28- ESCRITOS DO TÁXI

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Eu sou uma gotícula de água no meio desse oceano que é a minha cidade. Sou um planeta pequeno, e afastado como Plutão de sua galáxia no universo que é a vida, sou um grão de areia na praia de Luanda - eu sou toda essa insignificância por enquanto. Quando ando pelos meandros da minha cidade, me deparo com coisas sobremaneira maiores à mim; prédios desmedidamente altos, asilos de pessoas que lícita ou ilicitamente possuem fundos monetários que sobrepujam daqueles que me meteram no mundo - desculpem a franqueza e talvez ingratidão. Modéstia à parte, mas essas pessoas são superiores à mim financeiramente, não sei moralmente, eticamente, com mais valores humanos que eu, estou incerto..., mas uma coisa tenho convicção; essas pessoas possuem mais dinheiro que eu! Inúmeras são às vezes que cogito na possibilidade de lograr meus objectivos nessa vida e ter um estilo de vida equitativo ao delas, com carros bonitos e lares bonitos. Sou espécime de um peixe pequeno no meio de tubarões quando preambulo nas profundezas da cidade de Luanda. Me fascino quando vou a maianga e contemplo o edifício do ministério da defesa, saúde e justiça com aquele floral lindo logo à entrada. Quando vou ao Zé Pirão, Mutamba, e Samba, a parte urbanizada. Muito jovial.
Eu sou muita coisa boa, um ser muito especial e apreciável, sobretudo um sonhador, me perdoem pelo otimismo irrefletido, mas eu ainda serei grande, não de corpo, mas de espírito. Não que ainda não o seja. Sou uma cabeça com os pensamentos a mil, louco e inteligente, uma compilação de Einstein e Lispector me constituem.
São muitas vezes na vida que sinto a alma crua e sinto a necessidade de ser apreciado, amado, e poucas vezes sinto que ninguém merece ver a nudez de minha alma, ela completamente nua - pois odeio a pessoa que sou quando me encontro nas vestes de uma pessoa apaixonada, odeio-me na versão apaixonada, porra! E das muitas vezes que penso ter alguém, desculpem o padrão, mas essa pessoa deve ter conversas que me engrandecem, colóquios, bonita de corpo e alma e que seja sútil, pois já sou um completo homem austero, austero, fogoso e sexual, mas não é esse o texto. Eu sinto que alguém devia me conhecer como eu conheço a cidade de Luanda, que conheça minha mente, como eu conheço a ilha de Luanda, alguém que se agrada por me vir com sorriso cintilante, reluzente como a Marginal a noite, alguém que me ame, não hipoteticamente como aqueles que dizem amar Angola, alguém que me contempla como eu aprecio os prédios maiores à mim nas ingombotas. Até lá... vou continuar contumaz a lutar para ter o que é meu, fazer loucuras e ser maior que as mentes minúsculas..., indo atrás do que é meu, mas na esperança de encontrar alguém que atreva-se desnudar o reflexo da minha alma e que me aprecia, eu vou conseguir tudo isso. Ao lado de ti: pessoa que anda por aí e que ainda não conheço, mas que anda pelas cidades de Luanda.

Ein Stück von mir, das auch ein Stück von dir istOnde histórias criam vida. Descubra agora