[Narrado por Luka]
Afastei minhas pernas e Miguel se pôs entre elas, deitando-se por cima do meu corpo. Me deitei na água, deixando com que ela cobrisse e encharcasse meu cabelo, e a paisagem ficou ainda melhor. Ao abrir os olhos, eu via apenas aqueles olhos castanho-canela e o céu super estrelado como background. Sorri e ele sorriu também, me fazendo suspirar com a sensação inédita. Segurei seu colarinho e o trouxe mais para perto, para mais beijos deliciosos e bem... bem molhados e excitantes. De repente comecei a rir e interrompi o beijo. Ele riu também e sentou-se na água gelada, e eu fiz o mesmo. Me aproximei dele e o abracei, deitando meu rosto em seu peito com cheirinho gostoso.
Eu: — Obrigado... eu precisava disso. Obrigado de verdade.
Miguel: — Sério? Eu beijo tão bem assim? — ele riu, e me fez rir também. Dei de ombros e levantei a cabeça. Mordi seu queixo e assenti, o forçando a balançar a cabeça também. Ele apenas abaixou o olhar e me deu alguns selinhos, que eu... eu recebi com todo prazer. Beijá-lo e aceitá-lo tão próximo me causa sensações diferentes. É um conforto muito gostoso de sentir. E eu gosto dele, de verdade. Não como homem, nem um possível caso, mas como pessoa... bom, como homem agora eu estou começando a notar ainda mais, mas como pessoa ele é incrível.
Eu: — Isso é tão errado e tão bom... — rimos. Agarrei seu colarinho e o puxei contra mim de novo, nos entregando a mais amassos profundos, que nos hipnotizaram por minutos, que pareceram horas. Até que ele segurou meu rosto e me afastou um pouco... tocou a testa no meu nariz e suspirou.
Miguel: — Eu não deveria... ter feito isso, mas... Luka, você me faz tão bem... — passei os braços ao redor dele e respirei seu perfume. Deitei meu rosto em sua cabeça e o abracei com mais força, deixando com que a água passasse por nós e seguisse seu caminho. Miguel então se afastou um pouco e olhou nos meus olhos.
Eu: — Sério? Você... — ele não me deixou falar, apenas me calou com mais um beijo calmo, mas logo se interrompeu com suspiros profundos.
Miguel: — Sim, é... eu gosto de você, e eu acho que você já sabe. — disse baixo. Apenas respirei fundo e segurei suas mãos. — Eu vejo tantos moleques sendo tão idiotas contigo, eu vejo... eu te vejo todos os dias, eu te vejo toda manhã, todas as noites... mas eu não posso te ter nem em pensamentos.
Eu: — Do que está falando? — ele riu baixo, mas parecia nervoso e... algo a mais que eu não conseguia identificar.
Miguel: — Eu sou seu professor, óbvio. O que eu imagino não pode existir por conta da ética de trabalho, da relação de professor e aluno. Eu te trouxe aqui porque eu tinha prometido com todo meu coração e eu precisava cumprir por nós dois... por meu próprio alívio. Te beijar é uma das coisas que eu mais amei fazer, e eu... eu não queria ter que dizer que não posso mais fazer isso... — abaixou o olhar e desentrelaçou nossos dedos. Queria dizer algo, mas não sabia o que falar. — Hoje será hoje. Vamos... vamos curtir o que temos agora. Eu queria te pedir pra me esquecer... pra esquecer daquele beijo no corredor do colégio, das sensações que eu te causei, dos beijos de minutos atrás... finja que isso não foi importante, que não significou nada pra você.
Eu: — Mas por quê? Significou sim pra mim, eu sinto... — mais uma vez ele me interrompeu, mas não com um beijo. Agora me abraçou com força.
Miguel: — Eu sei, significou pra mim muito mais, mas... eu também vou fingir que nada aconteceu, que eu não senti... — suspirou. — que não senti nenhuma das milhares de fortes sensações que eu senti. Prometa pra mim que... que seremos só aluno e professor, tá bom? No máximo amigos.
Fiquei sem saber o que dizer... não queria acabar com as esperanças que mal começaram a se ascender. Eu nem sabia o que pensar! Ele está me pedindo pra fingir que ele não existe, e... como que eu finjo que o Miguel não existe??? Cara... o MIGUEL!!! É impossível não notá-lo!
Eu: — Por que, Miguel? Você parecia tão bem há alguns minutos. — olhou em meus olhos. Seus olhos estavam diferentes... eu jurava que ele iria chorar, mas não o fez. Apenas respirou fundo e tentou focar em seu próprio objetivo.
Miguel: — Você ainda é muito novo, e eu não quero acabar com sua juventude com essas besteiras. Eu já passei por isso antes e não quero nos magoar. Eu quero que você amadureça e... quem sabe no futuro dê certo. Eu quero, de verdade. Eu me sinto conectado a ti, mas... agora não podemos. Eu estou tirando qualquer possibilidade de isso aqui... — apontou para ele mesmo e para mim. — rolar.
Eu: — Não precisamos ter um relacionamento. — ri baixo. — Eu acabei de terminar um, e não estou pronto para aturar outro. Podemos nos conhecer...
Miguel: — Não... não, não, não! — se levantou rapidamente, se afastando de mim e deixando a água escorrer de suas roupas. — Luka, não. Não se interesse por mim. Você não vai gostar de mim, eu sou falho... eu não mereço isso tudo, nada de tão bom. Me trate como se não me notasse, por favor. Eu farei o mesmo.
Eu: — Miguel... — me levantei. Eu escutei o coração dele bem acelerado. Ele não parecia bem, apesar de estar firme em suas palavras.
Miguel: — Vamos voltar.
Eu: — Tá... vamos.
