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Any Gabrielly

Com a cabeça encostada no banco do carro, encarando o horizonte enquanto estamos na estrada tento dormir, é engraçado pois acabamos de sair do Starbucks e comprei um café gelado para mim, contraditório eu diria.

Josh escuta uma música com batida eletrônica enquanto parece concentrado na estrada. Queria muito estar em casa agora, quer dizer, na casa de Heyoon já que não tenho uma casa para morar. Só queria estar dormindo nesse momento mas estou a caminho da casa dos pais de Sina com o cara que não sai da minha cabeça.

É estranho achar sexy um cara mascar chiclete? E algo tão comum mas vindo dele parece tão... Tentador. Eu devo estar bem cansada, por pensar em coisas sem coerência, devo estar precisando de mais horas de sono.

Queria não pensar nisso por um minuto mas não consigo, estou na rua e sem dinheiro para pagar um lugar para morar, não tem como deixar isso de lado e me jogar na piscina ou beber um drink deitada na espreguiçadeira ao sol. Já fiquei noites em claro tentando juntar minhas economias que não sao suficientes para pagar um aluguel e isso me preocupa, se não achar um lugar para morar estou ferrada.

Por mais que goste de morar com Heyoon, não é confortável nem para ela nem para mim. Dividimos um único banheiro, acordamos cedo e as vezes as duas estão atrasadas e precisam utilizar o banheiro ao mesmo tempo. Terei que pensar em um jeito, não poderei mais ficar na casa de Heyoon.

- Vou parar nesse posto de gasolina para abastecer. - Josh diz assim que passamos por uma placa indicando que há um posto a poucos metros a nossa frente.

Assinto suspirando pensativa, não posso dizer que fui uma pessoa com sorte mas ultimamente estou me superando. Achei que quando colocasse um ponto final nessa história com Tyller, minha vida iria melhorar pois estava livre, engraçado, estou livre e em um poço sem fundo, perdida e sem dinheiro. Dormindo na casa da minha amiga e trabalhando como uma escrava e recebendo um salário que não paga um mísero apartamento de apenas um quarto.

O carro estaciona no posto e Josh desce para abastecer. Saio do carro e procuro um banheiro, assim que acho dou graças a Deus já que estou apertada desde que saímos do café. Estamos em um posto de beira de estrada, sem sinal de celular e duvido que Sina já não tenha tentado me ligar para se sertificar que eu realmente irei.

- Any, está tudo bem? - Josh questiona do lado de fora do banheiro.

- Está, não precisa invadir o banheiro, como fez da outra vez. - Escuto sua risada.

- Você vai negar que não gostou?

- Eu estava fragilizada ok, me deixei levar e aquilo aconteceu. - Justifico.

- Não nomeie o que aconteceu como "aquilo", mágoa.

- Como nomearia aquele momento? - Questiono ao abrir a velha porta do banheiro que range as dobradiças enferrujadas.

- Aquele momento. - Diz ao levar as mãos ao bolso.

- Não é a mesma coisa?

- Não, aquele momento não faz ele parecer um erro.

- Mas foi. - Digo ao caminhar em direção ao carro.

- Mas para mim não. - Engulo em seco mas não me viro.

- Parabéns para você.

- Por quê você é assim Any? - Exclama alto e me viro.

- A vida me tornou assim Josh, não vivo em um conto de fadas onde tudo corre perfeitamente bem. Já fui machucada, desvalorizada, traída e abandonada. Não tenho motivos para ser de outro jeito.

- Aí que você se engana, deveria ser totalmente ao contrário, deveria ser mais aberta já que sofreu demais. Agora que está livre de tudo isso.

- As feridas não se curaram Josh, viraram cicatrizes que não gosto de lembrar. A cada momento feliz que tenho, meu passado vem para me lembrar que aquilo é passageiro e que tudo de bom, dura pouco.

Caminho até o carro entrando no mesmo, Josh entra logo depois e seguimos viagem. Em nenhum momento dissemos uma única palavra. Ele tem razão, eu deveria me abrir mais, mas como vou fazer isso se as feridas nem cicatrizaram? Os traumas estão presentes em tudo que faço.

Tudo que faço tenho medo das consequências já que quando fiz sem pensar, me ferrei no final e agora pago por isso até hoje. Me soltei para o mundo e o mundo se virou contra mim.

Um pouco da minha insegurança é o fato de me achar indiferente, não ser como as outras. Se um cara procura outra nas ruas é por que o que tem em casa não o satisfaz. Não gosto do meu corpo e nem sei se um dia irei gostar, me aceitar é algo que não consigo, acredite, eu já tentei.

Nunca recebi olhares de desejo, olhares que me façam perder o ar, olhares que me mostrem que sou desejada por alguém. Talvez esse trauma seja coisa da minha cabeça, por causa que já fui trocada por diversas ou talvez milhares de mulheres já que não sei o número exato de mulheres que Tyller se envolveu enquanto estávamos fingindo ter um relacionamento.

Como um idiota, cafajeste pode influenciar no amor próprio das pessoas, nunca me senti desejada aos olhos de Tyller. Eu fiz de tudo quando achava que o que tínhamos era real. Tentei ao máximo fazer com que desse certo, mas ai eu descobri que ele não me amava, e que eu também não o amava, me fiz acreditar nisso como uma forma de conforto e instabilidade social.

Patético eu sei, mas a sociedade pira sua cabeça com tabus, se você é solteira você é vagabunda, se namora é moça de bem. Se usar roupas curtas é vadia enquanto os homens podem namorar e trair suas namoradas com várias que terá pessoas para aplaudir e pedir mais.

Talvez tudo isso seja coisa da minha cabeça mas prefiro me esconder, é mais prático, mais seguro. O que as pessoas não veem, elas não estragam.
Enquanto Josh parece feliz batucando os dedos no volante a lembrança do que me contou me veem a mente.

Josh também foi traído, e acho que dá pior maneira possível, traição de quem considerava amigo deve ser terrível. Confiar cegamente em uma pessoa e a mesma ser responsável por puxar o seu tapete, te apunhalado pelas costas por causa de dinheiro é mil vezes pior que uma traição. Mas mesmo assim ele se levantou, não deixou que isso lhe abalasse ou talvez se tornou imuni a isso, como consequência se fechou.

Não esqueçam da "⭐" pois ajuda demais e comentem, os comentários me motivam a continuar.💕

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