Prólogo

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 — Você deve tomar cuidado com as castanhas, sabia?

— É mesmo? — A moça estava bebericando seu drink calmamente, enquanto comia algumas castanhas do potinho ao lado e observava o movimento do bar.

O bar era um ambiente escuro, com um estilo um tanto hipster, misturando o moderno e o clássico de uma forma alternativa e diferenciada. Painéis de madeira clara e nodosa estavam presentes nas paredes e no bar, contrastando com os móveis em couro escuro e a bancada em granito preto. Era diferente do que ela estava acostumada, porém era onde o seu mais recente namorado havia combinado de encontrá-la. Ela estava um pouco arrumada demais para o local, mas quem sabe ele não criaria vergonha na cara e a levaria a um restaurante mais sofisticado para jantar. Seus saltos agulhas já estavam começando a machucar seus pés, ainda que estivesse sentada em uma banqueta alta de madeira. Esta também não era nada confortável, sem um encosto alto em que ela pudesse relaxar suas costas. Aliás, cada banqueta era de um modelo diferente e nenhuma delas parecia mais agradável do que a outra. Sim, ela não estava feliz ali. Na verdade, ela estava cansada de ficar tantas horas em pé no trabalho e só queria uma noite tranquila, não era pedir muito.

O jovem, em estilo um tanto nerd, com óculos de aros grandes e ombros um pouco curvados continuou falando com ela.

— Elas têm uma grande quantidade de selênio e esta substância quando consumida acima do limite, pode ser tóxica.

A moça riu do comentário do jovem. Esse era o jeito de ele conquistar uma garota? Ele até que era bonitinho com o seu cabelo moreno desarrumado e sua camiseta listrada.

— Quem diria que essa pequena castanha seria tão mortal — Ela gracejou pegando uma na mão.

— Ah! Ela não vai te matar, só provocar algumas dores de estômago. — O jovem explicou sem graça.

Ele estava claramente sem jeito diante de uma mulher tão bonita. Seus olhos castanhos brilhantes e seu sorriso eram impressionantes. Ele nem sabia como ele teve coragem de puxar conversa com ela.

— Pensei que esse seria o efeito do álcool. — Ela sorriu.

— Depende da quantidade ingerida também.

Touché — A moça respondeu e terminou seu drink de uma vez só. Chamou o garçom e pediu mais uma rodada. O jovem continuava tentando.

— Posso pagar essa rodada para você?

Ela deu de ombros. Quem não quer uma bebida grátis? Enquanto seu namorado não aparecia, ela poderia se entreter com esse nerd engraçadinho.

— Então, onde você aprendeu informações tão valiosas como a das castanhas?

— Eu estudo farmácia. Ainda estou no meio do curso, mas já aprendi coisas bem legais. Química é incrível.

— Tipo fazer bombas?

— Não exatamente — ele riu — coisas com mais utilidade como não misturar remédios.

— Então você não quer explodir ninguém? — A moça perguntou inocentemente.

— Não.

— Nem mesmo uma ex-namorada? — Ela insistiu.

— Eu nunca tive uma.

— Puxa, precisamos mudar isso logo.

Os olhos do jovem brilharam ao pensar que ela estava lhe fazendo um convite direto. Ele ainda tinha muito que aprender sobre a arte de seduzir.

— E você aprendeu a fazer drogas também? — A moça perguntou.

— Impossível não é, mas eu gostaria de trabalhar do lado certo da lei. Você ficaria impressionada com o que se pode comprar facilmente em farmácias e ser perigoso para o corpo humano.

— Nunca mais vou enxergar uma farmácia da mesma forma. Agora vou pensar em drogas, bombas e substâncias mortais.

Os dois riram juntos e bebericaram seus drinks. A diferença entre sedutor e seduzido não ficava explícita para quem observava os dois de longe. O único fato evidente era que o nível das bebidas nos copos baixava rapidamente, rodada após rodada.

— Então, querido — a moça colocou sua mão na dele que estava em cima da mesa — é possível comprar selênio nas farmácias também ou só encontrá-lo nas castanhas?

— Não, tem em cápsulas. Alguns médicos recomendam para pacientes com déficit de vitaminas. Mas eu não sou médico.

— Selênio não precisa de receita se é só uma vitamina. — a voz da moça não deixou claro se era uma pergunta ou uma afirmação, contudo ele respondeu mesmo assim.

— Não.

— Então, você não precisa ser médico. Quando você tiver uma ex-namorada que não goste, poderá enchê-la de selênio. — A moça sugeriu sorrindo.

— Ela ficaria algumas horas no banheiro.

— Viu só, todo mundo pode ter um lado vingativo. — Ela piscou para ele.

— Eu não sou assim, sou mais comedido — Ele sorriu sem jeito.

Mas ela era. Depois de algumas horas naquele bate-papo, ela percebeu que seu namorado, o qual em breve se tornaria ex, não iria aparecer mesmo. Pelo menos, ela não podia reclamar tanto assim. A noite havia sido divertida e ela aprendera um bocado com o estudante de farmácia. Ela tinha até passado seu número para ele. Talvez sua sorte estivesse prestes a mudar. Ela já tinha um plano a executar.

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