*** Início da terceira fase: Preparar para decolar ***
["Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo
E tão contente
Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira" – Quase sem querer, Legião Urbana]
A plateia estava lotada e todas as luzes estavam sob mim. Eu dançava com os olhos fechados, consciente dos meus movimentos, brincando com o ritmo da canção. De repente a música ficava mais intensa e eu precisava acelerar os passos para acompanhá-la. Eu me esforçava para fazer os movimentos com precisão e, mesmo assim, sentia que não estava conseguindo dar o melhor de mim. Faltava algo. Em uma sequência de piruetas, senti meu corpo alcançando o seu máximo. A cada novo giro eu tinha menos firmeza, como se o chão estivesse se desfazendo aos meus pés. Eu lutava, sentindo minha respiração ficar pesada, o suor escorria pelo meu rosto e a música pesava sobre os meus ombros como se me culpasse por não conseguir acompanhá-la. Eu corria e corria e o meu esforço nunca era o suficiente. Os saltos não eram rápidos nem altos e cada músculo ardia no seu limite até que me desiquilibrei e fui ao chão.A música parou e ouvi o silêncio congelante, como se o mundo tivesse parado e cravado os olhos em mim. A voz da minha mãe repetindo "levanta e tenta de novo" me veio à mente e, mesmo sentindo muita dor, apoiei as mãos no chão para tentar me erguer e continuar a apresentação.
Mas havia algo errado. Vi rachaduras que começavam na ponta dos meus dedos e subiam até os ombros. Desesperada, me esforcei para me esticar para o lado. Por todo meu corpo, rachaduras iam se espalhando como uma superfície de gelo quebrada. Sem saber o que fazer, segurei uma das pernas com força na tentativa de impedir que ela se desfizesse. Porém, o esforço fez com os meus braços se rompessem e caíssem ao meu lado, como cascas ocas de uma árvore. Pouco a pouco o mesmo foi acontecendo com todo o meu corpo. Vi cada pedaço de mim indo ao chão e, inexplicavelmente, eu não sentia mais dor. Uma sensação de paz me dominou e com o coração tranquilo tomei coragem para olhar para frente.
Todo o público me encarava, atônito. Uma a uma, cada pessoa ficou de pé e começou a me aplaudir. Em poucos minutos eles estavam me ovacionando, gritando "bravo,bravo" como se tivessem acabado de assistir o melhor espetáculo de suas vidas.
Lentamente, fiquei em pé e curvei o corpo para agradecer. Foi então que percebi. No lugar das rachaduras, existiam pequenas veias que brilhavam, espalhando luz ao meu redor. Me perguntei se eles conseguiam enxergar, mas cheguei a conclusão que talvez fossem apenas capazes de sentir, mas que só isso já era o suficiente.
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Voar outra vez
Teen FictionFormatura, vestibular, intercâmbio, faculdade, festas, amigos... O ano prometia para Gabriela Navarro e ela estava disposta a fazer o último período do colegial valer a pena. Integrante do trio mais popular da escola, filha da professora de dança ma...