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ISAAC GILINSKY • CALIFORNIA

- Vai lá, filho. - A Beatrice beija minha testa.

Chegamos no hospital e meu cadastro já estava lá, eu apenas precisei pegar o papelzinho. Meus pais ficaram ali na sala de espera enquanto eu ia visitar a Sarah.

- Preferi não dizer que você veio, ela poderia ficar ansiosa e acabar passando mal. - A mãe dela diz.

Conversamos um pouco antes de entrar, logo ela foi conversar com meus pais e eu fui para o quarto em que a Sarah estava.

Abro a porta bem devagar, entro com os chocolates e fecho a porta. Observo todos os detalhes do quarto, desde as paredes beges, até as cortinas brancas.

A Sarah dormia, ou pelo menos, estava acordada porém de olhos fechados. Estava com soro na veia, provavelmente não estava se alimentando.

- Mãe? - Ela diz com a voz baixa. - Fecha as cortinas por favor, a luz está me incomodando.

- Não é sua mãe, sou eu. - Falo assim que paro na frente de sua maca.

Ela abre os olhos na hora e ficamos nos encarando por uns segundos. Faço o que ela diz, fecho as cortinas e me sento na poltrona que tinha ao lado da maca.

Não sabia o que dizer e não sabia como começar o assunto. Não havia escolhido as palavras certas e... estava tudo uma confusão.

- Por que está aqui? - Pergunta.

- Eu voltei.

- Sozinho?

- Com meus pais. Eles foram atrás de mim e me acharam. Mas isso é história pra outro momento. Me diz, o que aconteceu com você?

- Me ajuda a sentar. - Pede e eu lhe ajudo.

Me sento na maca e pego sua mão, a que não estava com a agulha.

- Anemia.

- Como assim?

- Eu já sofria bullying antes, quando você saiu, juntou a bomba que você me jogou, o bullying mais pesado e a minha preocupação. Tudo isso, mais a mídia e todo mundo perguntando, onde estava você, o que tinha acontecido.

Seu olhar estava triste.

- Uma agonia muito grande de saber de algo que o mundo todo quer saber e não poder falar nada. Enfim, não conseguia mais comer, não tinha mais apetite. Fiquei fraca, ficava tonta toda hora. Quando ia pra escola, matava todas as aulas, só para elas não me verem. Aí tive uma tonteira muito forte e vim parar no hospital. Estou fraca, não consigo comer e estou me alimentando a base de soro.

- Era aquele grupo que vivia olhando pra gente?

- Sim. - Suspira. - Sua mãe me salvou. Ela foi me perguntar na escola se eu sabia de algo e entendeu tudo só ao me olhar.

- É, ela já passou por isso, sabe muito bem como é. Fico feliz por ela ter te ajudado. - Sorri. - As meninas foram expulsas?

- Sim, graças a Deus. Falei com a diretora, a Beatrice me ajudou tanto, devo tudo à ela.

- Ela me trouxe e está aí com meu pai, depois vocês podem conversar. - Me ajeito. - Agora, é minha vez de falar. Primeiro, trouxe chocolates.

Coloco a caixinha em seu colo. Ela sorri ao olhar.

- Eu queria te pedir um trilhão de desculpas. Eu não devia ter te metido nisso, não devia ter te deixado, não devia ter feito nada das porras que eu fiz. Mas, eu fiz. Errei feio, errei muito feio, puta que pariu. - Rio de nervoso. - Mas estou aqui tentando me redimir com você, porque eu te amo.

Ficamos em silêncio por um tempo depois dessa frase.

- Quando cheguei na Itália, ela me comprou um celular e fomos para a casa do meu avô, porque ela não tinha mais nada depois que meu pai recuperou tudo. Uns dias depois, meus pais me acharam e foram lá. Meu avô bateu na minha mãe e meu pai voou em cima dele. A Danielle se entregou e eu acho que meu avô morreu.

- Morreu? - Ela parecia assustada.

- Sim, foi pra cadeia e meu pai disse que iriam terminar de acabar com ele lá. Enfim, ele é um homem podre. Tanto por dentro, quanto por fora. Depois disso, conversei com meus pais e com meu irmão, pedi desculpas não sei quantas vezes. Sempre acho que não está bom, vai ficar guardado na minha memória pra sempre.

Enquanto eu contava, ela abria a caixa de chocolates e os analisava, um por um.

- Quando soube que você estava aqui por causa de mim, eu entrei em colapso. Eu juro que não queria te magoar, Sarah. Eu apenas agi sem pensar, me desculpa mesmo. - Falo e beijo sua mão.

Ela apenas sorri e olha para a janela, enquanto uma lágrima escorria por sua bochecha.

- Fico feliz que tenha voltado. Eu te perdoo e... obrigada pelos chocolates, mas não vou comê-los agora.

- Quando se sentir bem, coma. Vou dar pra sua mãe quando eu sair daqui, aí ela leva pra casa e deixa guardado até você voltar, que não vai demorar muito.

- Eu espero, não aguento mais ficar aqui. A cor desse quarto me irrita, a roupa de cama, tudo.

- Logo logo você sai, joaninha. - Ela sorri ao lembrar do apelido que dei pra ela um tempo atrás.

Conversamos até o horário de visita acabar. Amanhã estarei aqui novamente, isso é óbvio. Irei visitá-la até ela sair daqui.

Fomos pra casa e me senti aliviado de ter me reconciliado com ela. Até mesmo porque não é sempre que brigamos com a pessoa que gostamos.

- Quando vai dizer pra ela? - O Alex para no batente da porta do banheiro.

- Dizer o quê pra quem? - Continuo escovando os meus dentes.

- Pra Sarah ué.

- Ah. Dizer o quê pra ela?

- Que você gosta dela caralho.

- Não posso falar agora, ela tá no hospital e a gente nem ficou ainda.

- Escuta o que eu estou te falando, Isaac. Se não vai se arrepender depois. - Sai do banheiro como se nada houvesse.

- Alex volta aqui, eu tenho ansiedade porra!

ᴍᴀғɪᴀ 3 ✦ ᴊᴀᴄᴋ ɢɪʟɪɴsᴋʏOnde histórias criam vida. Descubra agora