São e salvo

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"Me lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto quando eu disse: Nunca irei te deixar. Quando todas as sombras quase mataram a sua luz, lembro que você disse: não me deixe aqui sozinho..." - Civil Wars ft Taylor Swift, Safe and Sound.

***

Steve ficou em silêncio escorado na parede escutando Tony tocar piano por quase uma hora, era uma coisa nova experimentar a dor alheia pela música. Ele sabia que alguns artistas derramaram sua alma em suas músicas, mas ele nunca presenciou o momento em que alma de alguém chora pela primeira vez através da música. Steve sentiu seu coração doer por Tony. Era algo tristemente lindo de presenciar.

O luto em si era uma dor muito única, não há como prever como alguém vai reagir a perca de um amado, algumas vezes o luto leva as pessoas ao ódio a raiva, a desilusão, outras vezes leva a uma dor profunda em que sua mente se esconde em uma realidade em que nada ruim jamais aconteceu e tudo está bem como deveria estar.

E Tony estava sendo tão forte, tão independente da sua dor que Steve estava com medo de que Tony não entendesse ou não quisesse entender o que estava acontecendo ainda. Steve esperou, ouviu o que Tony estava dizendo, mas principalmente ele ouviu o que Tony não estava dizendo, e a música triste tocada repetidamente deixava algumas cicatrizes bem óbvia. Não que ele estivesse exigindo que Tony estivesse bem, só faziam alguns dias, mas ele precisava que Tony estivesse bem, ele tinha uma notícia para dar, uma notícia complicada e não queria deixar Tony sozinho naquela situação.

Ele entrou devagar, como da primeira vez que ele entrou naquele cômodo, Tony estava com as janelas abertas, as luzes apagadas, com a sala iluminada pela lua. O copo de whisky no piano e a camisa aberta, mas os olhos estavam fechados enquanto ele terminava a música. Steve se sentou com leveza ao lado de Tony e tocou de leve a coxa dele apertando pra chamar sua atenção. Tony termina a música e Steve observa com o olhar delicado de um espectador, provavelmente, ele era o fã número de Tony. E Tony como todo artista que está entregue a sua arte, levou seu tempo pra terminar sua música e Steve esperou com os olhos bem abertos não querendo perder o ato final de uma triste despedida de um filho para o pai.

Tony suspirou ao terminar a música, ele se esticou e pegou seu copo, ele bebeu um gole do whisky e endireitou sua coluna se virando para Steve.

- Pensei que ficaria a noite toda no corredor - Tony comenta com um pequeno sorriso de canto.

- Não, eu precisava saber se você está bem. Só queria te dar o seu tempo.

Steve se sentiu, como no primeiro dia que chegou a casa dos Stark: perdido. Ele procurou pelos olhos castanhos que pareciam derramar um oásis de paz, mesmo que estivesse em dor, porque talvez isso fosse amor, por trás de tudo sempre existiria paz. Steve limpa a garganta e então vê que os lábios de Tony estão se mechendo e ele se força a prestar atenção no que Tony diz.

-... então, obrigado Stee. Você tem sido...  - ele balança a cabeça e sorri bebendo mais um gole -, já bebi demais, é melhor eu ficar em silêncio. Não quero dizer nada que eu vá me arrepender pela manhã.

Steve sorri para ele e olha para o chão, os sapatos caros de Tony pareciam ainda mais imponentes perto dos pés descalços de Steve.

- Você se arrependeria de dizer o que quer dizer? De verdade? - Steve questiona ele com curiosidade, mas ele ainda não olha para Tony de novo.

- Não. Eu não sou um homem que tende ao arrependimento, Stee, mas não acho que esse seja o momento de falar sobre... certas coisas. Eu estou confuso, tem muita coisa acontecendo, não preciso adicionar mais uma coisa.

Steve sorri para o chão, ele tinha uma mínima ideia do que poderia ser, mas não queria falar sobre isso, assim como Tony, ele sabia que já tinham coisas demais na história deles, confusão demais, dor demais, ele concordava que eles não precisavam adicionar outra coisa ainda mais complicada para ambos, principalmente para Tony.

O UsurpadorOnde histórias criam vida. Descubra agora