Capítulo 24 - O mundo dá voltas

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Notas iniciais: Todo mundo pronto para conhecer o pai da Gabi?

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[No capítulo anterior:

- Já disse que está de castigo e não pode sair. Se bem que... - mexeu o corpo, desconfortável - Esse problema em breve estará solucionado. Você não queria morar em Nova York? Então já podemos cuidar de todos os detalhes da mudança com o seu pai - vi minha mãe apontar para o senhor ao lado dela e quase cai para trás de susto.

Então aquele era meu pai?]

Meu olhar correu de um para o outro enquanto tentava processar a informação. Eu tinha 17 anos e, até então, vira poucas fotos do meu pai. Só sabia que de aparência ele era bem parecido comigo: os mesmos olhos castanhos, os cabelos finos e lisos, a pele alva. Mas sempre o imaginara como um velho sério e fechado, que ficava escondido atrás de uma mesa, "mexendo seus pauzinhos" para controlar as ações na bolsas e assim contar uma quantidade "infinita" de dinheiro. Algo parecido com o Tio Patinhas da vida real...

Porém, o que estava na minha frente era um homem com aparência jovem - apesar da idade - elegante e que parecia pronto para fazer uma viagem de volta ao mundo ou qualquer coisa ousada que lhe desse na telha.

- Oi - falei sem saber como agir. Como se cumprimenta o pai que você nunca viu, afinal? Eu deveria abraçá-lo? Dar um beijo no rosto, apertar sua mão? Por que não ensinavam esse tipo de coisa na escola?

- Bom, agora que as apresentações já foram feitas, acho que vocês podem sentar e conversar. Assim já vão se familiarizando um com o outro - dona Beatriz falou com a voz carregada de sarcasmo antes de subir a escada e me deixar sozinho com aquele cara estranho que dizia ser meu pai.

Um silêncio estranho tomou conta do lugar. Encarei o chão, como se quisesse encontrar ali a solução para aquela situação constrangedora.

- Ela continua a mesma. A Bia sempre foi "fogo na roupa"... - ouvi o tal Marco soltar uma risada baixa.

Mexi no cabelo bastante sem graça. Era estranho pensar na minha mãe e no meu pai juntos sendo que agora eles mal se falavam.

- Mas vamos ao que interessa - ele juntou as mãos em frente ao corpo assumindo a postura de um palestrante - Então quer dizer que você quer ir para Nova York? Essa decisão tem alguma coisa a ver com tudo o que aconteceu nas últimas semanas ou já era um desejo antigo? - pousou o olhar em mim demonstrando interesse.

- Hããã... - mexi no cabelo novamente, bastante sem jeito - faz um tempo que penso em fazer intercâmbio. Estudo inglês há muitos anos... Seria bom colocar esse conhecimento em prática.

- E agora que tudo virou uma bagunça, o que era apenas uma ideia virou algo essencial? - disse sem nenhum rodeio, o que fez minha cara quase ir lá no chão. Não queria que ele pensasse que estava o usando como rota de escape, por mais que a ideia fosse bastante verdadeira.

- Gabriela, filha... - fez uma pausa, absorvendo o impacto daquela palavra. Dava para perceber que a situação era bem estranha para ele também, por mais que tentasse disfarçar - fica tranquila. É normal que às vezes tudo saia dos eixos e vire de ponta cabeça. Muito mais normal do que as pessoas pensam ou admitem. Não pense que estou bravo, chateado, surpreso ou decepcionado porque você acabou se enrolando um pouco... Na verdade, acho que ficaria decepcionado se você terminasse o ensino médio com uma ficha completamente limpa. Aí sim eu ficaria desolado - riu, me fazendo sorrir também. Achei interessante o jeito que abordou a situação. Até o momento todo mundo tinha transformado o acontecido em um drama digno de novela mexicana - inclusive eu. Era bom ouvir de alguém que o acontecido não significava o fim do mundo.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora