Capítulo 19

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 — Como você é convencido.

Pegaram suas bebidas e foram sentar na última mesa vazia, embaixo de uma grande castanheira que proporcionava sombra. Os risos dos adultos se misturavam ao grito das crianças, formando uma grande cacofonia em volta do casal. O metal gelado da cadeira em que Sofia estava sentada tocava suas pernas e proporcionava alívio para o calor que aumentava a cada minuto. Era um domingo de sol movimentado para a banca.

— Eu preciso ser assim para avançar nos negócios. — Gabriel completou quando sentaram.

— Você trabalha com o Eric?

— Sim, estudamos juntos e criamos a empresa ainda na faculdade. Infindo.

Foi na escola que conheceu seus melhores amigos Tomás e Eric. Não eram da mesma turma, nem mesmo do mesmo ano, contudo o interesse pelo mesmo herói fez a amizade florescer. O que faltou da presença do pai em sua vida, sobrou em vontade para se tornar financeiramente independente. Assim, desde os 16 anos de idade, Gabriel começou a pesquisar e estudar profundamente os mistérios do mercado financeiro e como ele deixava pessoas tão ricas e tão pobres em igual proporção. Aos 20 anos, começou a desenvolver com Eric o que seria uma grande empresa de sucesso em investimentos diversificados e educação financeira. Muitos chamaram eles de sonhadores por tentarem se contrapor às tradicionais instituições bancárias, contudo, eles tinham muita vontade de alcançar o sucesso e determinação em facilitar o acesso e entendimento das pessoas comuns sobre o mundo das finanças.

— Uau, eu sou uma dessas pessoas que não compreende quase nada sobre o universo de investimentos. Com certeza há muitos outros como eu.

— Nossa base de clientes já passou dos cem mil assinantes. — Gabriel respondeu com uma quase falsa modéstia.

Sim, ele estava orgulhoso de tudo que conquistaram, porém sabia que iriam mais longe, então esse número era relativamente pequeno para os milhões de espectadores que buscavam.

— E como surgiu o nome?

— Infindo é o adjetivo de infinito, algo que não tem fim. Quando idealizamos a empresa, pensamos em fornecer conhecimento infinito para os nossos clientes.

Ao contar sua trajetória, Gabriel percebeu como era fácil conversar com ela quando não a estava provocando.

— E você? Qual é a sua história internacional?

Sofia contou sobre seus cursos e experiências em diversos países. Alemanha, Bélgica, França, Itália, Grécia, Turquia. Foram muitas horas de trabalho em horários não convencionais e cozinhas abafadas sob críticas nada construtivas de diversos chefes temperamentais. Ela havia conquistado muita coisa para uma moça tão jovem, e sua ambição a levaria longe. Gabriel estava impressionado.

— Você realmente esteve em vários lugares, não é mesmo?

Sofia anuiu.

— Um chef de cozinha precisa conhecer diversas culturas, ingredientes e técnicas se quiser criar sua assinatura. Fui a todos os lugares que a chef Eva, minha mentora aqui em Azevedo, indicou e mais alguns que foram me indicando ao longo do caminho.

— Deve ser muito diferente viajar a turismo e viajar a trabalho, você deve conhecer muitos detalhes que nós turistas comuns não conhecemos.

— Na verdade, eu visitei muitas cidades como turista mesmo. A diferença é que quando eu encontrava um restaurante surpreendente, eu tentava conhecer o responsável e aprender um pouco sobre a experiência dele. Eu tentei aproveitar ao máximo, pois eu sempre soube que iria voltar.

— É mesmo? Não quis ficar trabalhando em um restaurante badalado de Paris?

— Com certeza não. — Sofia riu. — Azevedo é a minha casa. É uma cidade nem muito grande nem muito pequena. Tem tudo que a gente precisa, fácil de se deslocar, e a poucas horas de campos, fazendas, vinícolas, praias e outras cidades. Nenhum outro país do mundo tem essa proximidade como Portugal. E a culinária daqui é tão boa quanto a famosa francesa.

— Nossos vinhos são melhores também. — Gabriel apontou.

— Falou como um verdadeiro nativo.

— Minha família tem uma vinícola, tenho que fazer a devida propaganda. — Ele sorriu.

— Não deve ser fácil com tantas vinícolas ao redor da cidade.

— Por isso os vinhos daqui são tão famosos. A concorrência eleva o padrão de qualidade. — Gabriel explicou.

Até aquele momento ela não havia percebido como estava confortável conversando com ele. Era bom ter alguém diferente com quem contar sua história e trocar ideias. O tempo que passou fora acabou por lhe afastar dos amigos de infância. E os amigos chefes que fez em outros países estavam tão ocupados em suas carreiras como ela com a sua. Desejou poder estender aquele momento, contudo seu tempo havia acabado.

— Bom, a hora já está adiantada. Preciso levar as flores para a confeitaria antes de abrir.

— Você sempre tem que abrir a loja nos finais de semana?

— Não, normalmente quem abre e fecha é a Dona Maria. Ela e sua filha Yasmin trabalham para mim. Elas chegam antes para fazer a limpeza e dar início ao expediente.

— Pelo menos isso te dá flexibilidade. A vida não é só trabalhar.

Gabriel estava dando um conselho que ele gostava de seguir. Com férias extravagantes, carros esportivos e um desfile de mulheres dignas de capas de revistas. Carpe diem, não era o que diziam? Ele aproveitava seus 29 anos e todas as regalias que sua vida afortunada lhe proporcionava.

Sofia percebeu que ele parecia ser alguém que curtia a vida. Sua pele tinha um bronzeado que não era genético, mas sim de horas passadas embaixo do sol. Na praia, na piscina ou em qualquer lugar que alguém como ele ia para se divertir.

— Posso acompanhar você até lá? — A pergunta surpreendeu Sofia.

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