Pov. Milena
Após saírmos do jardim praticamente a ponto de fechar o local, Kim e eu concordamos que precisávamos de uma refeição muito bem servida, ainda mais para duas pessoas que não tinham almoçado porque esqueceram — a minha nutricionista me daria uma bela bronca se soubesse disso.
Enquanto caminhávamos pelo centro a procura de um bom restaurante, percebi que meu amigo estava estranho, pra dizer o mínimo. A todo instante mexia em sua touca e olhava em volta, como se estivesse sendo procurado por alguém. Ignorei minhas paranóias e apenas continuei andando ao seu lado.
— Olha, sinceramente, não estou a fim de comer massa.
— O quê? — perguntou confuso, parando ao meu lado na calçada. Já passava das sete horas da noite e os postes de luz não estavam fazendo um bom trabalho em iluminar a rua em que estávamos, além de estar bem deserto também.
— É que estamos andando em círculos já faz um tempo e essa rua está vazia; a gente não pode simplesmente entrar em qualquer lugar e comer o que tiver?
Kim sorriu, segurando o riso.
— Está com tanta fome assim para querer comer em qualquer lugar?
— Nós não comemos desde o café da manhã! E, andando comigo, você vai descobrir que não preciso de nada chique.
— Então, se você comer um hot dog na rua vai valer mais que um jantar num restaurante cinco estrelas? — Brincou.
— Esses restaurantes chiques normalmente servem pratos com uma porção minúscula de comida, e ainda por cima custam um absurdo! — Kim riu, cruzando seus braços. — Então, sim, prefiro mil vezes o hot dog.
— Hum, interessante...
O homem tirou os olhos de mim suspirando e continuou olhando ao nosso redor, até parecer ter uma ideia e pesquisar algo no seu celular.
— Você já comeu comida coreana? — perguntou, ainda olhando para o celular.
— Não... Tem um restaurante coreano por aqui?
— Encontrei um a 700m. Tudo bem?
— Por mim, está ótimo! — Sorri. — Você deve sentir falta da comida, não é? Eu amo massa, mas, como a boa brasileira que eu sou, nada supera o meu arroz e feijão.
— Também gosto muito de massa, mas parece que sempre falta alguma coisa. Nosso corpo pede a comida do nosso país; não sei bem explicar...
Ri concordando.
Andamos com mais calma, o que já ajudava muito a minha dor no pés. Mari tinha razão, o tênis era a melhor escolha. Kim ainda permanecia inquieto, mas tentei ignorar de novo.
— Então — exclamou, colocando suas mãos no bolso —, tirando a comida, você sente falta do Brasil?
Sorri com um pouco de amargura.
— Muita falta! Parece engraçado dizer isso, mas tudo aqui é diferente; até para andar nas ruas.
— Diferente como?
— As pessoas são mais agitadas, elétricas... Hoje é sábado à noite e as ruas do centro estão praticamente vazias. Isso só aconteceria em São Paulo no máximo de madrugada. — Chutei uma pequena pedrinha que estava no meu caminho. — É no final de semana que saímos com amigos para um bar, uma balada, talvez um cinema... É bem difícil de ver paulistano dentro de casa em pleno sábado à noite. Mas, aqui na Itália, as pessoas parecem ser mais reservadas e vão dormir cedo. É quase um choque cultural pra mim.
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Com Amor, K.
FanfictionAs jornadas do autoconhecimento e do amor próprio são processos difíceis que qualquer pessoa pode passar, mesmo que não esteja preparada. Milena Silva era uma dessas pessoas. Uma editora de sucesso da grande São Paulo de apenas 25 anos de idade des...