Renata observa minuciosamente o garoto a sua frente. A pele escura que refletia a luz de sua casa deixava o mesmo mais bonito. O sorriso encantador e olhos cor de jambo a faziam lembrar alguém, ela só não sabe quem. Também havia percebido que o mesmo mancava de uma perna a fazendo franzir o cenho, até que vem a sua memória a lenda do saci.
O menino entrará em sua casa olhando tudo atentamente. Era como se tivesse vendo uma casa pela primeira vez. Vendo que o garoto estava tremendo, a menina o fez uma xícara de chocolate quente, nem todos gostavam de chás. A garota caminha lentamente até o sofá e observa de canto de olho o menino respirar fundo. Pela primeira vez em dois meses ela não estava sozinha. Talvez ela poderia ter amigos, ir para a escola de entidades e aprender a se tornar a verdadeira protetora dos animais.
— Então você é uma bruxa? — A menina que estava perdida em seus devaneios encara o menino rapidamente.
— Como? — A mesma se vira completamente, olhando o menino atentamente.
— Você parece uma bruxa, tem algumas mandingas lá fora que eu vi, visse. E também tem um gato, qualquer bruxa tem um gato. — A menina rir negando lentamente.
— Eu não sou uma bruxa, porém aquela que me gerou é. — A menina diz segurando firme a xícara de chá. — E como eu já tinha te dito, sou a Caipora.
— Cê demorou a chegar visse. Os homens já estavam quase acabando com a floresta, onde tu tava? — O menino pergunta confuso para a garota que sorrir com um riso triste.
— O passado não importa mais não acha? Eu estou aqui não estou? — A menina olha para a janela onde a chuva caia fortemente.
— Meu pai sempre me dizia que o passado é importante. Ele revela nossas raizes e nossa trajetória. — Caio fala sorrindo. — Sinto falta dele.
— Ele te deixou não foi? — Renata fala olhando para a reação do garoto que assente. — Todos eles fazem isso Caio, estão fadados a abandonarem qualquer vestígio que lembre o passado deles. Você confia e se entrega e eles lhes abandonam, mais uma vez. — Renata suspira olhando para o nada pensativa.
— Que tal a gente falar sobre a escola? — Caio pergunta tentando fazer a menina se alegrar e o resultado foi esse mesmo.
— Me conta tudo o que você sabe. — Renata se senta perto do menino que estava sentado perto da lareira, no chão, envolto de algumas almofadas. Caio rir do jeito entusiasmado da garota.
— Sei que é uma escola criada para filhos das entidades brasileiras, a maioria não sabe que é filho de entidade sabe? Então fica difícil para eles controlar os poderes. — O menino fala dando de ombros.
— Então quer dizer que eu posso entrar? — Renata pergunta ansiosa.
— Se você for filha de entidade, sim. — A menina respira aliviada. — A coisa boa é que os principiantes não precisam de material escolar, eles dão tudo lá.
— Então quer dizer que só precisamos ir? — O menino assente. — Simples assim?
— Bem, que eu me lembre sim. — A menina sorrir docemente.
— Ótimo. Eu vou com você. — O menino franze o rosto. — Que foi?
— De qual entidade você é filha? — Renata trava com a pergunta feita pelo garoto.
— Boitatá! Sou filha do boitatá. — A menina sorrir convincente.
— Entidade poderosa. — Caio afirma bocejando.
— Ok garoto, hora de dormir. Amanhã será um grande dia. — A menina apaga as lamparinas e se deita em sua cama.
Boitatá. Sério Renata? O pensamento faz a menina rolar os olhos. Tantas outras entidades e ela escolheu logo a serpente de fogo. Talvez deveria ser apenas um impulso. Só que não.
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Efeito Borboleta
FanfictionInês sempre foi fechada, literalmente, pra todos. Mas com a volta do corpo seco, foi necessário uma abertura de alma afinal, seus amigos estavam sendo mortos. Como a mesma reagirá com a volta de uma pessoa que pensou ter perdido a muito tempo? �...