Pov. Milena
— Ele fez o quê?! — disse Manoela do outro lado da linha. Suspirei enquanto caminhava de volta ao meu apartamento, cansada de mais um dia de trabalho.
Kim ainda não tinha falado comigo e seu sumiço só me confirmou o que eu já esperava: ele estava me evitando. Além de minha cabeça voltar e voltar diversas vezes nesse assunto, o meu chefe fez questão de me importunar também — como se já não bastasse ter que lidar com todas recentes publicações da editora. Paolo estava ficando cada vez mais insuportável e em cima de mim para verificar o meu trabalho, até levou bronca de Pasquale por isso.
Em todas as reuniões eu deixei de ser ouvida, não me sentia mais confortável de levantar os tópicos e os funcionários também passaram a ficar calados na presença dele. O ambiente estava sempre tenso, por isso, a minha sala se tornou meu refúgio. Jasmine disse para eu não me estressar com as broncas e pequenos erros que ele inventava para me prejudicar, mas a minha intuição gritava que isso não iria acabar bem. Assim, tirando minha sala, o único lugar que eu me sentia a vontade era em meu apartamento.
— Você não tem ideia do que estou passando aqui — murchei ao falar. — Parece que estou pagando minhas penitências...
— Amiga, vamos por partes, ok? Sobre o seu amigo ou ficante: não acho que ele tenha ido embora, talvez ele só esteja ocupado com outras coisas. Você não disse que ele compõe? E se ele está escrevendo uma música sobre você...
— Ah, Manu — dei risada —, as vezes você é tão ingênua.
— Não sou ingênua, só um pouco romântica.
Era a cara dela mesmo.
Passei pelo porteiro e o cumprimentei, seguindo meu caminho até o elevador. Assim que abri a porta de casa, coloquei a bolsa na mesa de entrada e me joguei no sofá. Respirei bem fundo e tentei relaxar meu corpo no objeto macio.
— Você não acha que está vivendo pelo trabalho?
— Eu saí algumas vezes com Jasmine e Kim, mas sozinha eu só andei pela região mesmo.
— Então é isso! — Gritou, animada. — Você vai pegar esse estresse e jogar para o espaço, depois vai na estação de trem e vai comprar uma passagem para uma das vinícolas pra viajar no final de semana.
— As vinícolas nos campos? — perguntei, pensando na ideia. — Não é o lugar que você sempre quis conhecer?
— Exatamente, então faça isso por mim enquanto estou presa no clima frio de São Paulo.
— Você é exagerada, nem deve estar tão frio assim.
— Confie em mim, está sim.
Vinícola... Parecia uma boa ideia.
— Tudo bem, acho que Paolo vai agradecer se eu pedir um dia de folga para ele se livrar de mim.
— Esse cara é insuportável, por que você ainda não chutou a bunda dele?!
— Porque ele é o meu chefe?!
— E o que isso importa?
— Manoela! Nós duas somos chefes também, imagina se um funcionário nos tratasse assim.
— A diferença entre ele e nós duas é que não somos chatas, e isso ajuda muito.
— E como estão as coisas em São Paulo? — Mudei de assunto para não ficar estressada. Eu poderia estar brava com Paolo, mas ele ainda era o meu chefe e eu tinha que respeitá-lo.
— Ah, a mesmíssima coisa de sempre. Fiquei com o Bruno semana passada e não passamos dos beijos.
— Vindo de você isso não me surpreende muito, mas você que não quis?

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Com Amor, K.
FanfictionAs jornadas do autoconhecimento e do amor próprio são processos difíceis que qualquer pessoa pode passar, mesmo que não esteja preparada. Milena Silva era uma dessas pessoas. Uma editora de sucesso da grande São Paulo de apenas 25 anos de idade des...