𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝒇𝒂𝒔𝒆 (𝑀𝑢𝑑𝑎𝑛𝑐̧𝑎𝑠)

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O cheiro de café e terra molhada inunda o ar. Fazia alguns dias que a menina tinha deixado tudo para trás, o seu tudo para trás. Renata sempre foi muito adaptável a mudanças, mesmo que não gostasse delas, o que tornava mais fácil a realidade do presente para a garota que aos poucos, se tornava uma mulher com responsabilidades.

Sim, a idade da menina era um fator chocante. Só que ela não era uma menina comum, ela era uma entidade, filha de umas das mais poderosas entidades do mundo do folclore brasileiro. Em nossos olhos, ela era apenas uma criança, porém na realidade, a garota era mais velha do que todos nós. Só que amadurecer na idade é uma coisa, mentalmente é outra. E isso martelava na cabeça de Renata que respirava fundo a cada pensamento que inundava sua mente.

Bem, as vezes não era pensamentos e sim lembranças. Uma especial, que fazia seu coração sangrar a cada vez que retornava à sua memória. Aquela que não conseguia esquecer tão fácil. A memória de quando ela viu a Cuca sendo a Cuca. Porém não tinha tempo de pensar em besteiras, tinha que focar sua mente no seu propósito. Precisava urgentemente aprender como ser uma entidade de verdade. Precisava proteger os seus. Soube de uma escola, criada para filhos de entidades desenvolverem suas habilidades.

Isso ela descobriu em um livro, que ela roubou, da biblioteca particular de sua progenitora. Ela só tinha que saber chegar lá, tinha trago o livro para ler alguma coisa na viagem, o que estava funcionando. Depois de checar mais uma vez a gaiola de Rafael, a menina respira fundo  olhando para a janela. A cidade já tinha sido deixada para traz dando lugar a uma belíssima flora brasileira. Ela amava a floresta, os animais, a terra molhada debaixo de seus pés, a chuva que pingava lentamente em seu rosto, a brisa suave que beijava sua face com ternura.

Ela se imaginava correndo na mata, livre e indomável. Sentindo cada parte da floresta em seu ser. Porém esses pensamentos foram interrompidos pela freada brusca do ônibus. O que raios tinha acontecido? A menina se levanta do assento calmamente olhando confusa para a frente, os passageiros assustados se perguntavam o que tinha acontecido. Até que o motorista se levanta acalmando as pessoas.

— Senhores passageiros, fiquem calmos. Um animal saiu da mata e tive que freiar se não mataria o pobrezinho. — Um sorriso de satisfação surge nos lábios da menina.

— E mataria a nós?! E se o ônibus tivesse derrapado por conta da chuva? — Renata olha lentamente para trás e ver um homem brancoso, nariz de gancho e barrigudo excitando os passageiros.

— É uma vida senhor! — O motorista sensato exclama indignado.

— Pouco me importa. Mais a minha vida do que a dele. — As luzes do que estavam no ônibus começam a piscar quando o homem fecha a boca.

Todos olham confusos para as luzes sem se darem conta de que uma certa menina olha para o homem por cima do ombro. Se olhassem bem, daria para ver os olhos da menina brilharem laranja por um milésimo de segundo. A menina se vira para frente respirando fundo, o que ela mais queria era transformar aquele idiota em um porco. Depois que o motorista checou o animal, que a propósito era um filhote de onça, viu que não tinha nada de grave, ele só estava assustado. Com calma, Renata viu o homem colocar o animalzinho na mata e sentiu que a mãe estava próxima.

Isso deu um pouco de alívio pra a menina, só que a fúria da Caipora ainda estava dentro dela, ela só precisava dar uma lição naquele asno. A hora melhor para fazer isso era quando todos estivessem dormindo. Todos menos ela. Então ela esperou pacientemente, até que todos estivessem dormindo, deu uma checada rápida, as luzes estavam apagadas então não seria muito difícil. Caminhou até o homem que resmungava fazendo uma careta. Na escuridão, só se podiam ver os olhos laranjas da menina. Até que a mesma se aproxima do ouvido do homem sentindo o cheiro forte de perfume antigo.

Nunca pisarás na mata. Porque no dia que pisares, morrerás. — A cada palavra que Renata fazia, era como se ecoasse no lugar.

Depois disso, voltou para seu lugar sabendo que o homem não conseguiria mais dormir vendo uma certa aparição onde ele estivesse. O que seria um ótimo castigo. A menina cochila um pouco, herdará no sangue a maldição da Cuca, só podia dormir de sete em sete anos.

Ao acordar, viu todos descendo com suas bagagens o que a fez deduzir que haviam chegado. Pegando suas bagagens e a gaiola do Rafael que dormia tranquilamente, desceu do ônibus, não antes de murmurar uma benção para aquele motorista, ele tinha agora a proteção da Caipora. Desceu a ponto de ver o velho asno olhando assustado para os lados, o que gerou uma enorme satisfação na menina que se virou e caminhou para o lado contrário.

Caminhou mais um pouco para longe da cidade até que chegou em uma vila pequena. Viu crianças brincando com animais e outras de pega pega. Sorriu com a cena até que foi recebida por uma senhora idosa que olhando dentro do seus olhos, viu algo diferente na menina. Sabia que ela não era uma simples adolescente comum, ela era uma entidade ou filha de entidade. Filha de uma entidade poderosa.

— Seja bem vinda a nossa vila. — A menina assente agradecida. — Está cansada? Deve ter sido uma grande viagem.

— Só preciso chegar na mata amazônica. Pode me levar até lá? — Renata fala sem muita emoção. Fria e calma.

— Acho que uma menina tão jovem não deveria está pensando em entrar na floresta tão perigosa. — A idosa fala desconfiada.

— A floresta só é perigosa para aqueles que querem a fazer mal. — A voz cortante da menina faz a mulher recuar um pouco. — Tu já sabes que eu não sou uma menina comum, para que esse aperreio?

A mulher olha impressionada para a menina a sua frente. Estava certa, a menina não era humana, era cria de entidade. Entidade muito poderosa. Sem mais nenhuma palavra, a mulher anda em direção a mata e Renata a segue. Depois de andarem algumas léguas, a menina ver árvores enormes, e sente algo a puxando para a floresta. Virando se para a mulher idosa, faz uma reverência, agradecendo a mulher.

— Obrigada. Sigo daqui sozinha. — A menina segue um pouco mais para ao ouvir a voz calma de experiência da idosa.

— De qual entidade você é filha? — A menina sorrir e se vira um pouco.

— Avise a todos, que a Caipora chegou. — Seus olhos brilham em laranja fazendo a mulher sorrir largamente.

Então a menina anda adentrando a floresta, a menina que irá se tornar uma mulher. A floresta não irá mais sofrer, a protetora havia chegado para colocar ordem.

 A floresta não irá mais sofrer, a protetora havia chegado para colocar ordem

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Chegou a dona da porra toda!

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