No domingo, Gabriel estava dividido entre ficar em casa ou dar uma caminhada e quem sabe passar novamente por aquela banca que havia encontrado Sofia. Quem sabe ela iria comprar flores novamente? E por que ele estava pensando nela? Algo de que Cecília comentou ontem mexeu com ele, pois ele não costumava pensar tanto assim em uma única mulher.
Realmente ele era um bloco de gelo, mas só porque tinha a intenção de não deixar ninguém se aproximar ou desenvolver sentimentos. As mulheres com quem saía sabiam disso e pareciam satisfeitas com o arranjo. Ele as levava em restaurantes caros, festas luxuosas e passeios de barco. Aproveitavam o que cada corpo podia oferecer e seguiam caminhos separados. Mas Sofia era diferente, Cecília tinha razão. Ela não iria se impressionar com um jantar qualquer em um restaurante, ela era chef, aliás, deveria cozinhar melhor do que muito dos lugares que ele frequentava.
Parece que ele tinha um desafio pela frente. Se ele estava entediado ou não, resolveu encará-lo. Poderia se divertir um pouco com a conquista, só teria que usar uma roupa preta a prova de manchas, pois perto daquela garota ele nunca sabia o que poderia cair em cima dele. Ele rapidamente se levantou da cama, vestiu-se e foi para a banca tomar café enquanto esperava a oportunidade se apresentar.
Ele estava certo.
Desta vez, Gabriel chegou mais cedo, o que garantiu que nenhuma bebida estivesse nas mãos de Sofia. O vestido amarelo parecia lhe dar mais brilho e, embora solto, realçava suas formas. Ele teria que ser cego para não notar como ela era bonita. Não aquela beleza escancarada, de modelos e atrizes, muitas vezes fabricadas por habilidosos cirurgiões. Sofia tinha brilho próprio, o qual surgia em seus olhos determinados e se espalhava pelo restante do corpo. Um brilho que o fazia querer se aproximar, como uma mariposa encantada pela luz. O que estava acontecendo com ele? Ele não era um poeta ou um louco apaixonado, ele não criava odes a sua musa. Então por quê pensava em Sofia com tantas palavras lisonjeiras? Só podia ser curiosidade. Isso mesmo. Ela era diferente das mulheres que ele costumava sair, por isso seu interesse repentino.
Bom, ele já estava ali mesmo, não iria recuar por causa de algumas observações impertinentes. Enquanto ela estava escolhendo as flores, ele se aproximou.
— Vejo que nossos caminhos cruzaram-se novamente.
— Não por força de vontade da minha parte, pode acreditar — Sofia rebateu. — Você sempre começa suas cantadas com "vejo que"?
— Só quando não sou molhado primeiro — Gabriel gracejou. — Você mora aqui perto?
— Um pouco cedo para fazer esse tipo de pergunta, não acha?
Sofia entregou as flores escolhidas para o vendedor embalar e o pagou. Foi em direção à banca enquanto Gabriel continuava explicando-se.
— Talvez se fôssemos desconhecidos, o que não somos. E já que nos veremos com uma frequência maior até o casamento, podemos deixar a animosidade de lado — e completou no mesmo tom dela — não acha?
— Pelo bem de Alice e Tomás, tenho que concordar. — Sofia assentiu.
— Basta deixar as bebidas longe de mim que ficará tudo bem. — ironizou.
Ele tinha o dom de irritá-la, mesmo quando tentava ser seu amigo. Ele era inacreditável e Sofia não ia se deixar vencer.
— Vejo que está de preto para evitar a mancha da próxima bebida. Posso escolher qualquer café? — E olhou para o cardápio atrás do balcão.
— Tenho certeza de que suas mãos tão habilidosas para doces não permitirão que uma gota sequer caia sobre mim. — Ele conseguiu provocá-la disfarçando com um elogio. Ela olhou para as mãos e depois o encarou respondendo de forma sugestiva.
— Realmente elas têm habilidade para fazer qualquer coisa — e completou com um sorriso — que eu achar necessário para afastar pessoas más educadas.
— Não acho que a sua cronologia esteja certa. Você derrubou o vinho antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. O café, posso até entender como vingança.
— Não foi vingança, foi outro acidente.
— Então essas mãos não estão afastando pessoas, apenas atraindo — Foi a vez dele olhar sugestivamente para ela. Ela desistiu, ele venceu.
— Se essa é a sua forma de propor uma trégua, está bem equivocado. — Sofia pontuou.
Ele resolveu aliviar.
— Você tem razão, não estamos na direção certa. Vamos começar novamente? Muito prazer, eu sou Gabriel Lanvini.
Sofia olhou em dúvida para ele, questionando-se se havia alguma pegadinha naquele gesto inocente de estender a mão. Encarou por tempo suficiente para ficar desconfortável.
— Sofia MacLean. — e apertou a mão que ele lhe estendeu.
— Agora que temos isso resolvido, aceita beber alguma coisa?
— Um cappuccino, por favor.
— Muito bem. Vou pedir a proteção de copo para que você não derrame. — Ele não resistiu em provocá-la mais uma vez. Sofia se virou para ir embora quando ele a segurou pelo braço.
— Desculpe-me, não consegui me controlar. — Sofia apenas o encarou e ele completou — Mas prometo que farei o meu melhor a partir de agora.
Gabriel tentou fazer sua melhor expressão de inocência, mas não tinha certeza se havia convencido ela.
— Você tem apenas uma chance.
— É a única que eu preciso. — Seu sorriso aumentou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doces & Dramas
RomanceNovos capítulos toda semana! Espero que gostem! Após trabalhar com os melhores chefes europeus, Sofia MacLean voltou para casa para abrir sua própria confeitaria, a Siùcar Doces Finos. Entre o fornecimento de doces para tantos eventos e a loja, tudo...