Capítulo 22

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   Ele parecia estar mais inquieto do que o habitual e, nem mesmo as saídas em casais que faziam final de semana, pareciam aliviar sua tensão. Agora, sozinhos em seu apartamento, brincava com o dedo ao redor da boca da garrafa de cerveja que tomava, enquanto ponderava se valia a pena, ou não, fazer a pergunta que lhe rondava há dias.

   — Quando quiser dizer o que está te incomodando, estarei aqui para ouvir.

   — O quê? — Ele perguntou num sobressalto.

   — O que há de errado, Adam?

   — Nada, eu só... Você confia mesmo na Sarah?

   — Ela não me deu motivos para desconfiar. Já é alguma coisa, não acha?

   — Para ser sincero, eu acho que não. Essa aproximação de vocês, sei lá, acredito que ela possa estar se aproveitando. Tirando informações de você, para passar ao pai.

  Marion franziu a testa, enquanto mordia um pedaço de seu peixe em isca.

   — Pensei que gostasse dela — declarou a mulher.

   — Não disse o contrário, May. Só acho que pode ser conveniente para ela.

   — Mesmo ela odiando o pai?

   — Isso é o que ela diz — Adam suspirou. — Só estou dizendo para ser cuidadosa, tá bom? Não quero que saia machucada dessa história.

   Marion sorriu e beijou a bochecha do noivo.

   — Vou ficar bem. Só quero acabar com ele logo.

   Adam deu um aceno de cabeça e colocou uma batata frita na boca. Depois de alguns minutos, ele olha para a noiva.

   — Depois que tudo isso acabar, você vai mesmo se aposentar?

   — Sim. Nesses últimos anos, fizemos mal a inúmeras pessoas, famílias. Quero dizer... Alguns realmente eram cretinos, mas não todos. Quero sim justiça com minhas próprias mãos, mas apenas com quem merece.

   — Ou seja? — Adam perguntou, após beber um gole de sua cerveja.

   — Ou seja, quero acabar com isso o quanto antes. Se Sarah puder me ajudar, sendo ou não sem interesse, não vou recusar.

   — Certo, tudo bem. Agora o que temos que fazer é torcer para dar certo — Adam sorriu, decidindo mudar definitivamente de assunto. — E as coisas do casamento, May?

   — O que tem elas?

   — Faz algum tempo que você não fala como estão. Como estão indo?

   — Bom, Stacy me fez escolher sobre as cor das flores que eu quero e tudo mais, além de cor do vestido dela e mais um mundaréu de coisas — Marion solta uma risadinha, lembrando-se dos desorientamentos da amiga. — Fora isso, está tudo certo. Stacy é uma ótima organizadora, para ser sincera. Também vamos fazer a prova de nossos vestidos outra vez semana que vem.

   O sorriso de Adam aumentou ao imaginar May em um vestido de noiva, andando rumo ao altar em sua direção. Também não pôde deixar de pensar nele, horas mais tarde, despindo aquele vestido de Marion.

   — Mal posso esperar para vê-la nele — concluiu.

•••

   Dia após dia, Marion se aproximava ainda mais de Sarah e, até mesmo Stacy, parecia estar se aproximando dela também.  Durante algumas tardes nos finais de semana, elas até passavam juntas, rindo e se divertindo.

   — Meninas — pronunciou Sarah. Sua mão apoiada na coxa de Andy. — Vou fazer uma pequena reunião lá em casa amanhã e gostaria que estivessem presente. Não será nada muito grande, nem faço muita questão para ser sincera, mas Andy insistiu.

   — Hm! Não sabia que você tinha família aqui, Sarah — observou Stacy.

   — Sim, eu... — uma troca de olhares rápida e imperceptível entre Sarah e Marion, como se a primeira desse o sinal que a assassina estivesse esperando. — O meu pai mora aqui. Não temos muito contato, mas Andy fez tanta questão que eu não pude contrariar.

   — Quem diria que Andy Rivera é uma romântica à moda antiga — Marion brincou e a secretária riu baixo.

   Sarah estava prestes a dizer alguma coisa, mas foram interrompidas por Stacy, que levantou-se e saiu correndo, alegando um enjôo repentino. Do jeito que ela esbarrou em Conner ao passar, nenhuma delas duvidou.

   — Davies, posso ir buscar mais uma rodada lá na cozinha?

   — Claro, vai lá!

   Sarah levantou e pegou a bandeja de pesticos praticamente vazia. Ao chegar na cozinha, deu de cara com Conner mexendo em seu telefone, alheio a sua presença.

   — Quando vai contar? — Sarah disse como cumprimento.

   Conner arregalou os olhos, assustado, e virou-se para ela. O agente suspirou enquanto bloqueava o celular e o guardava.

   — Isso vai fazer alguma diferença na sua vida? — Ele perguntou com um sorriso irônico.

   — Na minha não, mas na sua... — ela suspirou. — Ela está grávida. Não pode arriscar coloca-los em perigo. Você está cansado de saber que, enquanto estiverem aqui, ela com um alvo nas costas.

   — Eles não a machucariam.

   — Ela — frizou a mulher — não a machucaria. Fala sério, Conner, ela não pode ficar a deriva de tudo assim.

   — Agradeço sua preocupação, agente VonPierre, mas é melhor seguirmos com o plano. Tudo certo para o encontro de amanhã?

   — Infelizmente, sim.

   — Então é melhor voltar para lá, antes que nos peguem conversando e...

   — O que há de errado em vocês conversarem, querido?

   Conner engoliu em seco, olhando para a amiga. Foi Sarah quem respondeu por ele:

   — Ah, ele estava dizendo que você é ciumenta demais e não gosta de vê-lo conversando — Sarah riu, olhando o homem de cabelos negros de cima a baixo. — Mas não se preocupem, os dois, porque eu detesto essa fruta.

   Outra risada da agente e, desta vez, Stacy a acompanhou.

— Vem, vou te ajudar a preparar as coisas para levarmos para sala — oferece-se a loira.

Conner e Sarah se olharam uma última vez, tendo uma conversa silenciosa entre eles, antes que o homem de retirasse da cozinha, deixando-as a sós.

  

Assassina de Luxo [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora