Capítulo 12

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 — Gabriel, você está me ouvindo? — Sony repetiu pela segunda vez.

Já era quarta-feira e Gabriel não encontrava o foco e atenção que geralmente permeavam suas horas de trabalho. Quando não estava pensando nos resultados dos temidos exames, que insistiam em aparecer em seus pesadelos também, sua mente vagava para certos olhos verdes e sua camisa molhada. Lembrava-se do encontro na banca com um misto de irritação e divertimento. Havia perdido duas camisas em um final de semana. Fazer compras não era a sua atividade preferida. E, ainda, a futura cunhada de Tomás tinha a petulância de ficar mais irritada do que ele, logo ele que havia sofrido o ataque líquido. Ainda bem que Sony era tão paciente quanto eficiente.

— Parcialmente — Gabriel respondeu.

— Então vou repetir pela terceira vez — Sony destacou. — E espero que seja a última, por favor.

Sony tinha certas liberdades com Eric e Gabriel que não eram comuns a qualquer assistente. Indicado pelos pais de Eric, ele era extremamente eficiente e organizado. Também de ascendência japonesa e com o nome muito mais complicado, o apelido se popularizou e todos o chamavam assim. Ele tinha ambição de crescer na empresa, e qual o melhor lugar para aprender senão próximo aos criadores de tudo aquilo? E eles não se decepcionaram. Lealdade era uma característica que estava se extinguindo e Sony tinha de sobra, então ele era considerado também um amigo dos dois chefes.

Na verdade, todas as contratações da Infindo foram muito bem pensadas e selecionadas, além de todos terem o dever de passar por um programa de iniciação às normas da empresa. Com tantos relatos de assédio, todos os funcionários eram encorajados a adotar condutas irrepreensíveis e longe de serem consideradas impróprias. Com uma composição de empregados de maioria feminina, a empresa tinha uma política de zero tolerância e não fazia qualquer distinção entre homens e mulheres para salários, tratamento ou punição. Estavam no século XXI e a igualdade já deveria ser algo habitual do cotidiano, contudo, infelizmente nem todas as empresas pareciam adotar a mesma conduta que a Infindo.

— Aqui estão os relatórios do setor de marketing. O consumidor não está tendo a mesma resposta sobre os e-mails. As pesquisas indicam que as redes sociais ultrapassaram os meios mais tradicionais de publicidade e agora eles estão elaborando uma nova estratégia para atingir a parcela de mais idade da população que não está presente na internet.

— Embora nosso público-alvo sejam os jovens, os idosos vêm comprando cada vez mais os nossos cursos. E como eles conhecem a nossa empresa? É essa pergunta que o marketing deve me responder. Pode marcar uma reunião com o diretor e quem mais ele achar necessário para o início da semana que vem.

— Tudo bem. Também precisamos definir os convidados especiais do próximo lançamento. Temos uma lista de cinco pessoas, porém só temos tempo disponível para três falarem. Temos que escolher entre especialistas da área e influenciadores, o que der mais retorno.

— Antes de fechar isso, você precisa ver com o Eric como está a finalização da plataforma. Se ele não resolver o problema de desbloqueio das aulas, não haverá lançamento e não adianta reservar a agenda de ninguém. Converse com ele e se ele estiver no humor de escolher os convidados, por mim tudo bem. Aceito o que vocês decidirem.

— Vou falar com ele na sequência.

— Mais alguma coisa, Sony?

— Por enquanto não. A parte da manhã está mais tranquila. Você tem apenas uma reunião às 14hs com o jurídico e deve sair mais cedo para o jantar com seu pai.

Naquela noite Gabriel teria um jantar com seu pai e Angélica, sua madrasta. Parece que ela estava organizando algum tipo de evento e de alguma forma precisava de sua ajuda. O que era estranho, pois eles não eram muito próximos. Ele não era nem próximo do seu pai.

Raul Lanvini nunca soube lidar com a morte prematura de sua primeira esposa e com o luto que se seguiu. Na carreira de professor, era de se esperar um tanto de psicologia para lidar com o jovem Gabriel, porém afastamento foi o que aconteceu. Com o filho e com o restante. Enquanto Gabriel se destacava na faculdade e delineava sua futura empresa com Eric, Raul mudou-se para o interior, onde conheceu Angélica e se tornou vinicultor. A madrasta era tão angelical quanto seu nome, sempre calma e firme diante dos comportamentos de Gabriel. Ela não tentou forçar um relacionamento com ele, estava mais focada em suas tentativas infrutíferas de ter filhos.

Diante da frustração, os dois optaram por focar na vinícola e Angélica era uma ótima companhia para seu pai, o que ele considerava muito bom para que ele não ficasse sozinho. Nunca lhe faltou nada na infância, nas melhores escolas e faculdades, mas ele nunca teve com o pai a forte conexão que tivera com a sua mãe.

Com o passar dos anos, os três conseguiram encontrar uma forma confortável de conviver, sem interferir na vida um do outro. Encontravam-se poucas vezes no ano e mantinham uma relação de saudável distância, não tão longe para serem considerados estranhos nem tão perto para que compartilhassem todos os seus segredos e angústias. No final, Raul tinha Angélica, mas Gabriel estava sozinho.

— Tudo bem Sony. Se a reunião passar das 16hs, me chame.

— Sim senhor.

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