Idiota, pensou Sofia. Ela não sabia mais se estava pensando isso sobre ela ou sobre Gabriel. Depois daquele beijo que a fez flutuar, ele agiu como um idiota rude e arrogante. E ela se deixou levar por todo o seu charme e elogios e agiu como uma idiota também.
Ela realmente acreditou que ele tinha algum interesse nela e que sua amizade havia se transformado em algo a mais, contudo, parecia que ela estava inteiramente errada. Depois de tanta insistência da família e amigos, ela havia se permitido sentir algo mais do que só amizade. Ela apenas escolheu a pessoa errada para fazer isso. Inteiramente errada.
Pelo menos sua irmã não estava presente para ver o espiral de infelicidade e autocomiseração que ela havia entrado. Alice e Tomás haviam embarcado no dia seguinte à festa para a lua de mel na Polinésia Francesa e ela tinha um apartamento inteiro só para ela alternar entre choramingar e praguejar. Puxa, era só um beijo, ela também não tinha motivo para ficar tão chateada. Nem ao menos entendia porque uma reação tão intensa a um beijo qualquer em uma festa. Menos, Sofia, muito menos.
Sem outros compromissos para domingo à noite, Sofia vestiu seus pijamas mais confortáveis, prendeu o cabelo em um coque desarrumado e foi cozinhar seu jantar. Ela não sabia fazer apenas doces, era muito boa também em pratos salgados. Escolheu a confeitaria para adoçar a vida das pessoas, contudo, também precisava se alimentar. O menu da noite seria uma deliciosa lasanha de massa verde de espinafre para acompanhar sua maratona de filmes de ficção. Não era exatamente o gênero que ela gostava, porém, tinha certeza de que não veria muito romance nesses filmes e isso era o que ela precisava no momento. Nada como comida conforto e guerras estelares para acalentar um coração ferido, acompanhados de uma taça de vinho não tão pequena.
Assim que tirou o prato do forno e serviu o vinho, sua campainha tocou. Em um domingo à noite, só poderia ser Elton, seu vizinho de porta com dificuldades para abrir o portão pelo interfone quando seu neto vinha visitá-lo. Deixou a taça na mesa e abriu a porta.
— Você.
O desprezo em sua voz não havia sido planejado, contudo Sofia ficou feliz por sua reação. Nada que demonstrasse o quanto ele a afetava. O cheiro do já conhecido perfume cítrico a atingiu em cheio. A vontade em fechar a porta e a curiosidade de saber o motivo da visita travavam uma batalha em sua mente.
— Sofia, desculpe incomodá-la neste horário.
Foi tudo que Gabriel conseguiu dizer diante daquela visão. A versão caseira de Sofia era ainda mais bonita do que quando estava arrumada no casamento.
— O que está fazendo aqui? — Ela tentou soar entediada e levemente irritada. Tudo menos ferida.
— Eu preciso de um documento de Alice para formalizar certas documentações de investimentos de Tomás. É um pouco urgente e durante a semana sempre é mais corrido para encontrar você em casa e pegá-lo.
— Alice não deixou nada comigo.
— Eu sei, ela disse para verificar nas caixas que ela ainda não levou. Provavelmente está junto com alguns porta-retratos. Ela não lembra o que escreveu fora da caixa da mudança.
— Tudo bem, pode entrar. — Sofia apontou para as caixas empilhadas no canto da sala. — Seja rápido.
Gabriel entrou no apartamento observando tudo. Obviamente era antigo, mas as duas irmãs deram um jeito de torná-lo moderno e aconchegante. O sofá bastante gasto indicava horas e horas em frente à televisão, e a cozinha era espaçosa o suficiente para uma chefe de cozinha como Sofia ficar satisfeita. No entanto, o que mais lhe chamou atenção foi o perfume de comida caseira. E então seus olhos recaíram sobre a mesa da cozinha.
— Jantando sozinha?
— Na verdade, tive um cancelamento em cima da hora.
— Sei... — Gabriel pareceu não acreditar na sua justificativa. A mesa estava arrumada para apenas uma pessoa. — E qual o menu desse suposto jantar a dois?
— Lasanha à bolonhesa.
Ela não disse que era apenas um convidado, contudo, melhor para ela que ele pensasse que ela teria um encontro. Sim, ela ainda estava ressentida com ele. Ou com ela mesma. Ela não sabia mais.
— O cheiro está maravilhoso.
— Não sei cozinhar apenas doces.
Ressentida com ele, senão ela não responderia de forma tão rude.
— Estou vendo.
Gabriel tentou encarar a conversa de forma leve enquanto investigava as caixas. Ele sabia que a tinha magoado, contudo não havia outro caminho a seguir. Ele precisava vestir seu manto de arrogância para manter as coisas frias entre eles.
Sofia obviamente não estava nada confortável com a situação. Bem que o neto do sr. Elton poderia aparecer hoje. Ele era um pouco jovem para ela, mas era bonito e poderia melhorar a visão de garota rejeitada que ela com certeza estava passando para ele. E com isso percebeu que ele tinha entrado no prédio sem tocar o interfone.
— Como você veio parar na minha porta? — Sofia perguntou.
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Doces & Dramas
RomanceNovos capítulos toda semana! Espero que gostem! Após trabalhar com os melhores chefes europeus, Sofia MacLean voltou para casa para abrir sua própria confeitaria, a Siùcar Doces Finos. Entre o fornecimento de doces para tantos eventos e a loja, tudo...