Capítulo 7 - Sinal de risco

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- Gabriela, acorda filha! Está na hora!


Abri os olhos lentamente, tentando me localizar. Instantaneamente meu corpo começou a reclamar pela noite mal dormida. Resmunguei baixo. Músculos doloridos e ensaio eram dois termos que não combinavam na mesma frase.


- Vamos, menina! Hoje é um dia especial, lembra? - minha mãe chamou de novo - Estou preparando um café caprichado para você! Não demora!


As palavras dela me fizeram despertar. Naquele sábado aconteceria o ensaio geral da peça, com direito a teste com luzes, figurino, cabelo... A orquestra já vinha participando dos ensaios normais, mas aquele sábado também seria especial para eles. Até onde eu sabia, o maestro aproveitaria a ocasião para acertar os últimos detalhes com os músicos antes da apresentação.


Porém, eu passei a última semana tão concentrada nos ensaios, dieta e tentando não pensar no Edu que acabei me esquecendo completamente desse "pequeno" detalhe... A única coisa que me confortava era o fato que o ensaio seria leve, mais focado nos aspectos estéticos e funcionais do que nos passos de dança em si. Comparado com a última semana de treinos, seria brincadeira de criança. E o melhor: eu teria o resto da tarde e o domingo inteiro para descansar.


Animada com a ideia de finalmente descansar, levantei e fui até o banheiro. Foi aí que dei de cara com as roupas que usei na noite anterior jogadas de qualquer jeito sobre a pia. Lembranças do meu momento com o Edu me assaltaram a mente e sorri sozinha. No meio da confusão de ensaios, a noite passada parecia um sonho.


Tirei o pijama e entrei no banho, deixando meu pensamentos fluírem como a água que caía. Ficamos juntos até quase duas da manhã, quando praticamente dormi apoiada no seu ombro de tão cansada. Depois da dança ficamos conversando, eu contando sobre a minha rotina puxada de bailarina, ele sobre como era difícil mudar de cidade pela terceira vez em três anos e da saudade que já sentia do mar. Ele me abraçou e eu acariciei seus cabelos enquanto falamos de nossas vidas de maneira natural. Poder ser eu mesma foi uma sensação libertadora. Foi ótimo não precisar me preocupar com o que os outros iriam pensar ou se seria julgada por ensaiar demais, por comer de menos, por não me dedicar suficiente aos ensaios e tantas outras coisas...


Precisei me apressar depois que desliguei o chuveiro. Passei tanto tempo "sonhando" acordada que estava atrasada. Vesti a primeira roupa que vi pela frente, peguei meu celular e desci para tomar o café. No caminho, chequei meu WatsApp. Sorri sozinha ao ver uma mensagem de um número que ainda não constava na minha agenda. Mesmo sem a foto e sem assinatura, eu sabia quem havia escrito aquela frase.


"Espero que você tenha conseguido dormir e não ter atrapalhado os seus ensaios. Acho que mais uma vez acabei sendo precipitado, mesmo que o objetivo não fosse esse. Mas, sem dúvida ontem foi a minha noite de sorte".


Fiquei encarando a tela do celular, sem saber o que responder. Meu coração dava piruetas dentro do peito. Todo o cansaço por conta da noite mal dormida e as dúvidas que me atormentaram durante a festa pareceram desaparecer. Só o que restava era aquela vontade boba de sorrir e dançar, ao mesmo tempo que cantarolava a música da noite anterior.


- Nossa, quanta alegria! - minha mãe exclamou quando me sentei à mesa. Como prometera, meu café já estava pronto e caprichado: iogurte desnatado com cereal e frutas picadas, suco natural de laranja e biscoitos integrais. Tudo muito saudável, claro! - Esse sorriso enorme tem a ver com o rapaz que ficou conversando com você até tarde aqui na frente?

Voar outra vezOnde histórias criam vida. Descubra agora