Capítulo 13 - Entregando o jogo

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Passei pelo jardim da casa da Carol e abri o portão, que estava destrancado, saindo para a rua. Foi só aí que me dei conta: ainda não havia ligado para o táxi. Puts, como eu era burra!

Bufando de raiva, peguei o celular na bolsa e procurei o número na agenda. O "seu" João era um velho conhecido da família e um taxista de confiança. Eu sempre ligava para ele quando precisava voltar para casa e não tinha carona.

Alguns toques depois ele atendeu.

- "Seu" João, é a Gabriela, filha da Beatriz, da escola de balé...

- Oi, Gabi! Tudo bem, filha? Já sei: está no Itapema, não é? – ele perguntou com simpatia.

- Isso mesmo. Será que o senhor pode vir me buscar naquele mesmo endereço? – tentei animar um pouco a minha voz para não parecer mal educada.

- Claro, em dez minutos estou aí.

- Perfeito, fico esperando – disse antes de desligar.

- Chamou um táxi? – Edu me perguntou de modo receoso, me olhando como se eu fosse um bicho feroz prestes a dar o bote.

- Sim... O "seu" João já está acostumado a vir me buscar. Ele disse que daqui a dez minutos está aqui – cruzei os braços e fechei a cara, demonstrando que não estava nem um pouco a fim de conversar.

- Nossa, rápido assim? – claro que ele insistiu em puxar assunto. E claro que fiquei ainda mais irritada por causa disso.

- Cidade pequena, carioca! Aqui só tem uma rua que sobe e outra que desce... Guararema é um ovo, esqueceu? – meu tom era azedo.

- Ihh, qual é? Vai ficar "bravona" até quando? - ele se aproximou com um sorrisinho forçado no rosto, tentando amenizar o "climão".

- Não estou brava – resmunguei de volta.

- Não? Tem certeza? – provocou, chegando mais perto.

- Não. Só estou cansada desses joguinhos de de quinta série da Mari – acabei desabafando, ainda com a cara emburrada.

- Joguinhos de quinta série... – o Edu repetiu como se estivesse analisando a frase.

- É, quinta série! Não consigo entender o que ela quer com isso... Fica pegando no meu pé, inventando um monte de coisa, criando situações chatas – continuei falando, mais para mim mesma do que para ele. Eu sentia uma mistura estranha fervilhando dentro de mim. Eram tantos sentimentos que eu mal conseguia diferenciá-los: raiva, medo, amor, desejo... Teria dado qualquer coisa para fugir daquela situação, para ir a algum lugar longe daquela bagunça.

- Quinta série... Fica pegando no seu pé e criando situações – ele continuou repetindo, parecendo um analista.

- Vai ficar repetindo tudo o que eu falo feito um papagaio? – descontei a minha raiva.

- Vixii... Calma aí, mocinha – ele ergueu as mãos em um gesto conciliador – Olha, a Mari é só minha amiga. Quer dizer... ela tem me ajudado muito, principalmente lá na escola. Eu ainda me sinto meio perdido...

- Eu não me importo com o que rola entre você e ela – disparei, o interrompendo – Só quero poder ficar em paz, entende? Não quero ninguém me dizendo o que tenho que fazer, ou se metendo no que eu sinto ou no que deixo de sentir.

Um silêncio inquieto surgiu entre nós. Aquele tipo de silêncio carregado de palavras presas na garganta e sentimentos aprisionados. Aquele silêncio que faz a alma gritar e o coração ficar apertado dentro do peito, que faz o corpo ficar tenso e que são tão pesados que chegam a curvar os nossos ombros.

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora