Capítulo 17 - Boneca quebrada

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Notas iniciais: "Tá tendo" muita "sofrência", lágrimas e babados. Vida da Gabizinha não tá fácil, minha gente...

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Mais uma noite mal dormida. Eu me revirava na cama e abria os olhos sem saber qual pesadelo era pior: o dos meus sonhos ou a realidade.

Imagens do Edu junto com a Nathália não saiam da minha cabeça. Será que ele a abraçava do mesmo jeito que me abraçava? Será que a olhava tão intensamente com os seus olhos verdes de tempestade, tentando fazer que ela entendesse o que ele não conseguia expressar?

Respirei fundo, as lágrimas rolando pelo meu rosto. Eu sempre acreditei que era exagero sofrer por amor, mas a dor no meu peito provava, de forma cruel, o quanto uma paixão não correspondida pode ser avassaladora.

Por fim, o cansaço venceu e acabei pegando no sono. Quando acordei, senti o corpo pesado, como se tivesse levado uma surra, e a boca com um gosto horrível. Com a consciência pesada, lembrei que dormi sem escovar os dentes.

Puts!

Depois de um esforço tremendo, sai da cama e fui direto para o banheiro. Escovei os dentes e já aproveitei para tomar um banho, tentando me livrar das sensações ruins da noite passada. Enquanto escolhia uma roupa, prometi para mim mesma que seria forte. Não era certo me abalar daquele jeito só por causa de um garoto. Todos eles estavam pensando que poderiam me usar, me quebrar e jogar os restos fora. Eu mostraria o quanto estavam errados. Daria a volta por cima e "esfregaria na cara" deles como nem havia me abalado com as traições.

Desci para tomar o meu café da manhã com a raiva fervilhando dentro de mim. Minha vontade era encontrar cada um deles, principalmente a Mari e o Edu, e gritar que eles não tinham o direito de fazer isso. E tudo que eu fizera pelos dois? E tudo que passamos juntos?

Tomei meu café da manhã sem nenhum ânimo. Aliás, não tinha vontade de fazer nada, principalmente o dever de casa que já estava atrasado. Voltei para o meu quarto, a cama ainda desarrumada fazendo um convite sedutor para que eu voltasse a me deitar.

"Não Gabriela, você precisa ser forte", repeti em voz alta. Desviei o olhar e passei a reparar no meu quarto: a mobília branca em estilo provençal com tons de azul, a minha escrivaninha de estudos com o notebook largado de qualquer jeito sobre ela, minha poltrona de leitura ao lado da minha estante com livros e objetos pessoais, as fotos nos porta-retratos... de repente me dei conta do quanto tudo ali parecia frágil, fugaz.

O que de fato eu tinha? As amigas que estampavam as imagens no meu mural não queriam saber de mim. O cara pelo qual eu estava apaixonada me trocou por uma "pirigueti" qualquer. Meus livros, minhas roupas... o quanto aquilo tudo realmente me pertencia, ou quanto eu apenas as usava para vender algo que eu não era? E se eu realmente fosse uma boneca de porcelana?

Novamente a sensação de estar me afogando tomou conta de mim. Eu precisava desesperadamente de algo para me apegar, uma bóia de salvação que me puxasse de volta para a superfície.

Na parede perto da cama havia uma barra presa à parede para fazer os meus exercícios de balé. Procurei as sapatilhas no armário, vesti uma malha e parei em frente à barra, encarando meu reflexo no espelho que ficava logo atrás. Sim, eu era uma bonequinha de porcelana, parecida com aquelas bailarinas das caixinhas de joias. Sempre que alguém queria vê-la dançar, abria a caixa e ouvia a música. Quando cansava, era só fechar a tampa para condenar a bailarina à escuridão novamente.

Com a expressão triste, comecei a me alongar sentindo os músculos reclamarem por conta do tempo parado. Fui movimentando cada parte do meu corpo e, aos poucos, me acalmando. Era bom fazer algo que eu dominava, que só dependia de mim para dar certo. E era melhor ainda ter algo para manter a cabeça ocupada.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora