Sheilla acordou na manhã seguinte se sentindo mal. Ela tomou seu café da manhã devagar, e depois se vestiu ainda mais devagar. Ela não ligou o rádio para escutar as notícias da manhã, que era algo que normalmente ela faria. Ela também não leu o jornal. Na verdade, hoje ela não fez nada que normalmente ela faria. Isso fez ela se sentir doente. Quando chegou a hora de sair, ela parou na porta por alguns minutos, levando a mão em câmera lenta até a maçaneta e recuando rapidamente, quando ela perdeu a coragem de sair. Bom, ela disse a si mesma que estava sendo uma covarde.
Mesmo depois de tudo isso, Sheilla chegou na clínica antes de Gabriela e estava com a ansiedade à flor da pele enquanto esperava a outra na sala da frente. Ela perdeu a conta de quantas vezes olhou para o relógio, mesmo sabendo que era cedo. Sua mente não podia parar de aterrorizar ela, e se Gabriela tivesse mudado de ideia e decidiu então não aparecer? Ela poderia muito bem não querer ir adiante com a coisa toda e desistir sem dizer a Sheilla.
Mas, minutos depois, Gabriela estava abrindo a porta de vidro e olhando ao redor da sala de espera, suas bochechas estavam vermelhas pelo frio que fazia lá fora. Ela estava vestindo um suéter enorme que parecia muito velho e feio, Sheilla tinha certeza que tinha vindo de um brechó. Ela se levantou de uma só vez. – Gabriela.
– Hey – ela disse sem fôlego, se aproximando. Olhando Sheilla diretamente nos olhos, ela sorriu. – Então. Está acontecendo.
– Está acontecendo. – Sheilla disse, incapaz de conter um pequeno sorriso. – Oh! Aqui. – Ela enfiou a mão na bolsa para tirar uma pilha de papéis e uma caneta. – Basta assinar onde está marcado e então estamos prontas para iniciar o procedimento.
– Claro. – Gabriela se apoiou contra a mesa de café na sala de espera, se ajoelhando para assinar. Sua assinatura era um pouco desorganizada e rabiscada. Sheilla pensou que isso era muito Gabriela, antes de se repreender. Ela mal conhecia Gabriela, como ela poderia pensar uma coisa dessas?
De qualquer forma, Gabriela foi rápida para assinar tudo. Ela parecia nervosa e incapaz de se manter calma, mas Sheilla não poderia culpá-la, ela estava prestes a fazer um procedimento que iria deixar ela grávida. Sheilla olhou pra ela, e Gabriela parecia estar lidando bem com tudo isso, apesar do nervosismo. – Você está bem? – Perguntou Sheilla.
Gabriela olhou pra ela e sorriu torto, como uma forma de zombaria, mas também de uma forma divertida. – Sim, eu estou bem. – Ela sorriu, como se essa fosse uma pergunta ridícula que Sheilla havia feito. – Você está?
– Sim. – Disse Sheilla ao mesmo tempo.
Um funcionário da clínica apareceu no corredor e sorriu pra elas. – Prontas?
Sheilla olhou para Gabriela, que parecia igualmente nervosa, como Sheilla havia se sentindo ao acordar, mas ela balançou a cabeça. Sheilla olhou de volta para o funcionário. – Prontas. – Ela disse.
Sheilla já tinha feito o procedimento antes, quando ela tentou a fertilização in vitro, e principalmente, ela já sabia o que esperar, mas agora, sentada em um escritório à espera de alguém da clínica entrar com Gabriela, sua mente vagava para a morena que parecia estar totalmente verde, assim que foi levada para a sala de procedimento. Será que Gabriela pesquisou como acontece? Ela sabia o que esperar?
Sheilla se levantou e caminhou pela sala, ansiosamente. Olhando para os certificados emoldurados do médico na parede, olhando para fotos de famílias e outros objetos pessoais espalhados ao redor da área de trabalho. O computador estava com a logomarca da clínica, e Sheilla ficou olhando por algum tempo, antes de fazer outra volta por toda a sala. Ela cruzou os braços e fechou os olhos, contando sua respiração. Caroline sempre dizia para fazer isso quando ela estava estressada. E isso, naturalmente, fez ela pensar em Caroline e Fabiana, e seu estômago começou a embrulhar. Bufando, ela se sentou novamente e esperou até que a porta do escritório fosse aberta.
O médico foi o primeiro a entrar, atravessando a sala e se sentando atrás de sua mesa, Sheilla ficou grata que ele não a pegou bisbilhotando suas coisas. Em seguida, Gabriela entrou silenciosamente e se sentou na cadeira ao lado de Sheilla, com os braços cruzados sobre o peito. Sheilla olhou para ela, tentando decifrar algum tipo de reação ou emoção, mas Gabriela estava olhando fixamente para o médico, que começou a falar.
– Então. – Ele disse, batendo palmas. – Em termos médicos, tudo correu perfeitamente bem. A partir de agora, é só esperar e ver se tudo vai dar certo. – Ele olhou para Gabriela. – Você deve fazer o teste de gravidez regularmente, começando daqui a três semanas. Até lá, eu vou te dar uma lista de coisas que eu recomendo para você tomar. São apenas vitaminas e hormônios, toda mulher que quer engravidar, deve tomar. Se tivermos a confirmação de uma gravidez, você deve continuar tomando e começar a fazer alguns exames e testes de rotina.
– É isso. – Sheilla disse, lentamente. – Esperar três semanas e ver como vai ser?
O médico concordou. – É isso aí. Vou dar a vocês um número, vocês podem me chamar se tiverem alguma dúvida, mas até que a gravidez seja confirmada, não temos nada a fazer, senão esperar. – Ele sorriu para as duas. – Boa sorte pra vocês.
– Obrigada. – Sheilla franziu a testa.
Gabriela começou a se levantar da cadeira e Sheilla tomou isso como uma sugestão para se levantar também. Ambas acenaram para o médico antes de sair do escritório. Gabriela começou a descer o corredor e Sheilla teve que apressar o passo para poder acompanhá–la. – Então? – Ela disse, tentando chamar a atenção de Gabriela
– Então? – Gabriela respondeu
– Então?
– O procedimento foi bem se é isso que você está perguntando, mas você ouviu o doutor, não há nada que possamos fazer durante essas três semanas.
– Temos que comprar essas vitaminas e hormônios. – Disse Sheilla
Gabriela estremeceu um pouco. – Okay, ótimo, uh... na verdade eu acho que posso fazer isso sozinha. – Ela se mexeu nervosamente, e isso fez o interior de Sheilla explodir de nervos. – Eu só... tenho um lugar para ir, hoje à tarde, isso é tudo. Eu posso pegar no caminho de casa, apenas me envie a lista com os nomes.
Sheilla franziu a testa. – Você tem certeza?
– Claro que eu tenho certeza. – Disse Gabriela, com um sorriso forçado.
– Você está bem, certo? – Sheilla estreitou os olhos
Gabriela bufou um pouco. – Sim, eu estou bem. Não se preocupe comigo.
– Eu sinto muito se eu estou em um estado constante de preocupação com você, ultimamente. – disse Sheilla, mais impotente do que ela quis soar.
– Okay, tá tudo bem. – Gabriela disse, cuidadosamente. – Eu vou te ligar esta noite, okay? – Ela começou a caminhar até a porta.
– Gabriela... – Sheilla chamou, enquanto tirava duas notas de cem dólares de sua bolsa. – Para as vitaminas e hormônios.
– Tchau!
Sheilla observou as costas de Gabriela recuarem pelo estacionamento, através das portas de vidro da sala de espera. Ela engoliu a seco, sentindo um nervoso em sua mente. Algo estava errado com Gabriela, ela podia afirmar isso. Sheilla sentiu uma necessidade imperiosa de ajudar Gabriela, se certificar de que ela não estaria estressada ou sobrecarregada, ela disse a si mesma que o estresse seria ruim para o bebê. Mas enquanto observava a mulher de cabelo escuro desaparecer entre os carros do estacionamento, ela tentou não pensar no quão desconfortável se sentia com o pensamento de uma Gabriela angustiada, isso a estava atormentando.
Suspirando e balançando a cabeça, ela deixou a clínica.
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Feels Like Home | SHEIBI
FanfictionTodos acreditam que Sheilla Castro não nasceu para ser mãe. Ela é fria, rígida e inflexível, mas ainda sim, quer ter um bebê. Gabriela Guimarães, é uma artista sem sucesso que precisa desesperadamente de dinheiro para poder impulsionar sua carreira...