Capítulo 16 - Por um fio

179 14 15
                                    

Notas iniciais: Fim da primeira fase, começo da segunda e o clima ficando cada vez maaaais tenso. Espero que gostem das 12 páginas de capítulo!

__________________________________________

Saí do banheiro depois que o segundo sinal tocou indicando o início das aulas daquela manhã. Meus olhos estavam inchados e um pouco vermelhos, por isso lavei o rosto várias vezes com água gelada para melhorar o meu aspecto.

- É... até que não está tão mal – falei para mim mesma.

Subi as escadas apressada, plenamente consciente de que estava muito atrasada.

- Com licença – pedi, assim que alcancei a minha sala e bati na porta.

- Entra, entra... E se apressa que a aula hoje é importante – a professora Marisa avisou com o seu típico jeito de mandona. Apesar de sempre se fazer de "durona", ela era uma das nossas professoras prediletas.

Olhei para o meu lugar e, pela primeira vez, senti vontade de sentar em outra mesa. Eu costumava ficar na segunda fileira, na parte da frente da classe, entre a Carol e a Marília. Na fileira do lado estavam Nathy, Mel e Deby. Elas conversavam em voz baixa, animadas e pareciam nem ligar para a minha presença. Do outro lado, sentado no fundo perto dos "nerds" e renegados, estava o Alê. Até aquele momento eu nunca tinha entendido porque ele insistia em sentar ali, longe de todos. Agora, levando em consideração os últimos acontecimentos, eu começava a desconfiar que o meu amigo há muito tempo descobrira o que eu começava a perceber: às vezes, era melhor ficar só do que mal acompanhado...

Com a expressão preocupada, ele levantou o polegar querendo saber se estava tudo bem. Assenti com a cabeça, mesmo que meus olhos vermelhos denunciassem o contrário. Ali perto, um par de olhos verdes me espreitavam, curiosos. Quando foquei meu olhar no Edu, ele me ofereceu um sorriso tímido e um rápido aceno de mão. Retribuí o gesto antes de finalmente tomar coragem de ir me sentar.

Tentei prestar atenção na aula, mas foi impossível. Era como se alguém tivesse tirado uma venda dos meus olhos. De repente, eu via coisas que simplesmente não enxergava antes. O jeito esnobe e cínico que a Mari e a Nathália usavam para falar das pessoas, a forma como a Carol preferia se omitir para não bater de frente com elas e a maneira como a Débora e a Melina "puxavam o saco" delas na tentativa de ganhar "status".

Minha cabeça rodava com tantas informações. Cheguei a ficar enjoada ao perceber a falsidade das meninas – com exceção da Cá. Estava na cara que aquele papo de começar de novo era tudo "balela". No fundo, elas estavam só disfarçando, fingindo que não fizeram nada demais para não levarem a culpa. Conforme a situação foi clareando na minha mente, fui me sentindo cada vez menor, boba, uma pessoa dispensável, como um brinquedo velho que não tem mais tanta graça.

Eu mantinha a pose por fora, mas por dentro eu carregava um enorme vazio, como se tudo o que havia ali antes tivesse desmoronado como um castelo de areia.

Depois das aulas, as meninas decidiram permanecer no colégio para fazer os deveres em grupo. Fazia uma tarde gostosa e, em situações normais, eu adoraria ficar na área externa da escola, na sombra das árvores, conversando e fofocando enquanto copiávamos os deveres uma das outras. Mas naquele dia dei uma desculpa qualquer e fui para casa.

Coloquei os fones de ouvido e liguei o som no último volume enquanto caminhava pela pequena estrada que levava até o condomínio. Morávamos um pouco longe do centro, o que permitia um maior contato com a natureza. O caminho tinha árvores de diferentes tamanhos que cobriam o caminho com as suas longas sombras. O cheiro de terra e de mato misturava-se no ar, ajudando a criar uma sensação gostosa de liberdade, como se não houvesse preocupações ou problemas.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora