Poderes

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Renata acorda ofegante. A sensação de queimação em seu peito ainda não havia desaparecido por completo. A pupila dilatada tentava focar em algo, pois tudo ainda estava muito embaçado. O suor descendo pelo pescoço e o arrepio na espinha fazia a respiração da menina ficar cada vez mais ainda difícil.

Óbvio que ela não conseguiria dormir. Estava fadada a viver aquela maldita sina, a de dormir somente uma vez em cada a 7 anos. A sina da Cuca, que a propósito era sua mãe, que não a queria mais, aquela que a menina tentava desesperadamente esquecer, porém não conseguia.

Era a sua mãe, fato. Ninguém poderia mudar isso, nem ela mesma. Mas que doía pra caralho, doía.

Porra! Aquilo doía de mais. Ardia, queimava, estava rasgando o peito da menina que se sentia sufocada. O suor descendo pela testa, a respiração irregular a estava fazendo entrar em um misto de agonia e desespero.

Até que os olhos conseguem visualizar algo, alguém pra falar a verdade. Irani tentava a todo custo chamar a atenção da caipora que aos poucos, foi conseguindo ouvir a doce voz da outra menina.

— Renata. Você consegue me ouvir?

A visão da entidade foi focando lentamente, a audição foi ficando mais clara. A menina agora, não tentava a todo custo puxar o ar para seus pulmões. Aos poucos ela conseguiu ouvir os sons dos pássaros cantando, dos sons dos grilos fora da cabana. Com um suspiro pesado, a mesma vai sentindo sua respiração ficar regulada.

— Amiga? Consegue me ouvir? — A voz calma de Irani chama a atenção de Renata que assente. — Quer alguma coisa? Uma água?

Renata nega se levantando calmamente pondo a máscara séria novamente.

— Não precisa Irani. Estou bem. — A menina caminha para frente do espelho e respira fundo vendo seu estado. — Só preciso de um banho.

— Tem um rio por aqui. Estou ouvindo o doce som da cachoeira. — Irani fecha os olhos ouvindo o som calmamente.

— Vamos então? — Renata pergunta e Irani assente sorrindo.

Ainda era cedo de manhã. Todas as guerreiras ainda estavam em suas tocas dormindo e a noite dava lugar ao dia bem lentamente. O vento gelado batia no rosto da entidade balançando seus cabelos negros suavemente. Rafael que seguia a dona pousou lentamente em seu ombro cansado de voar, e ficou muito satisfeito com o carinho que recebeu.

Por mais que a caminhada estava sendo bem agradável, o pesadelo não saía da mente de Renata, que estava mais calada do que o normal.

— Algum problema amiga? — A entidade sai de seus devaneios ao ouvir a doce voz da menina ao seu lado.

— Sim é só, que há uma guerra iminente surgindo e terá uma hora que irei ter que encarar meu passado e eu não sei se consigo. — Renata respira fundo parando na trilha olhando para o chão.

— Olha. Todos nós teremos que enfrentar nosso passado. Eu por exemplo, terei que rever a mulher que me abandonou em um cesto no rio Tietê. — Irani olha para a frente. — Vai ser difícil, eu sei, mas a questão é que não terei que fazer isso sozinha, nem você.

— A Iara fez isso com você? — Renata franze o rosto confusa. Não se lembrava de Camila sendo tão cruel.

— As aparências enganam. — Irani olha tristemente para o chão e caminha sendo seguida por Renata, que a segue pensativa.

Rio de Janeiro
Terça-Feira
9:25 da manhã

Inês franze o rosto em completa confusão ao olhar o livro que estava lendo. Como uma adolescente de 14 anos soube cobrir seus rastros tão perfeitamente bem?

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