Hermione fechou os olhos por instinto. Cristais de gelo caíam agora em suas bochechas e em seus cabelos. Ela estava plenamente consciente da proximidade de Malfoy e do fato de que seus lábios podiam se tocar.
A neve abafou os gritos distantes das criaturas da floresta; o vento uivante do inverno havia até parado. Havia uma estranha calma no ar, mas também uma sensação generalizada de saudade.
Quando seus lábios permaneceram intocados, Hermione piscou e abriu os olhos.
Malfoy permaneceu imóvel em cima dela, como se não quisesse quebrar o contato. Mas ele agora desviou o olhar. Ele estava olhando para o Livro.
Ela não sabia quais pensamentos se acumulavam na cabeça dele, mas podia imaginar que devia ter havido algum tipo de diálogo interno. Talvez fossem os efeitos dos rituais, mas ela parecia mais hábil em ler o humor dele.
Ele não estava zangado, graças a Merlin.
Mas havia algo girando em sua mente que o impediu de beijá-la.
Foi como ela havia pensado; um beijo seria muito íntimo. Próximo demais. Isso indicaria que sua imersão na Magia do Sangue os levou a um território mais perigoso do que qualquer um deles jamais havia previsto.
— Malfoy — Hermione disse, quebrando o silêncio. — Você vai me acompanhar de volta?
Aqueles familiares olhos cinzentos pousaram nela; pequenas manchas de neve ainda pontilhavam os cílios dele. Suas bochechas ainda estavam coradas de um rosa claro; a palidez típica estava ausente. O cabelo platinado, normalmente bem arrumado, estava desalinhado.
Ele assentiu, recuando para se sentar de joelhos. Sem palavras, Malfoy entregou suas roupas a Hermione.
Os dois se vestiram sem falar.
Ao contrário do último ritual, Hermione não se sentiu tonta ou exausta. Na verdade, ela se sentia energizada, mas não de uma forma vertiginosa. Seu sangue estava quente.
Quando ela se levantou para abotoar a capa, ela se encolheu. Definitivamente havia alguma dor lá embaixo, mas ela presumiu que isso provavelmente fosse normal.
Enquanto a neve continuava caindo contra o fundo azul-marinho do céu noturno, Hermione sentiu uma pontada de tristeza. Era como se eles tivessem sua própria paz separada, livre de todas as ameaças que os aguardavam. Eles haviam criado outra realidade; uma dentro de um mundo ao qual seus corpos físicos haviam se conectado para formar uma magia que os permitia escapar temporariamente. Sua coroa de flores guardaria para sempre a lembrança de tudo isso.
— Granger — Malfoy finalmente falou, lançando-lhe um olhar de expectativa. Ele ficou ali oferecendo o braço para ela.
Hermione sentiu uma pequena vibração em seu coração quando ela entrelaçou o braço no dele. Embora ele ainda evitasse beijá-la, ele não a estava afastando.
Havia algo de muito antiquado e protetor nisso. Ela nunca se lembrava de uma ocasião em que Ron a tivesse acompanhado dessa maneira. A maioria de seus gestos românticos tinha sido desajeitada ou muito forte.
Juntos, Hermione e Malfoy deixaram o globo de neve em que a Floresta Proibida havia se transformado e fizeram a longa caminhada de volta à sala comum do oitavo ano.
Desta vez, não houve conversa divertida ou reminiscências. Ao entrar em Hogwarts, Hermione foi cercada por uma atmosfera distinta e agourenta. Eles estavam relutantemente voltando à realidade.
Enquanto subiam sorrateiramente a escada da torre, Malfoy parecia ter lido a mente dela.
— Nunca perguntei porque presumi que a resposta fosse 'não', mas você tem uma conta em Gringotts? — Ele manteve a voz num sussurro.
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Heartlines and Bloodlines | Dramione
FanfictionCinco meses após Harry Potter derrotar Lorde Voldemort, o novo Ministério da Magia está processando os Comensais da Morte em toda a sua extensão, na esperança de erradicar a supremacia do sangue puro da sociedade. Ao retornar como monitora-chefe de...