Pov. Milena
— Isso só pode ser brincadeira — exclamei na porta do meu novo apartamento.
Meia hora depois que eu cheguei em Florença, tive que correr até o apartamento para pegar as chaves com a proprietária. Mal consegui comer dentro do aeroporto e também estava cansada demais para ir a um restaurante. Com esse pensamento, subi de elevador até o 5º andar do prédio, sem expectativas altas de como seria o meu novo cantinho.
Só não esperava que fosse um apartamento tão grande.
Depois que aceitei a proposta, foi encaminhado todo o contrato para que eu pudesse ler com cuidado e atenção. No texto continha algumas ressalvas importantes, como o fato da empresa me oferecer moradia pelo tempo do contrato e um carro a minha disposição. Quando contei isso a Manoela, falei que parecia um sonho, mas ao mesmo tempo suspeito. Claro que muitas empresas propõem o céu e a terra quando estão interessados no trabalho da pessoa, mas eu não estava acreditando em nada daquilo — na verdade, na minha cabeça o golpe era certo e eu teria que correr atrás de um apartamento sozinha.
Não estava acreditando em nada daquilo, até pisar aqui.
Ouvi meu celular tocar dentro da bolsa e isso me fez sair dos meus pensamentos. Olhei a tela com o nome Manu brilhando. Atendi a chamada passando pela porta com as malas.
— Se você não me atendesse eu ligaria para a polícia! — disse ela "calmamente" do outro lado da linha.
— Boa noite, amiga, como foi de viagem? — respondi rindo. — É assim que se começa uma ligação.
— Você realmente está bem?
— Tive que correr até o endereço do apartamento para pegar as chaves, mas estou bem e com fome.
— Então não foi golpe?! Isso é bom.
— Eu teria processado eles.
— Você teria mesmo processado eles! — riu. — E como é?
— Como é o quê? — Soltei a bolsa no sofá marrom e caminhei até a cozinha. Tinha que ter algo pra comer aqui.
— Florença, Milena! — exclamou esperançosa. — Você sabe que eu sempre quis conhecer essa parte da Itália.
— Manu, eu saí do aeroporto e corri para o apartamento, não vi quase nada da cidade. E eu sei muito bem que você ama esse lugar, espero que venha me visitar.
— E se eu for no natal?
— Sério?! — Sorri esperançosa. — Então terei que decorar minha nova casa.
Nova casa... Isso soava tão estranho.
— Vai mesmo!
Manu era o tipo de pessoa obcecada pelo Natal. Lembro de visitá-la no começo de dezembro há um ano atrás e seu apartamento já estava totalmente decorado. Parecia aquelas casas que aparecem nos filmes natalinos da Netflix. Uma vez ela comentou que queria passar o natal fora, especificamente em um lugar frio, então a vinda dela para Florença seria perfeita.
— E quais são as expectativas agora que vai se arriscar numa nova língua?
— Assustadora! — respondi sinceramente, deitando-me no sofá depois de encarar a geladeira vazia. — Parece que vou ter muita dificuldade em me adaptar, mas ao mesmo tempo sei qual será o meu trabalho e sei fazê-lo muito bem. Eu não sei. É um misto de emoções, entende?
— Entendo. Não quero que se sinta pressionada e com medo, mesmo que isso seja quase inevitável. Não faz bem alimentar a ansiedade.
Sorri com suas palavras.
— Você tem que parar de fazer isso.
— Fazer o quê?! — riu do outro lado da linha.
— Se preocupar comigo. Eu sou a mais velha e eu era quem deveria estar preocupada por deixar minha irmã mais nova postiça sozinha.
— Ok, precisamos acertar esse termo "postiça" também. É esquisito.
— Eu gosto.
Fiquei muda por pelo menos dois minutos no telefone. Pensei que Manu já tinha desligado, mas sua respiração pesada se fez presente contrariando meu achismo.
— Vai ficar tudo bem, Mi!
— Eu sei!
💌
Depois de tomar um banho relaxante, observei todo o apartamento. A sala era mais espaçosa que a cozinha, com um banheiro social no corredor que dava acesso aos quartos. A sacada gourmet também era grande, caberia facilmente 15 pessoas naquele espaço. Havia dois quartos e mais um espaço — que eu estava pensamento em transformar num mini escritório —, sendo um dos quartos uma suíte. Os móveis eram planejadas, principalmente a cozinha moderna.
Fiquei imaginando o valor do apartamento.
Vesti uma roupa confortável para sair. Já eram 19h da noite e eu não tinha comido nada, então decidi procurar restaurantes por perto — não era difícil achar, já que eu estava próxima do centro. Acabei achando um a duas esquinas do apê com um mercado na frente, isso já me ajudaria muito nesses dias fora de casa.
Não sei se era a sensação de estar em um novo país ou a vontade de conhecer coisas novas, mas até o ar parecia diferente em Florença. Quanto mais eu caminhava, mais o ar batida em meu rosto e eu podia sentir algo puro, totalmente diferente de São Paulo.
O restaurante era pequeno, mas muito sofisticado. Por ser dia de semana, fiquei surpresa por ele estar com 90% das mesas ocupadas. Poderia ser a boa fama da comida ou a boa fama do vinho. Isso me fez questionar sobre algo: quando que as pessoas resolveram que beber vinho enquanto faz uma refeição seria uma boa ideia? Manu tem esse espírito italiano que corre pelas sua árvore genealógica, mas nem ela consegue aguentar uma taça enquanto come.
O pensamento surgiu depois que eu pedi um suco de limão ao invés de uma garrafa de vinho, pelo menos três mesas de casais olharam perplexos pra mim. Será que eu estava exagerando? Eu não sei. O bom é que não foi difícil pedir a comida e a conta, então foi bem melhor do que eu pensava.
Voltei para o apartamento caminhando com calma pela rua. Estavam cheias por conta do horário e isso me acalmava um pouco, não era bom andar sozinha em certos horários da noite. O sotaque das pessoas era perceptível em minha volta e isso me fez sorrir, assim como o senso de moda de cada uma delas. Tudo era tão diferente e inusitado pra mim que eu ainda não conseguia acreditar.
Depois de sonhar por muito tempo, realmente consegui realizar um dos meus sonhos em trabalhar fora. Estava acontecendo.
Estou na Itália!
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Com Amor, K.
FanfictionAs jornadas do autoconhecimento e do amor próprio são processos difíceis que qualquer pessoa pode passar, mesmo que não esteja preparada. Milena Silva era uma dessas pessoas. Uma editora de sucesso da grande São Paulo de apenas 25 anos de idade des...