Infelizmente o momento naquele paraíso natural acabou. Ele foi na frente e parecia muito mais distante do que jamais esteve. Tentei acompanhá-lo, e eu sentia um forte aperto no peito por vê-lo tão distante. Não estava exalando mais aquele brilho fofo, apesar de ainda estar sendo fofo. Demoramos um pouco para chegar onde os outros estavam, e quando estávamos perto, segurei seu braço e o puxei contra mim, o abraçando com força. Ele não retribuiu na hora.
Eu: — Você pode ser falho... pode ter todos os defeitos do mundo... pode de ser o cara mais insuportável deste planeta, mas... tudo isso é na sua própria opinião. Sempre esteve ao meu lado, cuidou de mim, me apoiou, me aconselhou, me... me deu suas mãos tantas vezes... isso é admirável, a forma que você trata as pessoas, essa sua gentileza, seu sorriso fofo e contagiante, a forma que todos te amam... Miguel. Pra mim você é o cara mais perfeito de todos. — o apertei mais um pouco. Senti suas mãos nas minhas costas, mas senti que ele não quis retribuir ao abraço. O soltei e voltamos. Ele seguiu para onde os tutores estavam e eu fui para minha barraca, onde Diogo e Joaquim já estavam. Ao entrar na barraca, minhas roupas exalavam vapor quente do calor me secando.
Joaquim: — Onde cê tava?
Eu: — Saí com o Miguel.
Joaquim: — Hum... — Diogo riu. — Usou camisinha, né? — acertei-lhe um soco nas costelas. — Auuuu!
Eu: — Cale a boca. Não aconteceu nada, só conversamos e ele me mostrou um tipo de encruzilhada linda de rotas de água, com piscinas naturais e lebres com sede. — ri. — Somos só aluno e professor... e um pouco amigos, pra deixar claro.
— Sei... — Diogo e ele disseram juntos, ficando em silêncio logo em seguida, e se entreolharam.
Eu: — Boa noite pra você, meninos.
Joaquin: — Não está se esquecendo de nada? — tocou a própria bochecha. Ri e fui até ele. Dei-lhe um beijinho na bochecha. — Agora sim, boa noite.
Eu: — Mimado.
Diogo: — E eu? Não ganho beijinho de boa noite? — cruzou os braços. Ri e me estiquei até ele, dei-lhe um beijinho rápido na bochecha e voltei pro meu lugar. — Ótimo, boa noite. — rimos.
Não consegui dormir, por mais que eu quisesse. O dia amanheceu e eu saí da cabana antes do Diogo e do Joca levantarem. Fiquei sentado em uma pedra da cachoeira olhando a movimentação da água. Logo alguns outros alunos acordaram e... os tutores. Miguel e eu apenas trocamos olhares, mas logo ele se afastou e ficou perto dos outros. Eu permaneci quieto no meu canto. Joca e Diogo apareceram se juntaram a mim para conversarmos. Quando todos acordaram, fizemos outro piquenique antes de voltarmos para o acampamento.
Joaquim estava comendo tranquilo, quando... aquilo também aconteceu com ele. Seu nariz do nada começou a sangrar, e ele não percebeu. Notei a mancha vermelha descendo e rapidamente ele sentiu, tocando e espalhando o sangue. Me levantei rapidamente e me aproximei.
Joaquim: — Ah, inferno! — soltou seu sanduíche e o sangue pingou em sua bermuda. Rapidamente ele limpou com a blusa e manteve as narinas pressionadas com o tecido. Os alunos se assustaram e Joca se levantou rápido, virando de costas. Acenei pra Carlim.
Carlim: — O que houve??? — Joca afastou a blusa do rosto, mas o sangue pingou, e me assustei com a quantidade. — Uou... Pressione assim. — ela o ajudou.
Guilherme: — Ah... droga... — olhei por cima dos ombros do Joca, e vi Gui se levantar rapidamente com as mãos no rosto. Logo o sangue carmesim vazou dentre seus dedos. Marcelo e Otávio, que estavam mais próximos, foram ver o que houve.
Logo Nathalie deu um gritinho e também levantou com o nariz sangrando. Carlim levou Joca para perto do Gui, e Nath foi pra lá também, onde Miguel os examinou. Ele olhou até meu nariz, mas em mim tinha nada de errado.
Miguel: — Nada de errado. Parece que rompeu uma bolha, como uma película frágil que se formou após o rompimento de um vaso sanguíneo. Olhando assim parece ser nada demais. Mais como aconteceu com todos vocês? — Demos de ombros.
Marcelo: — Vocês possuem alergia a algum alimento, ou a insetos?
Ynatta: — Não acho que esse seja o caso.
Carlim: — E não é. Quando voltarmos pra casa iremos saber. Não se preocupem, vou pedir pro pai da Nathalie avisar pro Mickael, já que ele ainda deve estar lá. — todos assentiram.
Resolvemos voltar mais cedo pro acampamento. Fizemos toda a trilha de retorno, e demorou mais ou menos uma hora para chegarmos. Marcelo deu o resto do dia de folga pra nós, e disse que no fim da tarde eles dariam o resultado, para que amanhã fôssemos todos pra casa. Só nos restou esperar. Tomamos banho, e Joaquim, Guilherme e Nathalie tiveram que vestir as roupas deles, e não mais os uniformes, por causa das manchas de sangue. O único que não teve essa reação foi o Diogo. Eu estranhei, até porque todos que foram pegos pelos Jinni tiveram esse problema, menos o Diogo. Não sei o motivo disso, mas talvez ele esteja imune aos efeitos colaterais por causa do bracelete. De toda forma, nós esperamos logo o fim disso.
Quando Marcelo chamou todos, fomos para o anfiteatro e nos sentamos. Ficamos papeando um pouco até que ele aparecesse, o que demorou bastante. Ao chegar, todos os tutores se reuniram para discutir.
Eu: — Eu me sinto desconfortável ficando assim ao seu lado.
Juan: — Obrigado por ser tão direto. Quer que eu me retire? — os outros olharam para nós.
Eu: — Não, não é isso. É que estou acostumado a conversar contigo e te incluir na conversa.
Juan: — Não estou no clima.
Thomas: — Vai voltar a ser um babaca?
Juan: — O que isso importa a você?
Thomas: — Talvez eu devesse te dar um murro. O que acha? — Juan se virou pra ele e iria se levantar, mas segurei seu braço.
Juan: — Talvez você devesse tentar.
Eu: — Thomas, cale a boca. Ninguém te introduziu no meu assunto com ele.
Thomas: — Foi mal. — ergueu as mãos. Ao olhar pra ele, vi um sorrisinho em seu rosto, como se ele estivesse caçoando da situação. E seus olhos estavam muito diferentes, o que é estranho. Ele praticamente fez um comentário idiota que o Thomas antigo e estourado faria. — Estou estressado também.
Juan: — Não é motivo pra se intrometer na minha vida. Você dois, me deixem em paz.
Eu: — Não. Você age como um otário e eu que tenho que te deixar em paz? Só por causa dessa teimosia, eu vou ficar te enchendo o saco o tempo inteiro.
Juan: — Tente. — seu entonação seca e agressiva me fez sentir seu estresse na pele.
Eu: — Está me ameaçando, Juan Campillo? — me olhou pelo canto dos olhos e deu de ombros.
Juan: — Esqueça o que falei. — cruzou os braços. — Depois daqui vocês nunca mais vão me ver mesmo.
Sandra: — Do que cê tá falando, ô bocó? Vai ficar resmungando aí ou vai assumir seu amor pelo Luka? Pare de ficar se fazendo de difícil. — rimos e ele parecia ter ficado ainda mais puto. Mas não disse nada, ficou em silêncio.
Marcelo soou aquele apito terrivelmente alto. Logo todos ficaram em silêncio, e os tutores ficaram atrás dele no anfiteatro em fila, com as mãos para trás, como se estivessem na postura de soldados humanos. Marcelo apontou para Otávio que o entregou uma prancheta.
Marcelo: — Estamos com o resultado aqui. E relembrando, não houveram trapaças, nenhum tutor deu pontos avulsos por favoritismo, e não quero ter que separar briga. Quero total respeito e silêncio de todos vocês, entendido? Senão ano que vem não teremos outro como esse. — todos assentiram e ficaram em silêncio. — E repetindo mais uma vez, os pontos foram dados em grupos e também individualmente, visando o desenvolvimento de cada um. Se você não foi útil, não se fez ser útil, não ajudou em nada e só quis brincar e dormir o tempo todo, mesmo nos dias de folga, a culpa do seu nome não estar aqui não é minha. É certo dizer que muitos de você que se esforçaram pra cacete também não está aqui, mas... nós também pontuamos por valores humanos. Brigas e discussões à toa tiraram pontos. Não saber perder tirou pontos. Fofoquinhas e risadinhas quando eu pedi silêncio, ou quando outros tutores pediram silêncio, também tiraram pontos. Meus tutores foram desrespeitados por alguns de vocês, e eu tenho os nomes de todos. Os que estão com pontos negativos, serão chamados à minha sala no colégio junto com os pais. Eu não tolero comportamento de moleques inconsequentes, e não estou dando aulas para o quinto ano do fundamental.
Nossa... só por aquele esporro, a maioria dos alunos abaixaram a cabeça e ficaram em absoluto silêncio. Os que conversavam baixinho se calaram, os tutores estavam calados, até mesmo os alunos mais chatos e tagarelas estavam calados. Marcelo mais parecia um rei, uma super autoridade, falando ali e fazendo com que todos ficassem sob sua voz potente. O anfiteatro era grande, mas ele nem precisava de um microfone ou um megafone pra falar. Sua voz ressoava como um trovão em nossos ouvidos.
Marcelo: — Eu vi alunos dedicados aqui, e esses alunos, mesmo que não estejam na lista de vencedores por pontuação, pra mim também são vencedores e... ganharão um desconto de cinquenta porcento na inscrição e nas mensalidades. Em qualquer curso, podendo escolher até três dentro dessa promoção com meu nome, e ainda receberão medalha de participação dourada. Eu admiro muitos de vocês. Muitos me mostraram valores de ética e de moral incríveis. Eu prestei atenção em tudo e em todos, assim como meus tutores também prestaram. Eu agradeço por virem, e receberão a nota de vocês só por estarem aqui. Eu vi vocês crescendo, criando laços de amizade, se conectando com a natureza, e é isso o que eu queria ver. Eu só espero que a partir de hoje vocês olhem lá pra cima... — apontou para o céu. — e consigam entender a importância que esse mundo natural tem para cada um de nós, nos renovando e nos dando todas as chances que temos na vida. E indo no caminho da natureza, pelas flores, por nossos jardins, por nossos animais, que... que como vocês já sabem, aqui é uma área de preservação. Temos tucanos, cês viram? Izak.
O tutor Izak assobiou bem alto, e de repente as copas das árvores nos fundos começou a se mover. Vários pássaros enooormes vieram voando, com aqueles bicos também enooormes. Tinham cores lindas, e... eram pretos e brancos, com os bicos avermelhados, amarelados, esbranquiçados... eram tantas cores... era lindo! Alguns tucanos permaneceram nas árvores, e poucos vieram até o anfiteatro, e pousaram em locais aleatórios. um pousou no ombro esquerdo do Izak, outro em seu antebraço direito. Mais um pousou no antebraço da Mia, que acariciou a cabeça dele. Sorri ao ver, e Luigi ficou até de pé. Provavelmente deve estar doido pra ir lá fazer carinho neles.
