Capítulo 16

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 O local que Alice escolheu na verdade era uma mistura de restaurante japonês e bar, combinando sushi com drinks criativos. Os noivos conseguiram reservar algumas mesas isoladas com sofás, deixando seus convidados mais à vontade para interagir.

Ao fazer o anúncio oficial, as mulheres logo ficaram animadas, porém os homens sorriram um pouco desconfortáveis. Eles sabiam que casamentos significavam infinitos ensaios e talvez passar tempo demais com pessoas de quem você não gosta. Mas por Alice e Tomás, amigos queridos, valia o sacrifício. Como Sofia já tinha conversado com a irmã a respeito, os componentes do grupo não foram uma surpresa para ela. Ela já até esperava encontrar Gabriel e pretendia ficar bem longe dele. Ou pelo menos, se estivesse perto, que as bebidas estivessem longe dos dois.

Ao tentar cumprir sua missão de manter distância do perigo, Sofia acabou se sentando entre Arthur e Vivian. Vivian interessada em chamar atenção de Gabriel, deixou Sofia sozinha para lidar com Arthur, talvez um perigo maior do que o primeiro.

— Bonita, inteligente e talentosa. — elogiou Arthur. — Parece que nos desencontramos no jantar, linda.

Sofia achou que seria mais seguro manter a conversa sobre o talento e os doces, assim pelo menos teria a opinião de alguém tão exigente como ele fazia parecer que era.

— Fico feliz que tenha aprovado meu trabalho.

— Mais do que aprovado. Agora tenho ainda mais certeza de que você precisa de um investidor, ou melhor, deste investidor, para fazer seus doces brilharem por todo o país.

Arthur apontou para si mesmo e novamente exaltou todas as suas qualidades e conexões. Sofia tentou ser educada da melhor forma possível, mas quem poderia ser tão esnobe assim? Ela não aguentava mais ouvir sobre as casas, carros e barcos da família. Os amigos importantes, os conhecidos no governo e a lista exclusiva de empresários. Ela sabia que a família de Tomás tinha muitas posses, no entanto, ao contrário do primo, ele não ficava ressaltando todos os bens da família para todos ao redor ouvirem.

Enquanto Arthur estava concentrado no próprio monólogo, Sofia observava os outros convidados. E não pode deixar de notar que todas as garçonetes se tornavam mais solícitas ao atender Gabriel se comparado aos outros ocupantes da mesa. Ela viu quando ele chegou e foi atendido por uma moça muito prestativa, ou interessada em algo mais, que o acompanhou até a mesa onde eles estavam. Sofia já estava cansada de revirar os olhos para tanta adulação, não imaginava que elas poderiam ser tão oferecidas. Como essas mulheres poderiam ser tão cegas? Sim, ele era bonito, porém arrogante e sarcástico além do limite, o que estragava toda a sua beleza.

Do outro lado da mesa, Gabriel acompanhou a interação de Sofia e Arthur de longe, enquanto tentava se esquivar das abordagens de Vivian. Ela realmente era obstinada e parecia que o havia transformado em seu novo foco. Já do lado oposto estava Daniel, mais interessado em conversar com Jade, o que não lhe deixou muita opção senão interagir com Vivian.

Ele começava a perceber os planos de Ali ao organizar os lugares da mesa intercalados para que os amigos dela e Tomás se misturassem. Gabriel não estava nada feliz de ver Arthur ali. Tomás havia dito que ele não estaria presente, contudo de alguma forma Alice deveria ter convencido ele de que todos os padrinhos deveriam comparecer ao jantar.

Ao crescer com Tomás, ele conhecia muito bem como o Arthur poderia ser. Em tantas festas de família ao longo dos anos, ele já havia ouvido todo o repertório, sejam histórias reais, exageradas ou mesmo inventadas. Talvez se Sofia derrubasse alguma bebida em Arthur, ele parasse de falar tanto, pensou de forma maldosa e não pode evitar sorrir. Vivian, vendo o sorriso, acreditou que era pelo que tinha comentado e redobrou os esforços em fazê-lo sorrir ainda mais. Ele não era um homem dado a sorrisos, sempre tinha um semblante sério e de vez em quando deixava transparecer algum sorriso irônico.

— Alguém está se divertindo hoje — Tomás perguntou a Gabriel. Vivian havia se retirado para o toalete e Tomás tomou o lugar dela brevemente.

— Não se engane pelo sorriso, pensei que Arthur não estaria aqui.

— Alice — Tomás limitou-se a dar de ombros.

— Eu percebi a organização de lugares meticulosa.

— Qualquer reclamação deve ser levada diretamente à organizadora — Tomás respondeu e apontou para a noiva que conversava com os amigos da faculdade.

— Há coisas piores do que lidar com o Arthur. — O semblante de Gabriel escureceu.

— Os resultados dos exames já saíram? — Tomás questionou.

— Ainda não, prazo de 15 dias.

— Cara, você sabe que vai dar tudo certo.

— Não, eu não sei, esse é o problema.

— Mas eu sei.

— O que vai dar tudo certo? — Eric foi buscar Samanta na porta, que chegou após o jantar, e voltou para onde os amigos estavam. Os outros ficaram de pé para receber o casal e continuaram com a conversa após os cumprimentos.

— Gabe está com dificuldade de lidar com as atividades de padrinho — Tomás desconversou. Eric conhecia um pouco das angústias de Gabriel, assim, como Tomás, mas nenhum deles queria a participação de Samanta em um assunto tão sério.

— Relaxa, casamentos são para conhecer pessoas — Samanta tentou tranquilizá-lo. — E você sempre foi muito bom nisso pelo que eu ouvi falar.

— O problema não é conhecer, é manter os relacionamentos em andamento. — Eric esclareceu.

— Prefiro a minha liberdade — Gabriel contrapôs. — E minha sanidade.

Todos riram. Gabriel pediu mais uma rodada de bebidas à garçonete tão solícita e voltou a provocar os amigos comprometidos com a sua boa vida de solteiro.

Após as 23hs, o restaurante, onde antes tocava uma música ambiente baixa, começou a transformar o seu espaço para um bar mais animado com música alta. Com o mobiliário já afastado, até alguns clientes saíram de suas mesas para dançar em frente a cabine de som e luzes. Vendo Sofia sozinha próxima a pista de dança improvisada, Gabriel resolveu se aproximar. Ele ainda tentava entendê-la. Algo nela o fazia se sentir mais vivo. Toda vez que a provocava era como uma injeção de adrenalina. Provavelmente era a rejeição e a emoção da conquista. Ela não corria atrás dele como as outras e isso era desconcertante e revigorante ao mesmo tempo.

— Vejo que esta noite não teremos acidentes.

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