Capítulo 14

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Pov. Milena

Após saírmos do jardim praticamente a ponto de fechar o local, Kim e eu concordamos que precisávamos de uma refeição muito bem servida, ainda mais para duas pessoas que não tinham almoçado porque esqueceram — a minha nutricionista me daria uma bela bronca se soubesse disso.

Enquanto caminhávamos pelo centro a procura de um bom restaurante, percebi que meu amigo estava estranho, pra dizer o mínimo. A todo instante mexia em sua touca e olhava em volta, como se estivesse sendo procurado por alguém. Ignorei minhas paranóias e apenas continuei andando ao seu lado.

— Olha, sinceramente, não estou a fim de comer massa.

— O quê? — perguntou confuso, parando ao meu lado na calçada. Já passava das sete horas da noite e os postes de luz não estavam fazendo um bom trabalho em iluminar a rua em que estávamos, além de estar bem deserto também.

— É que estamos andando em círculos já faz um tempo e essa rua está vazia; a gente não pode simplesmente entrar em qualquer lugar e comer o que tiver?

Kim sorriu, segurando o riso.

— Está com tanta fome assim para querer comer em qualquer lugar?

— Nós não comemos desde o café da manhã! E, andando comigo, você vai descobrir que não preciso de nada chique.

— Então, se você comer um hot dog na rua vai valer mais que um jantar num restaurante cinco estrelas? — Brincou.

— Esses restaurantes chiques normalmente servem pratos com uma porção minúscula de comida, e ainda por cima custam um absurdo! — Kim riu, cruzando seus braços. — Então, sim, prefiro mil vezes o hot dog.

— Hum, interessante...

O homem tirou os olhos de mim suspirando e continuou olhando ao nosso redor, até parecer ter uma ideia e pesquisar algo no seu celular.

— Você já comeu comida coreana? — perguntou, ainda olhando para o celular.

— Não... Tem um restaurante coreano por aqui?

— Encontrei um a 700m. Tudo bem?

— Por mim, está ótimo! — Sorri. — Você deve sentir falta da comida, não é? Eu amo massa, mas, como a boa brasileira que eu sou, nada supera o meu arroz e feijão.

— Também gosto muito de massa, mas parece que sempre falta alguma coisa. Nosso corpo pede a comida do nosso país; não sei bem explicar...

Ri concordando.

Andamos com mais calma, o que já ajudava muito a minha dor no pés. Mari tinha razão, o tênis era a melhor escolha. Kim ainda permanecia inquieto, mas tentei ignorar de novo.

— Então — exclamou, colocando suas mãos no bolso —, tirando a comida, você sente falta do Brasil?

Sorri com um pouco de amargura.

Muita falta! Parece engraçado dizer isso, mas tudo aqui é diferente; até para andar nas ruas.

— Diferente como?

— As pessoas são mais agitadas, elétricas... Hoje é sábado à noite e as ruas do centro estão praticamente vazias. Isso só aconteceria em São Paulo no máximo de madrugada. — Chutei uma pequena pedrinha que estava no meu caminho. — É no final de semana que saímos com amigos para um bar, uma balada, talvez um cinema... É bem difícil de ver paulistano dentro de casa em pleno sábado à noite. Mas, aqui na Itália, as pessoas parecem ser mais reservadas e vão dormir cedo. É quase um choque cultural pra mim.

Com Amor, K.Onde histórias criam vida. Descubra agora