ABOOH : Amores Sobre-Humanos

CAPÍTULO 102: O Poder Que Nos Circunda

[Narrado por Luka]

O acampamento está chegando ao fim. Depois de dois dias, tivemos bastante atividades, e ainda mais uma rodada de briga com bastão ontem, e terá outra hoje. Os alunos adoraram, e os tutores resolveram deixar que o povo se enfrentasse e se divertisse mais. Ontem eu não briguei, nem o Gui e nem a Nath, apenas Diogo e Sandra, que são do meu grupo, e Luigi, Tainá e alguns outros de outras turmas. Sandra saiu vencedora, Diogo também, e Luigi, óbvio. Mas Diogo me impressionou. Não me lembrava de ele ser tão rápido e esquivo quanto ele foi. Ele se desenvolveu bastante nos últimos dias, e sozinho. É um bom avanço.
 
Hoje fizeram a votação de novo. Eu achei que cairia em algum momento, e eu estava certo. E como hoje é o último dia de atividades no acampamento, até os tutores votaram em quem eles queriam ver. Depois de hoje, acaba as atividades. Amanhã vamos acampar perto da cachoeira, e depois de amanhã vamos fazer o último lual e um tipo de churrasco. Depois voltaremos pra casa, porque semana que vem temos aula.
 
Marcelo: — Juntei os tutores aqui hoje porque a atividade será diferente. Hoje os tutores escolherão quem vai apanhar no ringue. Precisamos de quinze pares, e sim, hoje teremos apenas essa atividade o dia todo. Vou deixar a urna no banco, e eu mesmo vou tirar o nome do tutor que começará com seu voto. E só pra avisar... — ele apontou para os tutores. — Maioria aqui não vale um centavo, são todos traiçoeiros. — os tutores riram. O único bem sério ali era Otávio. Eu já sei que Carlim vai me ferrar.
 
A atividade começou. Os tutores começaram a discutir sobre os alunos e eu escutei tudo. Falaram meu nome algumas vezes, e alguns nomes familiares. Queriam que eu fosse contra a Nathalie, e outros queriam que eu fosse contra o Rey. Espero que nenhum dos dois caia contra mim.
 
Marcelo: — Pronto... — ele foi até a urna preta tampada e tirou um papelzinho. — Hum, Mia. Começando contigo, querida voz dos anjos. — ela sorriu e se levantou. Ela é bem bonita, e sua pele preta retinta fica com um highlight dourado no sol. Seus olhos pretos e tranças longas combinavam com o estilo artista dela. É muito bonita, e... eu me lembro dela na minha ilusão Djinn. Ela estava casada com aquele cara estranho que se passava por meu irmão mais velho, que eu nem conheço. Só não entendo como ela, especificamente ela, estava lá.
 
Mia: — Eu estive pensando muito bem ali, cara, mas é difícil! Há tantos talentos aqui, tantos alunos espertos e impressionantes, que fica difícil escolher alguém. Mas eu me impressionei com seu afilhado bonitão. — ela apontou pro Marcelo.
 
Marcelo: — O Claw? — ele riu e ela concordou. Parecia estar bêbada, mas acho que é o jeito normal dela. É bem a vibe dela mesmo. — Okay, então o primeiro votado é o bonitão. — rimos. Cacei o Rey dentre os alunos, mas não consegui encontrá-lo. Mas logo ele ficou de pé, e estava bem próximo a mim, sentado perto da Bianca. Ele olhou de relance pra mim e sorriu de canto, olhando pro chão em seguida e com as mãos cruzadas nas costas. — Mia, agora aponte o próximo a votar.
 
Mia: — Izak. — ela apontou pra ele e voltou a sentar-se.
 
Izak: — Prestei bem atenção em todos vocês e... me arrisco a dizer que gravei o nome de todos. Tenho uma memória infalível. Eu gostei muito da performance do Luka nas outras partidas, e quero vê-lo em ação de novo. Mas agora meu voto também vai no aprendiz do tirano.
 
Marcelo: — É o quê?! Fala isso de novo pra tu ver! — ele pegou a urna e ameaçou arremessar no tutor, que caiu pra trás e se escondeu atrás do Otávio. — Me chama de tirano de novo, ô filhote de morcego.
 
Izak: — Manda seu pai ficar longe de mim. — Otávio riu com os alunos e revirou os olhos.
 
Enfim, a maioria dos votos caiu no Rey. Espero que eu não caia com ele. Mas acho que não. Quase não votaram em mim. De dez tutores, dois votaram em mim, e dois num garoto de outra turma. Rey foi o primeiro a ser escolhido. Começamos a votação de quem iria competir com ele. Quatro votos em mim, três votos no Luigi, e quatro votos num garoto de outra turma, que tinha ido bem também nas anteriores. Empatou, e sempre que isso acontecer... Marcelo desempata.
 
Marcelo: — Eu quero muito... muito mesmo escolher o Luka, porque eu sei que geral quer vê-lo batendo em alguém. Mas como é contra o Claw, eu prefiro que as coisas se mantenham bem entre esses dois, então... foi mal, Maurinho.
 
Mauro: — Ai, que azar. Nem aqui eu dou um grão de sorte, mano. — eu ri. Ele se levantou e foi sentar-se no banquinho onde separariam os competidores.
 
A votação continuou por alguns minutos. Várias pessoas aleatórias, e até agora não caiu meu nome. Isso tá estranho, eles estão tramando. Até o Guilherme caiu, e... estão decidindo quem vai contra ele. Os tutores discutiam e eu tentava escutar. Mas chegaram a uma conclusão. perceberam que Guilherme tem uma rixa com o Thomas...
 
Marcelo: — Guilherme contra Thomas... iiiih, isso vai esquentar. — os tutores riram. — Quero ver pra quem Luka vai torcer, hein, Luka. — todo mundo riu, apesar de alguns não terem entendido a graça do Marcelo. Eu levantei o dedo do meio pra ele, e ele apenas riu.
 
Sandra: — Cês tão por fora, hein, povo. Pra quem não entendeu a piada, os dois são ex-namorados do Luka.
 
— Talento pra achar macho gostoso é talento, né, mana. — um menino de outra turma comentou próximo a nós, nos fazendo rir.
 
Eu: — Gostosos, mas chatos. Guilherme mesmo só tem músculo, de resto é fraco.
 
— Iiiiiiiiiiih.
 
Guilherme: — Não me chamava de fraco quando eu te botava contra a parede e te deixava com marcas o resto da semana. — deu um sorrisinho sacana. Meu rosto esquentou um pouco. Abaixei a cabeça e a cobri com as mãos.
 
Sandra: — E É GOOOL, É GOOOL!!! — o povo riu, principalmente os da nossa turma.
 
Marcelo: — Eeeeita, discutam isso depois, porque eu quero entrar no assunto. Botar os outros contra a parede é minha especialidade. Gosto dessa parada aí.
 
Ana: — Yamete kudasai!!!
 
Bianca: — Garota, para de gemer isso... — nós rimos ainda mais.
 
Miguel: — Marcelo, pelo amor de Deus... — Marcelo deu de ombros e voltou sua atenção para a votação.
 
A votação voltou a ser o foco. Agora sim chegou minha vez. Ynatta foi a primeira a votar, e ela já apontou pra mim.
 
Ynatta: — Luka. Óbvio. Quero ver o que ele tem pra nós hoje. — ela apontou para o próximo a votar. — Vai, Alex.
 
Alex: — Luka, com toda certeza.
 
Gabriel: — Luka.
 
Izak: — Óbvio que agora é Luka. Não é todo dia que vemos alguém assim nos passando conhecimento no ringue.
 
Mia: — Lukaaaa. — cantarolou. — Nem preciso explicar.
 
Carlim: — Luka. Ver o que ele aprendeu até aqui vai ser bom. Quero ter certeza de que meu irmão vai sair daqui com todas as vitórias na mão.
 
Vagabunda. Ela só está votando em mim porque ela acha que brigar é bom pra eu aprender e me desenvolver, já que o ensino num colégio humano é extremamente limitado e eu preciso de coisa melhor. Ela sempre me empurra situações pra que eu resolva defendendo. Ela gosta de me ferrar.
 
Todos eles votaram em mim, unânime. Nem precisava do voto do Marcelo, mas ele deu mesmo assim. Queria que eu fosse, e ele está curioso pra quem viria contra mim. Otávio seria o primeiro... e tenho certeza que ele vai ser tão bom nas palavras, que vai influenciar os outros a escolherem o mesmo que ele. Eu tô é receoso com isso. Pelo menos agora não será nem o Reynard e nem o Guilherme.
 
Otávio: — Bom, há um aluno aqui que tem um conhecimento incrível sobre muitas coisas. Eu estudei seus gestos e olhares curiosos... é bem observador e ágil pra pensar e agir. Está sempre calado e atento. Quando participou das competições, me surpreendeu pela postura perfeita, e por ter vencido todas com facilidade. Tem mãos calmas e delicadas para mexer com a terra, mas também brutas e ágeis o suficiente para derrubar alguém com o dobro de seu peso. Estou curioso pra ver uma batalha desses dois. Intelecto contra intelecto. Postura contra postura. Juan.
 
Ah... merda.
 
Carlim: — Concordo com tudo o que Otávio disse. Juan possui uma postura perfeita em todas as situações, e parece prever tudo o que o adversário fará no próximo ato. Aposto que ele poderia ensinar Luka algumas coisas. Juan.
 
Todos foram no Juan. Essa votação, minha e do Juan, foi a única onde todos os tutores foram unanimes. Me levantei e fui pro banco. Juan veio logo atrás.
 
Juan: — Prometo pegar leve.
 
Eu: — Não deveria. — sorri pra ele. — Porque eu vou acabar com você.
 
Juan: — Vai sonhando.
 
Depois de todas as duplas estarem formadas, fomos para a área das atividades. Os tutores anotaram as duplas em papéis e colocaram na urna, onde sortearam quem iria primeiro. Juan e eu seremos a 11° a ir. Nos sentamos e ficamos olhando os outros brigando lá. É sempre divertido ver os outros tentando se espancar com um cotonete gigante. Marcelo deixou claro que agora o objetivo não é derrubar a arma do adversário, mas sim o próprio adversário. Se perderem a arma, a partida continua até alguém cair. E dessa vez não seria nas plataformas como antes. Foi num ringue fechado, uma plataforma única elevada, e não várias com espaços entre cada. Seria como um ringue azul de luta. Pelo menos não vou ter que me preocupar com equilíbrio.