Marcelo: — Temos uma grande apreciação pela fauna e pela flora. E seguindo este ponto, vou falar sobre o cara que mais se envolveu nas atividades, que tem valores incríveis, e que roubou o coração de todos nós desde que chegou no país e nos encantou com seu sotaque consideravelmente fofo.
Ah, é o Luigi. Eu tenho certeza.
Marcelo: — O garoto que eu não quero mais chamar de “garoto”, mas sim de “Homem”. Um verdadeiro homem. Aquele que se fez presente, que não se deixou abalar por um dia ruim, que deu a mão pros que caíram de tantas formas diferentes. Eu vi uma aluna chorar, desculpe a intromissão, e eu vi a forma que esse vencedor se dispôs a fazê-la sorrir sendo o cara mais fofo do planeta! — na hora todo mundo começou a bater palma, e o grupo do Lui começou a empurrá-lo e a abraçá-lo. Ele não estava entendendo, mas ria da palhaçada dos outros. Igor bagunçava seu cabelo e Alexa tentava o fazer cócegas. Mas todos já entenderam que Marcelo está falando dele. Izak assobiou bem alto de novo e os três tucanos mais próximos voaram... vieram pra cima de nós e voaram por cima dos alunos... e então pousaram no Lui. Um no ombro esquerdo, um no ombro direito, e um em seu antebraço esquerdo. Ele riu e tentou fazer carinho nos pássaros. — Esse cara tem uma harmonia fantástica com a natureza. Com certeza nós nos inspiraremos no homem que ele é. Luigi, o primeiro lugar é seu. Óbvio. Qual a surpresa?
Luigi: — S-sério??? — ele olhou para seus amigos de grupo. Os tucanos voaram e voltaram para as árvores, e desapareceram gritando de uma forma meio estranha. Igor abraçou Lui pela esquerda e Alexa pela direita. Ele riu e Marcelo acenou pra que ele se aproximasse.
Sandra: — Merecido. Ele é um cara maravilhoso, eu tenho inveja daquele coração.
Luigi desceu enquanto a maioria dos alunos comemoravam e gritavam o nome dele, até que o grupo dele começou a cantar aquele nome sem parar. Luigi ficou corado e eu achei muito fofo. Por onde esse garoto passa, ele ilumina o coração de todo mundo. Quando Marcus me disse que os cetorianos são extremamente sentimentais, eu não sabia que alguns seriam tão genuínos assim. E se essa espécie, os Savihre, forem mesmo como o Luigi, eu tenho total certeza de que quero conhecê-los um por um.
Marcelo: — Parabéns. — entregou uma medalha pra ele.
Luigi: — Olha, uma medalha! Que legal! Obrigado, professor Marcelo! — ele riu, abraçou o Marcelo e... deu uma mordida na medalha dourada, nos fazendo rir. Logo ele se virou e foi abraçar os tutores um por um, dizendo “obrigado” para cada um. — Obrigado. Eu não sei o que ganhar isso tudo significa, mas obrigado. — Otávio o levou para um canto e pediu que ele ficasse lá.
Marcelo: — Partindo para o próximo, em segundo lugar... bom, aqui entramos numa questão delicada. Volto a falar sobre saber ganhar e saber perder. O próximo não precisou perder, porque venceu quase todas... mas quando perdeu, não reclamou e comemorou a vitória dos amigos. Ensinou perfeitamente seus adversários, e na minha opinião ele tem talento para ser professor... num futuro próximo, talvez. Tem uma postura direta e franca, não teme aos moleques que sabem falar alto e... até eu levei um esporro! — nós rimos. — Amenizou o clima nas discussões e conseguiu me fazer calar a boca.
Espera... ele está falando de...
Juan: — Hum... — olhou pra mim com um sorriso forçado e me deu uma breve cotovelada.
Eu: — O quê?
Juan: — Tenho certeza de que ele está falando de você.
Sandra: — Você mandou o Marcelo calar a boca??? — dei de ombros.
Eu: — Ah... talvez. Mas é porque Juan e ele estavam discutindo, daí eu me estressei e pedi silêncio.
Juan: — É verdade. Evitou que Marcelo perdesse a cabeça com meu bom-humor e me expulsasse daqui.
Eu: — Agora que você volta a socializar? — me virei pra ele. Ele só sorriu e calou a boca.
Marcelo: — É sério, gente. Se ele for professor um dia, ele vai ser muito pior que eu! — Juan riu, mas se calou quando eu o encarei de novo. — Mas não é apenas isso que fez ele merecer isso aqui. É um dos caras com valores mais altos que eu já conheci. Meus tutores me contaram, alunos me contaram... eu vi com meus próprios olhos. Eu mesmo não serei a mesma pessoa depois do que passei com vocês aqui. E nem mesmo um dos garotos mais especiais da minha vida será o mesmo, e eu não estou falando do Otávio. — apontou para Reynard, que apenas sorriu de canto e assentiu. — Olha o brilho nos olhos desse cara chato, meu irmão! Isso depois de uma boa conversa, onde botaram todos os problemas na mesa e se organizaram. Agora eu espero até que daí surja uma amizade. Então... Luka... valeu mesmo, cara. Eu invejo a forma que você trata seus amigos.
Joaquim: — Luka é foda!!! — Diogo do nada deu um assobio extremamente alto, nos fazendo tapar os ouvidos.
Não queria, mas fui obrigado a me levantar. Desci as escadas altas e fiquei ao lado do Marcelo, que colocou uma medalha prateada no meu pescoço. Apenas sorri de canto e verifiquei a medalha. Olhei pra ele e... sei lá, não queria, mas senti vontade de fazer... então o abracei. Ele parecia ter ficado sem reação, mas retribuiu.
Marcelo: — Obrigado por me colocar na linha. Se quiser se formar na minha matéria, eu te dou todo apoio, beleza? Pra você eu entrego minha carreira de mão beijada. — ri.
Eu: — Vou pensar no seu caso. Mas eu queria... — ele levantou a mão, me interrompendo.
Marcelo: — Só espere acabar, tá bom? — concordei. Fui para perto do Luigi. O abracei de lado e fiquei deitado no ombro dele, com ele também me abraçando.
Luigi: — Eu não quero ganhar, Príncipe.
Eu: — Mas você mereceu, Lui. Eu também não queria, mas pra eles a gente se esforçou bastante.
Luigi: — Mas eu não quero, Príncipe. Eu já sou formado, eu já tenho meus estudos e não pretendo voltar a estudar. — ri. — Eu queria dar isso pra Alexa. Eu posso?
Eu: — A Alexa é uma feiticeira, em breve Joaquim vai reivindicá-la como aluna... sabe, depois de resolvermos o assunto dos Hellest.
Luigi: — Então... eu posso escolher outra pessoa? Ou eu vou ter que aceitar?
Hum... eu tenho certeza de que já conversei sobre isso com o Marcelo. Talvez possamos doar a vaga. Aposto que podemos.
Eu: — Podemos doar, eu acho. Eu iria pedir pro professor, mas ele pediu que falássemos só depois dele anunciar todos. — Lui apenas assentiu e ficou quietinho observando Marcelo.
Marcelo: — O próximo... o próximo é o cara mais disposto que eu já vi na minha vida.
Sandra: — Porra, só homem nessa porcaria. Tinha que ser, né. — suspirou. Parecia ter ficado puta com isso.
Ana: — Os meninos foram bem mesmo. Até porque ninguém nota a gente.
Marcelo: — Olha, ele deixaria muitos machões aí com inveja, viu. — riu e olhou para os tutores, que riram e concordaram. — Foi muito bem em todas as tarefas, e se esforçou mais do que o necessário desde o início. Foi firme, foi forte, resistiu bem, não se entregou à concorrência... mas não vou falar apenas sobre o que notei aqui. Eu deixei vocês apavorados quando falei que seria como um acampamento do exército, que teria competições pesadas, exercícios físicos o tempo todo, quando forcei-os a praticar exercícios nas minhas aulas. Assustar vocês era a minha intenção. Queria saber se estavam dispostos a enfrentar tudo, se queriam mesmo se dispor aos sacrifícios, e aqui estão vocês. Eu fiz isso tudo parecer um vale do terror, e aqui vocês até tomaram banho de cachoeira. — rimos. É verdade, ele falou tantas coisas, que achei que seria treinado para a guerra. — Todos ficaram com medo... menos um. Ele se esforçou em cada exercício antes de virmos pra cá, não resmungou, não hesitou, e foi o primeiro a se preparar para enfrentar meus desafios. Ele foi um verdadeiro guerreiro. Imagine se eu dissesse que esse cara é na verdade uma mulher. — alguns riram e se entreolharam. — Aí vocês se surpreendem, né? Enfim crescemos numa sociedade onde nada se espera de uma garota simples, com uma vida normal. É algo a se pensar e a tratar. O potencial das meninas que não enxergamos está acima do que a gente pode imaginar.
Luigi: — Uau... — ri.
Marcelo: — É, pessoal. Luigi e Luka venceram por pontuação individual e pela forma que agiram como pessoas. Mas essa garota passou a perna bonito em vocês nas atividades. — ele riu. — A nossa atleta mais determinada... Sandra.
Sandra: — Espera... que Sandra? Sandra eu? Eu Sandra? Euzinha? Sandra??? Tem alguma Sandra na outra turma??? — meu grupo inteiro riu e tentaram empurrá-la do banco de pedra. É óbvio que é ela. Foi a que mais se esforçou o tempo todo.
Marcelo: — Óbvio que é você, moça. Quem mais tem os pés de ouro no futebol?
Sandra: — Aaaaaaaah, eu sou demais, caceteeeeh! — deu um gritinho e desceu correndo, indo até Marcelo. — Mamãe é boa na bola, pode falar. Mamãe arrasa.
Marcelo: — É, eu sei bem disso. Parabéns, Sandra. Você merece. — ele colocou a medalha no pescoço dela... e segurou em seus ombros. — Nunca deixe que te digam qual tipo de mulher você deve ser. Você, sua irmã e todas essas meninas aqui farão o futuro com essas mãos fortes e determinadas. Eu te admiro, admiro a sua força, e quero que saiba que você e sua irmã são incríveis, são únicas, e são mulheres perfeitas da forma que vocês são.
Sandra: — Ai, Professor... — sua voz rapidamente mudou. Marcelo riu e ela saltou nos braços dele, o abraçando com força. Só percebi que ela estava chorando quando tentou secar o rosto com as mãos.
Eu: — Posso interromper agora? — levantei as mãos. Marcelo olhou a prancheta, olhou para os outros, mas assentiu.
Marcelo: — Iria falar dos outros que foram bem, mas... tá, claro. Pode falar. — me levantei e Luigi veio comigo. Tirei minha medalha e ele tirou a dele.
Eu: — Você não merece essa medalha, Sandra. — agarrei a medalha dela e iria tirar, mas ela segurou minha mão.
Sandra: — O-o que... o que está fazendo??? Eu fiz tudo o que... — ri.
Eu: — Você não merece essa medalha, porque você deveria estar em primeiro, ô tonta. — puxei a medalha e tirei a dela. Coloquei a medalha dourada do Luigi em seu pescoço. Ela olhou pro Lui, que apenas sorriu e levantou o polegar pra ela. — Eu vi o quanto você se esforçou pra conseguir, e Luigi e eu admiramos muito a sua força de vontade. Você é uma amiga maravilhosa, e você tem uma apreciação inacreditável pela sua irmã. Eu te entendo, eu tenho dois irmãos. — apontei para a Carlim, que apenas sorriu. Essa garota é idêntica à nossa mãe, não é possível. — Apesar da Carlim ser uma puta ogra, eu aprendi a amá-la. E amo muito meu irmão caçula também, então eu te entendo quando você tenta de tudo pela sua caçula. Você é forte, e muito mais forte que todos os homens humanos que eu já vi. Por essa força, eu tenho certeza de que você merece esse dourado.
Luigi: — Ah! Professor, eu posso doar minha bolsa? Eu já sou... — ele olhou pra mim, pedindo permissão para falar, mas eu apenas neguei com a cabeça lentamente. Ele não pode falar que é formado. Essa sinceridade não vai dar certo aqui. — Enfim, eu já tenho meus estudos, e essas coisas.
Marcelo: — Ah, claro. Você tem alguém de sua preferência?
Luigi: — Sim! Sim! — deu dois pulinhos, me fazendo rir. — Eu quero dar o segundo ligar pro Igor, tá bom? O do meu grupo. Ele é muito legal, ele foi muito paciente comigo e me ensinou coisas legais. Ele é um garoto muito humilde e gosta da família. Eu também gosto da minha família. Alexa e eu escutamos as histórias dele, e eu digo com o coração quentinho que Igor tem muito a oferecer a todos nós. Ele é inteligente, mas... não tem recursos financeiros para estudar o que seus sonhos requerem. Ele vem de uma família humilde do interior, pega dois ônibus todos os dias pra ir pro colégio e dois pra ir pra casa... e quando não tem como pagar, metade do caminho ele parte à pé bem cedinho. Eu só quero que ele saiba que eu... que eu amo ele, e não me importo com os bens materiais que ele tem. Eu me importo com a alma pura e forte que ele demonstrou ter, eu amo a amizade que a gente criou, e eu quero dizer também que ele é um menino muito esperto e merece ter o mundo. Mas como eu ainda não posso dar o mundo pra ele, eu quero dar essa medalha bonitinha. Eu posso?
Marcelo: — C-claro, Campeão...
Marcelo gaguejou. Eu não sei se ele sentia o mesmo que eu por ouvir o Luigi falar de forma tão genuína de alguém que ele gosta de verdade, mas eu... eu não consegui segurar minhas lágrimas. Eu estava sorrindo, mas emocionado por aquilo. Eu não esperava isso, apesar de ser o Luigi. Eu achei que ele ficaria tímido pra falar na frente de todo mundo assim, mas... é o Luigi sendo o Luigi. O garoto mais amável não só deste planeta, mas aposto que de toda essa galáxia. Ele é uma incrível representação de uma virtude em carne e osso.
Marcelo não disse nada, apenas procurou Igor dentre os outros, até que o encontrou. Ele apenas acenou para que o menino se aproximasse. Igor era magro e alto, com a pele em tons castanhos e cabelo crespo cortado bem baixo, raspado nas laterais. O menino estava chorando e eu me tremi inteiro ao ver a cena. Seu queixo tremia e ele não desviava o olhar dos olhos do Lui, que sorria como um bobo ao ver o amigo. Igor não disse nada, apenas foi pra cima do Lui e o abraçou com força... com muita força, e chorou em silêncio naquele abraço. Talvez não pareça grande coisa todo esse evento só por causa de uma medalha e uma vaga integral em um curso profissionalizante, mas eu sei que para Igor naquele momento não era apenas isso. Sem aquela vaga, ele talvez não conseguiria um curso de qualidade tão facilmente quanto outros, como Luigi disse e teme. Ele garantiu um futuro para o amigo que fez, e Igor entendeu a forma genuína da amizade do Lui.
Luigi: — Eu quero que fique com a medalha... o segundo lugar pode servir como segundo lugar como amigo, depois da Alexa. — Igor riu e assentiu, se afastando dele e limpando as lágrimas. Dei a medalha ao Lui, e ele mesmo colocou no pescoço do amigo. — Me prometa que vai ser o artista mais legal do planeta, e que vai me deixar entrar nos seus shows de graça. — nós rimos.
Igor: — Eu prometo. Sempre que eu for me apresentar no futuro, o camarote é seu. — abraçou o Lui de novo. — Você é foda, cara. Que Deus te abençoe, você merece o céu, o paraíso e a eternidade.
Luigi: — Amém. — ele olhou pra mim. — É amém, né? É amém?
Eu: — É sim, Lui.
Ai, meu Deus, que fofo... ah, Lui... eu te amo, cara. Puta que pariu.
Marcelo: — E o terceiro? — respirou fundo e fechou os olhos, tentando se manter intacto. Mas eu tenho certeza de que agora ele não vai mais se manter tão forte assim. Eu vou acabar com essa pose superior do Marcelo. Eu quero ver ele chorando na frente de todo mundo.
Olhei em volta... para todos os alunos. vi meus amigos... vi alguns que eu ainda nem conheci direito... mas não vi quem eu queria ver. Achei até que ele tinha ido embora. Mas foi só rodar o ambiente e eu o vi. Ele não estava mais onde estava antes. Estava distante de todos, lá no topo sentado no lado mais isolado da arquibancada. Os outros não estavam o vendo, mas eu estava. Ele não estava bem. Não estava bem mesmo. Na verdade, boa parte dos alunos estavam meio decepcionados, porque muitos pretendiam vencer, mas... há pontos específicos que precisam.
Ao prestar mais atenção, eu vi que ele chorava. Estava sentado sozinho, longe de seu grupo, chorando bastante com um relicário nas mãos. O mesmo relicário que mantinha a foto da coisa mais importante que ele tinha na vida, que se perdeu. Ele dizia coisas lá, que eu não conseguia escutar direito, mas foi só me concentrar um pouquinho que eu ouvi e senti uma dor ao ouvi-lo diversas vezes dizendo que é um perdedor e... e jamais será bom o suficiente para os outros. Disse entre soluços que é amaldiçoado, que nem sua família corrupta, e deveria voltar pro buraco de onde saiu porque aqui ele se sente um inútil, um imprestável.
Depois de conhecer o que há por trás dele, percebi o motivo de ele sempre se achar inútil. Ele mesmo sente falta de seus próprios atos, de quem ele era, mas depois de viver tanto num personagem, ele não consegue mais retornar. Ele está preso no que ele criou e não consegue se livrar desse fardo. Além disso, ele se culpa por não ter salvado a irmã, ou por não ter morrido para salvá-la, ou ter morrido junto com ela. Ele sofre calado o tempo todo e isso parece terrível. No momento em que o vi tão isolado lá em cima, eu me lembrei da conversa com o Marcelo e soube que de forma alguma eu quero aquele menino como inimigo. Eu quero que ele se torne um dos meus melhores amigos. Não quero que ele se sinta sozinho.
Eu: — Então... eu sei que essa pessoa me odeia, mas eu queria dizer que eu não odeio ela tanto assim. Eu achava ele insuportável, e até que é bem divertido tirá-lo do sério. Na verdade eu tenho mil motivos para odiá-lo, para querer ele longe de mim e para xingá-lo, mas sabe o que é? Eu não sou assim. Nem mesmo se ele quisesse, propositalmente, me afastar. Ele é um cara muito esperto, é bom de papo, é dedicado e consegue seguir sua determinação. Mas ele ainda é frágil, apesar de odiar demonstrar. Quero dar essa oportunidade pra ele, pois ele merece tanto... ele lutou para conseguir muitas coisas e foi muito bom para ele mesmo. Teve objetivo e se forçou a segui-lo, então é por isso que eu escolho você, Reynard! — falei seu nome em alto e bom som.
Ao escutar seu nome, Rey levantou a cabeça incrédulo. Na hora Marcelo arregalou os olhos pra mim e em seguida caçou o filho dentre os outros alunos. Todos os alunos olharam pra ele. Rey apenas levantou o olhar, fechou o relicário e enxugou o rosto com as mãos.
Reynard: — E-eu? — tocou o próprio peito. Sorri e assenti.
Marcelo: — Luka...
Eu: — Óbvio. Tem outro bonitão chamado Reynard aqui? — a sombra de um sorriso surgiu em seu rosto. Os alunos riram, e alguns bateram em sua perna, mandando ele vir logo até mim. Marcelo rapidamente acenou pra ele se aproximar, e ele se levantou, descendo devagar e ainda sem acreditar.
Marcelo: — Esse é meu garoto... — disse baixo. Rey abaixou a cabeça e se aproximou de mim. Fui até ele e estendi minha mão para cumprimentá-lo, mas ele estava hesitante e... com medo.
Eu: — Não te odeio, Rey. Pelo contrário. Eu quero que todos aqui entendam seu lado e vejam o cara incrível que você é. Eu admiro a sua força. Você aguentou tanta coisa... mas tanta coisa difícil, que eu me pergunto como você ainda conseguiu se manter de pé, garoto! — respirei fundo... eu não queria ter reações sentimentais, mas eu já fiquei meio abalado depois do discurso fofo do Luigi, e agora eu estou colocando minha relação com meus irmãos e com meus amigos na frente das palavras. Chorei mesmo, foda-se. Até parece que eles nunca viram alguém chorar. — Eu não sei o que seria de mim se passasse por dez porcento do que você passou. Seu coração está em pedaços, você está... está despedaçado, Rey. Eu quero te ajudar a segurar cada pedacinho e reconstruir o homem incrível que você pode ser.
A essa altura meu queixo tremia de uma forma que nem o frio me faria tremer tanto assim. Rey voltou a chorar, e seu queixo, seus lábios, seu rosto inteiro e até suas mãos tremiam. As lágrimas caíam sem parar, e ele nem se importava mais em segurá-las. Nem eu me importava em vê-lo se libertar. Eu ainda estava com a mão estendida, esperando que ele me cumprimentasse.
Eu: — Seu melhor amigo, o Thomas, me contou quem você costumava ser. O homem que te adotou, que eu sei que você adoraria chamar de pai, também me contou sobre você. Olhando pra ti agora, dentre essas lágrimas eu só enxergo força, poder, e... esperança. Cara, você tem uma família incrível. O Marcelo te ama e te considera um filho. Ele é um professor foda, um pai foda, um mestre que ama ensinar... e o Otávio... cara, eu preciso falar algo sobre o Otávio? O garoto sabe tudo, é perfeito. Seu irmão é perfeito. Essa é sua família, Rey. Sua família que não te julga, não te xinga, não te faz mal, não te humilha, não te... não te faz sentir toda essa dor... é a família que você e sua irmã merecem ter. É a família que todos os seus irmãos mereciam ter. Eu sei que não é da minha conta, mas eu me importo com o seu futuro, eu me importo com quem você será, e eu espero que dentro do coração desse homem do futuro, ele guarde com amor toda essa família que tanto o fez bem. — ele finalmente limpou as lágrimas com as costas das mãos, soluçando sem parar.
Por ser da família do Otávio, ele poderia estudar na câmara também, assim como Diogo, Joaquim e Théo estão fazendo, assim como Alexa, Daniel e o primo do Daniel farão futuramente... mas não sei se Rey poderia. Se ele for humano e não souber do oculto, ele nem vai chegar perto da câmara, então acho que ele merece sim esses estudos, essa vaga.
Eu: — Apesar de você ter sido um idiota várias e várias vezes, até mesmo você merece ter seus sonhos, e eu estou torcendo por eles, de verdade. — naquele momento deu pra notar um brilho forte crescendo naqueles olhos. Ele só precisava de um impulso, se sentir querido de alguma forma e entender como se livrar do fardo que ele criou para se esconder. Ele achava que ninguém se importava com ele, que o único amigo de verdade que ele tinha era o Marcelo, que se tornou seu pai adotivo. — Muitos se importam com você, Rey. Você definitivamente não está sozinho. Nós estamos aqui, tá bom?
E ele o fez... ele aceitou minha mão em um cumprimento para selar a paz entre nós. Agarrou minha mão com força, mas... fiquei surpreso. Segurou minha mão com ambas suas mãos e me puxou contra ele, me dando um gostoso abraço bem apertado.
Reynard: — O-obrigado... obrigado mesmo...
Eu: — Por nada, Rey. Aliás, não se sinta inútil toda vez que fracassar. Acontece, ninguém é tão perfeito. Fracassar faz parte, serve pra gente contar como história pros nossos filhos, né? — ele riu baixo nos meus ouvidos. — Eu espero que você se torne expert em astronomia e me dê aulas sobre as estrelas. Nosso plano de terraformar Marte juntos ainda tá de pé, né? – ele assentiu com a cabeça. Me afastei e... coloquei a terceira medalha em seu pescoço. Ele ficou quietinho e em silêncio, olhando meus movimentos. — Huum, tá cheiroso! É assim que as gatinhas gostam. — ele riu, e abriu aquele sorrisão que eu queria ver, me fazendo rir também. Dei uma breve olhada pro Marcelo... e sim, eu consegui meu objetivo de desestabilizá-lo um pouquinho. Apesar de ser um cara super direto e intacto, como uma rocha apática, quando se trata da família ele se torna o cara mais sentimental do mundo, e eu já desconfiava disso. Ele só não gosta de demonstrar, mas deve ser super bebezão em suas relações pessoais, longe da profissão.
Bom... minha hora já deu. Saí da área dos vencedores e voltei a me sentar ao lado de Juan. Diogo se aproximou, tomando o lugar onde Sandra estava. Luigi voltou pro lugar dele também, e todos de seu grupo o abraçaram mais um pouco, e é claro que ele adorou. Ele ama abraços repentinos. Já que ninguém começou, eu comecei. Fiquei de pé e comecei a bater palmas para eles. Juan levantou em seguida, fazendo o mesmo. Meu grupo foi o primeiro a se levantar e aplaudir. Logo o grupo do Luigi... e então cada grupo se pôs de pé para parabenizar os vencedores.
Juan: — Foi muito legal o que você e o seu primo fizeram. — se aproximou do meu ouvido.
Eu: — Sou fiel aos meus amigos, não se preocupe.
Juan: — Não estou preocupado. — riu.
Vi Rey ficar meio deslocado lá, mas logo olhou pro Marcelo sem saber o que fazer, e foi recebido com um sorrisão. Celo estava com os olhos marejados e avermelhados. Missão cumprida. O Professor deu-lhe um joinha e continuou batendo palmas. Rey sorriu meio tímido e ficou ao lado da Sandra e do Igor, que começaram a pular e a forçá-lo a pular também. Rey então de repente parou tudo, toda a comemoração... saiu dali, passou pelos colegas e voou contra o Marcelo, dando um abraço de urso nele. Me derreti todo com aquele ato, e Marcelo parecia ter ficado feliz com aquilo. Tive que aguçar pra caralho minha audição, porque eu queria escutar o que falavam, e pra isso tive que fechar meus olhos. Minha audição e meu olfato funcionam muito melhor quando desativo minha visão.
Marcelo: — É isso aí, garoto! Você conseguiu! Você chegou lá!
Reynard: — Obrigado por tudo, Marcelo. Obrigado por ter me tirado de lá... por ter me suportado... por ter me colocado na sua casa... obrigado mesmo. Você foi o melhor pai que eu poderia escolher ter.
Marcelo: — Ah, vem cá, garotão! Eu te amo e você sabe disso! – abraçou Rey com força, sem conseguir segurar as lágrimas. Tive que abrir os olhos só pra ver a cena. Aposto que amou ser chamado de “pai” pelo garoto que ele cuidou desde criancinha.
Otávio, meio desconcertado e bem sério, se aproximou deles, olhando profundamente nos olhos do Rey, que pareceu meio tímido. Otávio não expressava nada em seu rosto, parecia completamente neutro, e isso era meio assustador, porque não dá pra prever o que ele vai fazer, ou o que ele está pensando. Ele é completamente imprevisível. Rey estendeu sua mão direita na direção dele e esperou um cumprimento.
Reynard: — Me desculpe por... por não ter sido o melhor amigo do mundo e ter dificultado tudo. Eu agi como um imbecil contigo, e deveria ter me esforçado mais pra me aproximar.
Otávio: — Tudo bem. Briga de irmãos é assim mesmo. — cumprimentou Reynard com um aperto forte, e Rey parecia ter ficado feliz ao escutar aquilo da boca do marrento-filho.
Reynard: — Estamos bem agora? – Otávio não respondeu. Ele apenas deu um lindo sorriso e abraçou Reynard. Pela primeira vez eu vejo esse garoto sorrindo. Ele sorrindo se parece ainda mais com Marcelo, e isso também é assustador. Parecem clones de idades diferentes, exceto pelo corte de cabelo.
Otávio: — Você merece. Só não continue sendo um otário. Agora me solte, e não me toque outra vez. — se afastou, virou as costas e voltou para onde estava. Rey ainda sorria, e deu de ombros.
Meu trabalho está feito.•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
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ABOOH : Amores Sobre-Humanos
Romance[+18] O que você faria se descobrisse que não pertence ao lugar onde morou por toda sua vida? E se soubesse que o futuro de sua verdadeira casa está sendo ameaçado junto com toda sua família e você precisa fazer algo para salvar um de seus lares? Q...