Capítulo 2 - Tropeçando em novidades

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Quando desci, a festa já estava rolando. Música alta e cerveja animavam o local. Às vezes, em ocasiões especiais, convidávamos bastante gente para as nossas comemorações. Mas aquela noite seria só a velha e boa Turma do Gueto. Ou seja, eu, Carol, Marília, Alê e seu primo, Caio, e mais a Natália, Mel e Deby.

Essas três últimas estudavam na nossa sala, mas eu não costumava falar muito com elas. Só algumas conversas sobre séries, filmes ou maquiagem. Nada pessoal. Elas eram mais chegadas da Marília e por isso sempre eram presença confirmada no Gueto.

O Caio era o "rolo" da Carol há mais ou menos uns seis meses, quando os dois se conheceram em um show de um desses cantores sertanejos da moda. Desde então, eles ficavam nesse "chove e não molha". Claro que o fato de ser moreno, alto, forte, estiloso, dono de um sorriso arrebatador e muito bonito contavam bastante a favor dele, mas às vezes ele era um pouco infantil. Estava sempre querendo se exibir, o tipo de pessoa que faz tudo para chamar atenção. Completamente o oposto da Cá, que era mais tranquila e na dela. Porém, como todo bom cafajeste, ele sabia levar a minha amiga no papo muito bem... O resultado era aquele rolo que vivia atando e desatando.

Já o Alê era o skatista da turma e fazia a linha descolado e aventureiro. Estudávamos juntos desde a quinta série e erámos praticamente vizinhos. Por isso, eu e ele mantínhamos uma amizade muito especial.

Quase todo mundo já estava por lá. Só faltava o Alê e o tal primo e a expectativa pela chegada do novo morador da cidade não poderia ser maior. Em busca de informações, as meninas chegaram até a fuçar o Instagram e o Facebook do skatista. Aparentemente, ninguém teve sorte, porque continuavam especulando.

Decidi não fazer parte da conversa. Aqueles eram os meus últimos dias das férias escolares antes de voltar à rotina enlouquecedora de escola + ensaios + decisões para a época mais importante da minha vida (que envolvia escolher entre faculdade, intercâmbio ou academia de dança. E, caso eu escolhesse a primeira opção, então eu ainda precisaria escolher qual curso fazer). Era muita pressão! Por isso, eu aproveitava cada minuto de folga como se fosse o último.

- Gaaabi, pega lá os copinhos de dose! Vamos começar a rodada de porradinha! - Carol gritou para mim sentada em um dos velhos sofás, rodeada pelo restante das garotas. Caio estava em um canto, esperando o Alê para dar início às partidas de truco.

-Beleza! Tô indo lá! - Gritei de volta por cima do som, já me virando para ir em direção a casa. No caminho não pude deixar de imaginar que a noite ia render. Sempre que rolava porradinha, (uma mistura de vodka com soda servida em um copo pequeno de dose. Antes de beber, a pessoa precisa bater a base do copo no joelho, o que fazia o gás do refrigerante subir e tornava a bebida mais...interessante), alguém ficava bêbado e acabava pagando mico. Como estávamos entre amigos, ninguém tinha a preocupação se estava ou não passando da conta. Confiávamos uns nos outros ali. Mas, era claro, que isso não impedia que a pessoa fosse muito zuada no dia seguinte por causa da bebedeira, afinal, "the zoera never ends".

Subi as escadas do sobrado correndo - tarefa difícil considerando que estava usando uma sandália com o salto altíssimo - abri o armário da Carol, encontrei o esconderijo secreto das bebidas e dos copos de doses e voltei, ainda em disparada.

Passei pela sala, cruzei a cozinha e ia saindo pela porta dos fundos, em direção ao Gueto quando trombei em alguém. Consegui manter os quatro copos seguros em minhas mãos, mas acabei me desequilibrando e quase fui parar no chão, não fosse "o alguém" me segurar.

- Opaaa Gabi, mas a festa nem começou e você já está bêbada? - ouvi a inconfundível voz do Alê me zuar enquanto ria de mim.

Senti "O Alguém" me endireitar e me segurar levemente pelos ombros como se quisesse testar se eu realmente tinha condições de parar em pé sozinha. Demorou uns cinco segundos para me recuperar do choque e conseguir me firmar sobre os meus joelhos, mas enfim consegui me virar para conhecer o meu salvador.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora