assentiu.
 
Otávio: — Eles viram só uma parcela do que ele pode fazer. Podem arrancar a mão dele, e ele transformará sua própria carne arrancada num monstro de sangue, pele e osso. Ele domina qualquer coisa orgânica, sem exceção. Tudo o que possuir um sistema nervoso, ele tem acesso tanto pelo próprio sangue, quanto pelo suor anestésico. Agradeçam por ele estar do nosso lado. Não vamos querer ter alguém como ele como inimigo.
 
Marcus: — Por enquanto. Da forma que ele é instável, pode trocar de lado a qualquer momento.
 
Otávio: — Não, ele não trocaria. Os amigos dele estão de apenas um lado, e apesar de ser um ogro, ele ainda tem sentimentos.
 
Sílvia: — Mas e se isso acontecer?
 
Otávio: — Eu mesmo mato ele. — deu de ombros. Todos se entreolharam.
 
Sílvia: — E... você pode fazer isso? Ele não é tãããão poderoso? — Otávio sorriu de uma forma esquisita, que ninguém conseguiu ler o que ele quis dizer com aquele sorriso. Logo apontou discretamente para Mickael, que abaixou a cabeça.
 
Mickael: — A gestação do Otávio foi de quase cinco anos. Era um bebê muito fraco e com grande risco de morrer na bolsa. Durante esse tempo, ele ficou absorvendo DNA dos homens que... cês sabem, né. — todos assentiram. — Ele se fortaleceu ao se conectar ao DNA de outras pessoas. Ao nascer, filho do Marcelo com... alguém que eu não estou autorizado a dizer... ele teve um crescimento acelerado, e se tornou adulto com doze anos de idade. Eu mesmo fiz o parto, fiz todo o processo e acompanhei a vida dele. Ele tem o corpo e a mente de um adulto, mas só têm treze anos.
 
Marcus: — De certa forma ele também é filho do Troy...
 
Mickael: — É, numa minúscula porcentagem. Ele continua sendo filho biológico do Marcelo. Ele tem até mesmo meu DNA. Na época eu pegava o...
 
Otávio: — Não vamos falar disso agora, Micki. A vida sexual de vocês não interessa a eles. — Mickael riu e deu de ombros. — Enfim, sendo assim, eu sou um dos poucos que podem conter boa parte dos Diractre da Colônia.
 
Mickael: — Chega a ser injusto.
 
Otávio: — Vou indo. Ainda preciso voltar pro acampamento do meu pai. — antes que pudesse saltar e se teletransportar, Marcus levantou a mão em sua direção.
 
Marcus: — Sobre Anco... não contem ainda para Nathalie, pro Luka, pro Guilherme, pro Diogo e pro Joaquim. Vamos manter isso entre nós. Nem pro Luigi. Se o peso foi alto pra mim, imagine pra eles. Eu estou aqui com o resto de força que me sobrou. Depois de tanta perda, eu agora perdi meu melhor amigo.  — todos assentiram.
 
Sílvia: — Lá vem você de novo com esse negócio de esconder as coisas. Isso não vai resolver nada, Marcus. Eles vão descobrir, e vai causar mais dor em nós. Será ainda mais doloso pra eles.
 
Marcus: — Eu disse que não vamos contar e ponto final. Vamos resolver algumas coisas primeiro, e depois eu mesmo conto. Alguém contra?
 
Silêncio.
 
Marcus: — Ótimo. Eu estou exausto. Vou descansar um pouco antes da autópsia.
 
Otávio saltou e seu corpo se desmontou, como se fosse um bug na matriz do universo. Todos se levantaram e foram para lugares distintos. Enquanto Mickael ía para seu quarto na câmara, Marcus e Martha subiram, e os outros foram se despedir de Anco.
 
Ao chegar em casa, Marcus bebeu um copo d'água e ficou pensativo escorado na geladeira.
 
Marcus: — Preciso te contar uma coisa...
 
Martha: — O quê? Que você beijou o Dr. Mickael? Tá, eu entendo.
 
Marcus: — Também, mas... — ela sentou-se na mesa e levantou o olhar. Seu marido estava com o olhar distante. Nem parecia mais o Lycator que ela conhecia. — Eu nunca menti pra você. Nunca escondi nada.
 
Martha: — Você precisava curá-lo, senão ele sangraria e ficaria com dor o tempo todo, tadinho. Eu entendo, não estou brava, é sério. — ela riu. — O que te atormenta tanto? Foi... bom?
 
Marcus: — Sim... foi... — ele olhou nos olhos dela. — incrível. É sobre isso que eu quero falar. Eu senti... coisas. Era pra ser apenas uma forma de curá-lo, mas ele é tão... fofo.
 
Martha: — Você... está apaixonado por ele? — Marcus cruzou os braços e olhou pro chão, bem pensativo.
 
Marcus: — Não... não é paixão. Foi um tipo de alívio, e meu corpo respondeu a ele. Eu nunca senti isso antes, e é por isso que estou bolado com isso.
 
Martha: — Ah, deve ser nada. Talvez vocês dois compartilharam algo íntimo, uma história, sei lá, e se sentiram mais ligados. Isso fez com que o beijo tivesse mais significado.
 
Marcus: — É... acho que tens razão. Vou dormir, preciso descansar. Malisfreya.  [Te amo.]
 
Martha: — Malisfreya.  [Te amo]
 

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