Capítulo 23 - O Jogo do Engana Trouxa

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Notas inicias: Trilha sonora caprichada porque ó, esse cap tá cheio de novidades!

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- Já conversei com a Cecília. Ela vai ficar de olho em você! Por isso, nem pense em fugir! E depois da aula, direto para casa! Eu ainda não consegui definir com o seu pai o que vamos fazer com você. Então, por enquanto, você não tem permissão para nada, entendeu? – dona Beatriz deu as ordens como um juiz decreta uma sentença. Eu não conseguia me lembrar de nenhuma outra ocasião na qual ela tenha ficado com a expressão tão fechada e séria. E embora se escondesse por trás de uma máscara de forte, seus olhos denunciavam que ela estava sofrendo. Eu sabia que tinha atingido o seu ponto fraco ao falar do meu pai e tocar na sua experiência do passado.

O peso da nossa discussão ainda estava sobre as minhas costas. Passei a minha vida inteira me esforçando ao máximo para não decepcioná-la e, de repente, jogo tudo fora em uma única briga. Eu não queria magoá-la e sentia muito por tê-lo feito. Porém, por outro lado, se não fosse daquele jeito, talvez eu nunca teria me "libertado". A vida era realmente muito estranha...

Dei um tchau rápido e desci do carro. Encarei o portão da escola como se enxergasse nele o meu fim. Durante o final de semana foi fácil imaginar o Jogo do Engana Trouxa em ação. Contudo, na prática, o plano parecia muito mais complicado.

Por sorte, ainda era cedo e poucos alunos já haviam chegado ao colégio. Entrei e segui até uma parte bem reservada do pátio, perto de algumas árvores mais afastadas. Eu precisava me concentrar, senão aquilo não iria funcionar.

Peguei meu celular para tentar me distrair, mas não adiantou muito. Acabei lembrando que não tinha falado direito com o Léo naquele final de semana. Ele me avisou que estaria com a Vanessa e, por isso, ficaria off-line para não chamar atenção. Mesmo avisada, senti falta de conversar com ele. Tudo bem que eu sabia desde o início que seria daquele jeito, mas era um pouco mais complicado lidar com isso na prática.

Soltando o ar pesadamente, abri a mochila para pegar o fone e escutar música. Ver as apostilas ali dentro só serviu para me deixar ainda mais pilhada. Eu até tentei colocar a matéria em ordem no final de semana, mas tinha muita coisa atrasada. Eu precisaria de muita dedicação e foco para ficar em dia com a matéria novamente.

De repente fui tomada por uma sensação péssima de que estava no lugar errado na hora errada. Quem eu estava querendo enganar? Eu não tinha mais o que fazer ali. Certo fez o Edu que mudou de escola. Para que ser forte? Para que provar que eu não ligava, quando, na verdade, eu me importava, e muito?

Aos poucos o medo foi dominando os meus pensamentos. Sentia minhas mãos frias e o suor descia pelas minhas costas. A escola ia ganhando vida e eu sabia que precisava me controlar. Já que não havia para onde fugir, eu pelo menos precisava tentar me acalmar. Ficar desesperada não ia ajudar.

Levantando com um pulo, fui até a cantina e pedi a maior barra de chocolate que eles tinham. Comi tudo tão rápido que o atendente me olhava assustado, por mais que tentasse disfarçar.

Assim que terminei, olhei para a embalagem vazia na minha frente sabendo o que viria pela frente. A culpa me invadiu sem pedir licença. Lembrei das batatas fritas que comi no almoço de sexta e de todos os exageros que cometi durante o final de semana. Eu sabia que estava liberada da dieta, mas também não queria virar uma bola.

Coloquei as mãos no rosto, me sentindo confusa demais. Era muita coisa para pensar, muitos sentimentos para lidar. Mais uma vez eu me senti como um balão cheio de mais, prestes a estourar. E eu só conhecia um jeito de me esvaziar...

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora