Capítulo 39 - Que tiro foi esse? - Parte 2

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No capítulo anterior...

Foi como se alguém tivesse apertado o botão pause. Todos ficaram imóveis e em silêncio sem saber como reagir à cena. A situação era tão inusitada que todos pareciam ainda estar processando a informação, como um computador com o sistema muito lento que demora para abrir um programa. Eu conseguia quase ver a mente do pessoal tentando fazer o download da informação: todo mundo brincava que Miguel e Fernando poderiam ser um casal, mas aquela situação significava que a possiblidade era real? E se fosse, significava que o Miguel estava dispensando o Fernando bem na frente de todo mundo?

Foi o carioca quem pensou rápido.

- Ainda bem que ela não quis. Sinal que ainda tenho chance - ele brincou, caminhando até perto de mim com o seu melhor sorriso de "garoto do Rio" no rosto.

- Hmmm, não sei, hein? Acho que o Miguel tem vantagem, já que os dois têm muita coisa em comum - minha mãe opinou sem fazer nenhuma questão de esconder que não tinha superado o vacilo do Edu.

- Já diria o Teatro Mágico: "os opostos se distraem, os dispostos se atraem" - ele sorriu para dona Beatriz em uma tentativa de se redimir.

- Você sabe que o cara realmente quer ficar com uma garota quando começa a declamar poesia. Prepare-se, Gabs! O próximo passo é enviar flores - Nando entrou na conversa com seu típico tom ácido. Mesmo empenhado em manter sua postura descontraída, dava para perceber na sua expressão que algo estava errado. Na certa, ele esperava outra reação do Miguel.

- Bom, enquanto vocês discutem o futuro romântico da Gabs, eu vou indo para casa começar a edição do material. Não sei vocês, mas eu "tô" ansioso para subir o vídeo para o canal e ver a reação da Realeza - Alê mudou de assunto radicalmente cortando de vez o climão. Foi como se alguém tivesse mandado a nuvenzinha negra que aparecera sobre nós embora. Até às expressões do resto do pessoal melhoraram.

A partir daí as coisas aconteceram muito rápido. Eu comecei a explicar para minha mãe quem era a Realeza e porquê estávamos gravando o clipe para dar o troco nas "inimigas", a Laís foi para a cassa do Alê junto com ele, enquanto Edu, Rebeca e Nando organizavam as perucas e figurinos. Miguel disse que tinha um trabalho para entregar e foi embora superrápido.

Sei que, quando dei por mim, a noite já estava caindo, a Beca e o Edu também já tinham ido embora e eu estava parada na porta dando tchau para o Nando, que, ao julgar pela sua cara, tinha desistido de fingir que estava bem.

- Você acha que o Miguel pegou muito mal comigo? - perguntou com a voz abatida.

- Mew, não faço ideia. Conheço o Miguel há muito tempo, mas nunca conversamos de verdade sobre esse assunto. Tudo que sei é que ele não gosta do estereótipo de que todo bailarino é gay... - fiz uma pausa pensando na melhor maneira de perguntar o que estava passando pela minha mente - Mas... você está a fim dele? - embora não tivesse nenhum preconceito, eu ainda não tinha ideia de qual era a posição do Nando sobre o assunto, por isso achei melhor ir com cautela.

Em silêncio, ele apenas balançou a cabeça confirmando minhas suspeitas. - Eu meio que sempre soube que era gay, mas nunca quis assumir. Sabe como é, né? Negando as aparências, disfarçando as evidências... - ele deu uma risada fraca tentando deixar o assunto mais leve - Mas desde que conheci o Miguel, está cada vez mais complicado disfarçar. Eu nunca tinha me interessado realmente por um cara, mas o acho incrível. Esse lance de dançar, a sensibilidade que ele tem, o jeito como sorri... - enquanto falava, sua expressão se suavizou e os olhos brilharam de um jeito que transmitia uma sensação tão boa. Algo que se aproximava da serenidade. Não resisti e abri um sorriso.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora